Turismo gastronômico em Belo Horizonte ganha força com Menuuh
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Gastronomia

Curadoria do Menuuh em Belo Horizonte mescla turismo, gastronomia, patrimônio cultural em experiências e reafirma “Ainda estamos aqui”

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Macarrão com Tutu do Roça Grande, uma das experiências gastronômicas do Menuuh (Foto Thiago Paes @paespelomundo)

Você já percebeu que muitas vezes a gastronomia está dissociada do turismo? E que ambos são complementos um do outro? Poucos movimentos tenho visto pelo Brasil que estabeleça uma fusão genuína entre esses dois setores que movimentam a economia do país. As premiações gastronômicas pouco ou quase nada falam de turismo. Turismo Gastronômico ainda é algo que está preso no imaginário comum brasileiro como um tour rural, onde vai se conhecer o artesanato, pequenos produtores, lugares bucólicos. As vezes é necessário lembrar que não é só isso. Turistar por Belo Horizonte, a partir da curadoria do Menuuh, prova que a fusão de boa comida, arte e experiências pode ser um surpreendente caminho do turismo gastronômico brasileiro.

Café da manhã no Copa Cozinha, entre receitas caseiras e histórias do interior (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Viajar e comer bem têm tudo a ver. E por mais que os envolvidos saibam disso, pouco se apresentam dessa forma. Parece que falar “turismo gastronômico” diminui o conceito, o glamour, a posição. Talvez porque vemos diferentes o turismo pelo Brasil do turismo pela França, Itália, ou Peru, por exemplo. Nesses países, conhecidos pela boa gastronomia, fazer turismo gastronômico é sinônimo de status, de vanguarda. O Vale du Loire, a cidade de Bolonha ou a Plaza de las Armas tem muito em comum com muitas regiões brasileiras que podem e devem se apropriar dessa construção e criar novas narrativas para si, resgatando histórias, espaços, sabores, saberes.

Raízes da resiliência. Um passeio pela premiada Rádio Favela e pela Cerâmica Santana (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

O Menuuh

O Menuuh de Belo Horizonte é um tour com a curadoria da Belotur e Sebrae que resgata a história da própria cidade, repleta de arte, arquitetura, musicalidade e boa gastronomia. É uma ideia simples e com comprometimento com a trajetória de um lugar que tem como patrimônio os bares nas calçadas, a comida de panela, os encontros com os amigos para prosear, seu patrimônio urbanístico, os movimentos musicais, as fontes de saberes genuínos como o processo de fabricação da cachaça, dos queijos, hoje reconhecidos pela UNESCO com patrimônio imaterial da humanidade.

Terraço Acaiaca e as paisagens urbanas da cidade (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

O Brasil dentro de Belo Horizonte

Um passeio por Belo Horizonte é uma viagem pelo Brasil, não fosse Brasília a capital federal, quem sabe o centro do país estaria por aqui. Isso porque Beagá tem sabor de nordeste, belezas cariocas, concretismo paulista, cotidiano centro-oestino, praias capixabas. Os momentos turi-gastronômicos vão acontecendo nos restaurantes, praças, prédios, mercados, bares que contam a história das ruas, das pessoas; resignificando regiões como o centro da cidade, o entorno do Mercado Central. Lembrando momentos únicos da nossa história como no passeio pela casa de Juscelino Kubistchek.

Casa Palma. Obras do Artista Fernando Palma e outros (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

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O Munuuh nos leva a uma imersão cultural pela arte da liberdade na Casa Palma, por exemplo. A história do cirurgião que se tornou artista plástico vai despertando a curiosidade a cada obra, a cada manuscrito, como um Ser que na sua espiritualidade conseguiu enxergar sua missão, sua entrega por meio da arte. E ainda provoca o seu “eu artista”. Todos nós o temos! Mesclando pincéis, tecidos, dizeres. Um momento muito interessante num mundo tão tecnológico, midiático, digital, fugaz.

Gastronomia e Cultura no Armazém Roça Grande (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Outra vivência foi pela Chef Mariana Gontijo e seu macarrão com Tutu. Não imaginaria que uma comida que eu provava na infância seria a principal referência das festas de Reisado. Uma das festas que mais gostava de ver nas ruas do bairro onde nasci. Aqueles homens dançando com estandartes coloridos e adereços na cabeça fazem parte de um momento lúdico de minha vida. Foi lindo sentir a emoção do que é cozinhar como algo que se doa ao outro, satisfazendo-o, felicitando-o. A arte de cozinhar como um ritual capaz de contar muitas histórias. E o que é o legado da vida senão uma contação de histórias que ficam? A cozinha da chef Mariana, do Roça Grande é simples e deslumbrante por tudo isso.

Museu das Reduções (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Entre experiências inspiradoras de Beagá, uma me chamou bastante atenção pela devoção pela arquitetura, pelos patrimônios urbanísticos. O Museu das Reduções é uma obra prima para aqueles que com singela sensibilidade captam a importância do lugar que recriou prédios históricos para educar sobre patrimônio. Educação patrimonial é um luxo que precisa ser democratizado, principalmente num país que assistiu atônito seu principal acervo patrimonial ser depredado há inesquecíveis dois anos.

Turismo gastronômico em Belo Horizonte através do Menuuh

Galinhada no Restaurante Paladino (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

A curadoria do Menuuh conta com 19 vivências para que você se sinta “um local”, como quem sabe um almoço no Bar da Lora e provar o pescoço de peru; A galinhada repleta de ensinamentos sustentáveis no Paladino; ou um passeio pelo Mercado Central entre doces de leite da Melaço com queijos das 10 regiões produtoras de queijo artesanal do estado. As receitas do Copa Cozinha levam todos a mesa, uma calmaria em tempos de correrias. Ou ainda, uma peregrinação musical pela vida e obra dos integrantes do Clube da Esquina, movimento musical que inovou na musicalidade brasileira e representa tanto para nossa arte até hoje.

Bolinho de Angu, restaurante fazenda Paladino (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Não é nada revolucionário ter uma curadoria que nos guie por lugares interessantes e gastronômicos da cidade. Mas de certo, é um passo a mais na definição do Turismo Gastronômico que queremos. Diante de tamanhos desafios que muitas vezes nos colocam à margem da valorização da nossa própria história, precisamos olhar para nós mesmos, nossos pratos, nossos insumos, nosso patrimônio urbanístico, nossa arte e gastronomicamente dizermos para nós mesmos e para o mundo “Ainda estamos aqui”. Viva Beagá. Bravo, Menuuh, bravo!

Thiago Paes é colunista de Turismo & Gastronomia. Esteve em 35 países e quase todos os estados do Brasil provando os sabores do mundo. Está nas redes sociais como @paespelomundo. É apresentador no canal de TV Travel Box Brazil. Press: contato@paespelomundo.com.br

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.