Gastronomia
Às cocadas de Dona Gleide de Sergipe e ao senhor Vilenor, com carinho
Sergipe homenageará catadoras de mangaba e cozinheiras de cocada do Estado na AbavExpo51 em Brasília.
Cozinheiras, modos de fazer, a ancestralidade de receitas típicas nordestinas como a cocada, o beiju, e derivados da mangaba serão parte das homenagens que o Estado de Sergipe fará em seu stand na 51ª ABAV EXPO que acontecerá em Brasília entre os dias 25 a 28 de setembro. As cocadas que fazem parte do imaginário gastronômico da culinária brasileira e sua influencia de imigração estarão disponíveis para degustação durante os dias do evento.
Identidades e ancestralidade
A receita simples, de poucos ingredientes, diz muito sobre a ancestralidade da culinária nordestina, principalmente em seus modos de fazer, muitas vezes originados na miscigenação cultural entre povos escravizados, imigrantes, ou ainda grupos marginalizados. Como é o caso da “Queijada de São Cristovão”, receita portuguesa tradicionalmente feita com queijo e que foi adaptada por pessoas escravizadas, sem este ingrediente então “nobre”, e que hoje se perpetua no turismo gastronômico da cidade em lugares como a Casa da Queijada.
A inventividade da culinária Brasileira
Foi em São Cristóvão também, mais especificamente no povoado de Ilha Grande que pude conhecer a receita ancestral do beiju de Dona Madalena, feita simplesmente com farinha de tapioca, coco e sal. Foi um encontro emocionante de descobertas gastronômicas em sua genuinidade. A origem do que comemos, os porquês e tantas outras respostas para questões que naquele momento nem mesmo eu tinha, estavam ali.
Culinária no documentário
A visita a casa do Dona Madalena me rendeu um mini documentário, chamado “Dona Madalena – a receita ancestral do beiju”, disponível gratuitamente no youtube. O mini documentário foi apresentado no Seminário de Turismo Gastronômico de Sergipe em 2022, quando tive a oportunidade também de contar sobre minhas andanças gastronômicas pelo Brasil. Dona Madalena na plateia me deixou completamente emocionado.
De São Cristovão, primeira capital de Sergipe, à pequena cidade de Indiaroba onde fui apresentado por uma grande entusiasta do turismo gastronômico do Estado, Léa Duarte, a Dona Gleide e seu marido, o sr. Vilenor. No pequeno e rústico fogão à lenha, um panelão de cubos de coco e açúcar ferviam enquanto conversávamos sobre as tradições daquela simples receita, passadas de mães para filhas, por gerações. O fogão orgulhosamente criado por Sr. Vilenor, que, com seu sorriso tranquilo, tinha a função “de acompanhar sua esposa no que precisasse” – era o que dizia.
Dona Gleide mexia o panelão e me ensinava o ponto certo da cocada. – vai errar não, né? – insistia. A frase que mais me marcou nesse dia foi ela com todo carinho me dizer: – eu amo o que eu faço, eu amo minhas cocadas. Felizmente pude registrar esse momento num pequeno vídeo (reels) disponível no instagram @paespelomundo.
O projeto das catadoras de mangaba e também das cozinheiras de cocada do estado de Sergipe é uma reverência a ingredientes e receitas que são patrimônio imaterial do estado. A simplicidade da receita zela a história de dor e conflitos de povos escravizados, de pequenos produtores, de comércio popular e suas riquezas fartas e marginalizadas.
Homenagear o trabalho dessas pessoas “anônimas” para alguns num dos maiores eventos de Turismo da América Latina reitera a grandiosidade do prestigio que Sergipe dá ao turismo do estado, sempre com stands lindíssimos representando todas as suas riquezas naturais, culturais e gastronômicas.
O Sr. Vilenor, que tanto se orgulhava de ter feito o fogão a lenha, de estar casado há mais de 40 anos, e acompanhar a Dona Gleide nas cocadas, esta semana nos deixou. Ele era aquele típico senhor do interior sentado na beira da calçada, cuidando do passarinho, esperando o almoço, cumprimentando os vizinhos. Desculpe se também descrevi meu avô, enquanto me encho de saudades. A coluna de hoje é também uma homenagem aos nada anônimos Dona Madalena, Dona Marieta, Dona Gleide e ao Senhor Vilenor, com todo o meu carinho.
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Viajar pelo Brasil é muito mais que turismo, muito mais que gastronomia. É entender mais uma vez que o turismo é feito de gente para gente! Bravo, Sergipe! Bravo!
Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia. Apresentador de TV no canal Travel Box Brazil. Está nas redes sociais como @paespelomundo. Press contato@paespelomundo.com.br
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