Sergipe traz cozinha a base de cactos na WTM Latin America
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Gastronomia

Sergipe apresenta a cozinha a base de cactos do chef Timóteo como atrativo turístico e gastronômico na WTM Latin America

De Canindé de São Francisco para o mundo: as receitas com cactos atraíram milhares de curiosos para o estande do estado.

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Estande do Peru apresenta atrações como o Machu Pichu e a culinária andina (Foto: divulgação WTM)

Como chamar atenção de um público especializado, repleto de referências, que viaja pelo mundo todo? Esse é um desafio para os expositores de uma das maiores exposições do turismo, a WTM Latin America. Os estandes nesses eventos especializados estão cada vez mais digitais, mais tecnológicos. Então como levar a universalidade do sertão, as belezas naturais do Nordeste? Sergipe mais uma vez acerta em investir na gastronomia como atrativo turístico e leva um pedacinho do Brasil para mais de 30 mil profissionais do turismo que passaram pelo evento.

Do Machu Pichu para a Caatinga

Quem há alguns anos sabia o que era ceviche, lomitos saltados, patacones, quinoa e outras iguarias andinas que um país “lá longe da América do Sul” apresentava para o mundo por meio de seus chefs de cozinha, festivais gastronômicos e outras ações importantes de propagação de sua identidade como atrativo turístico? Tenho certeza que você já sabe que estou falando do Peru.

Estande do Peru apresenta atrações como o Machu Pichu e a culinária andina (Foto: divulgação WTM)

O Peru é um exemplo emblemático de como um país pode se projetar internacionalmente por meio de sua culinária. Embora o Peru seja o berço mais reconhecido do ceviche, outros países latino-americanos também possuem suas versões, como o Equador onde é servido mais líquido e com camarão cozido, ou no México onde traz na receita abacate, ou ainda no Chile onde é feito com outros peixes locais. A contemporânea cozinha peruana apresenta o ceviche de forma simples: peixe branco cru marinado em suco de limão ou lima, temperado com cebola roxa, pimenta, sal e coentro. Receita que ganhou o mundo e hoje continua sendo apresentada em todas as feiras de turismo.

Estande da Bahia traz acarajé e outras iguarias da culinária baiana (Foto: divulgação WTM)

A comida é uma forma de tocar o público em muitos sentidos. É difícil você levar toda a fascinação que é estar no Machu Pichu para um evento em Londres, ou toda a emoção que é estar de frente para o Cristo Redentor para uma feira na Alemanha. Mas a gastronomia tem o poder de ultrapassar fronteiras, de encher os olhos de quem vê chefs locais cozinhando produtos que até então são desconhecidos. Os estandes que apresentam sua culinária estão sempre cheios de curiosos querendo provar o cupuaçu da Amazônia, o barreado de Morretes, a mortadela de São Paulo, e assim o ceviche peruano ganhou o mundo.

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É preciso que os secretários de turismo, como gestores públicos, aproximem o turismo da gastronomia, esta que é um atrativo emocional, que chega até o público final mais facilmente, e melhor, é uma promoção que continua a se reproduzir sozinha quando a receita, apresentada num evento como a WTM, é reproduzida nos restaurantes, nas casas das pessoas.

Estandes latino-americanos apostaram na gastronomia local (Foto: divulgação WTM)

Xiquexique, mandacaru, palma e outros cactos

Originários da caatinga, bioma exclusivo do Brasil, os cactos não são apenas símbolo de resistência e adaptação ao clima semiárido — eles também vêm sendo redescobertos como ingredientes nutritivos, sustentáveis e versáteis em muitas receitas. O destaque vai para o xiquexique, mandacaru e a palma, variedades comestíveis que vêm sendo utilizadas em pratos doces e salgados. Mais do que ingredientes, os cactos representam uma conexão com o território, a cultura sertaneja e o saber popular.

Imagine um turista estrangeiro experimentando, pela primeira vez, um cozido sertanejo com cacto e caranguejo, ou uma sobremesa feita com flor de mandacaru. É uma experiência única, genuína e que conta a história de um Brasil profundo, criativo e resiliente.

Corredores da WTM Latin America (Foto: divulgação WTM)

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Uma paisagem despida de excessos, mas repleta de sentido

A aposta de Sergipe na promoção dos cactos como identidade gastronômica mostra como ingredientes locais podem se tornar embaixadores culturais e ferramentas poderosas de desenvolvimento turístico, sobretudo em regiões que historicamente estiveram à margem dos roteiros convencionais.

Sergipe deu um show com o showman que é o Chef Timóteo Domingos. O Rei dos Cactos apresentou receitas que incluíam outros ingredientes da culinária sergipana, como o caranguejo. Apresentar com orgulho um ingrediente tido como tão simples e muitas vezes ignorado pela gastronomia é o suprassumo do reconhecimento da fortíssima identidade cultural que o sertão tem para mostrar ao mundo. E os cactos não estavam sozinhos, além do chef Timóteo, a cidade de Canindé de São Francisco, o secretário municipal de Cultura Hélcio Eduardo, Léa Duarte (uma das maiores entusiastas do turismo gastronômico da região), além de toda a equipe de promoção do turismo do estado.

Estande de Sergipe com diversos atrativos além da gastronomia (Foto: divulgação WTM)

Da caatinga para o mundo

João Cabral de Melo Neto, em “Morte e Vida Severina”; Graciliano Ramos, em “Vidas Secas”; Euclildes da Cunha, em “Os Sertões” trouxeram o cacto como cenário de paisagens despidas de excessos, mas repletas de sentido. Agora chegou a vez do Turismo Gastronômico levar esse Brasil único para o mundo provar. É olhando para dentro que a gente se diferencia. O mundo merece conhecer a caatinga! Bravo, Sergipe! Bravo!

Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia. Consultor e palestrante em turismo gastronômico. Apresentador de TV no canal Travel Box Brazil. Está nas redes sociais como @paespelomundo. Press: contato@paespelomundo.com.br

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