Turismo não pode acontecer a qualquer custo: o caso da brasileira no vulcão da Indonésia - Uai Turismo
Conecte-se conosco

Opinião

Turismo não pode acontecer a qualquer custo: o caso da brasileira no vulcão da Indonésia

O turismo não pode acontecer acima dos limites da segurança

Publicado

em

O caso de Juliana Marins escancara diversas questões levantadas há anos por profissionais do turismo, mas que são negligenciadas em prol de um “dinheiro fácil”. (Foto: Reprodução Instagram @resgatejulianamarins)

No último sábado (21), a brasileira Juliana Marins, de 26 anos, sofreu uma queda enquanto realizava uma trilha no Vulcão Monte Rinjani, na Indonésia, desde então seu resgate tem sido aguardado com grande expectativa por todo o Brasil. O local da queda da turista, somado às condições climáticas da região, são colocados como os principais motivos para o atraso do salvamento da jovem. Entretanto, desde o primeiro dia o resgate vem levantando dúvidas e preocupações. Segundo a família de Juliana, o governo da Indonésia compartilhou falsas informações sobre ter dado água, comida, agasalhos e até realizado um possível resgate.

Desde o início do compartilhamento de informações sobre o paradeiro de Juliana nas redes sociais, familiares e amigos têm feito o possível para solicitar que o governo brasileiro pressione autoridades da Indonésia para que o resgate seja realizado. Foi criado um perfil no Instagram para compartilhar informações oficiais apuradas pela família, buscando diminuir o número de notícias falsas. 

LEIA TAMBÉM: Viagem: Curiosidade acima dos limites

A Agência Nacional de Busca e Salvamento da Indonésia (Basarnas) informou que ela foi localizada, com a ajuda de um drone com sensor térmico, às 7h05 desta segunda-feira, no horário local (20h05 de domingo, na hora de Brasília). 

O Itamaraty informou, em nota: “Desde que acionada pela família da turista, a embaixada do Brasil em Jacarta mobilizou as autoridades locais, no mais alto nível, o que permitiu o envio das equipes de resgate para a área do vulcão onde ocorreu a queda, em região remota, a cerca de quatro horas de distância do centro urbano mais próximo. O embaixador do Brasil em Jacarta entrou pessoalmente em contato com o Diretor Internacional da Agência de Busca e Salvamento e com o Diretor da Agência Nacional de Combate a Desastres da Indonésia, e tem recebido das autoridades locais os relatos sobre o andamento dos trabalhos. Dois funcionários da embaixada deslocam-se hoje para o local com o objetivo de acompanhar pessoalmente os esforços pelo resgate, que foi dificultado, no dia de ontem, por condições meteorológicas e de visibilidade adversas.”

Turismo de Aventura: atenção redobrada

Uma das grandes críticas levantadas pela família é o despreparo e a lentidão da equipe de resgate. “Lento, sem planejamento, competência e estrutura!”, afirma um post nas redes sociais. As informações desencontradas também aumentam o desespero sobre o paradeiro de Juliana. Há relatos de que a turista estava sozinha quando aconteceu a queda, enquanto outros afirmam que o guia estava por perto durante esse momento. Em entrevista a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Mariana Marins, irmã de Juliana, criticou a venda da atividade para turistas comuns, quando deveria ser informada a dificuldade da trilha. 

LEIA TAMBÉM: Morte de turista no Cristo Redentor escancara necessidade de estruturação no turismo

“Eu já fui em alguns vulcões, inclusive na Indonésia, e posso dizer: não é uma expedição pra qualquer um. Infelizmente as agências não orientam corretamente e não dão o devido suporte.”, informou um internauta pela rede social X. O post recebeu diversos comentários de outros internautas compartilhando experiências similares e também comparações com outras vivências em que foram melhor informados pelas agências contratadas. 

Quem pratica turismo de aventura, como o próprio nome sugere, está em busca de uma aventura. É comum esperar que aconteçam pequenas quedas e até mesmo “um arranhão para recordar”. Entretanto, mesmo quem procura adrenalina e frio na barriga, precisa ter certeza que a prática está acontecendo da maneira mais segura possível, com os equipamentos necessários, profissionais capacitados e, principalmente, com um verdadeiro exame de consciência para saber se realmente está preparado para realizar a atividade. A vontade de realizar um passeio, ver uma paisagem e ter uma história para contar não pode passar por cima da segurança.

Mas o turista não pode ser o único responsabilizado. Agências que vendem serviços sem estarem devidamente preparadas precisam ser severamente penalizadas. A estruturação e regulamentação de empresas de turismo é fundamental para evitar que profissionais não qualificados promovam atividades que coloquem tantas vidas em risco. Quem lida com turista, lida com sonhos e vidas. É uma atividade complexa que precisa receber a devida atenção. 

A informalidade gera uma bola de neve. Por meio de serviços capacitados, é possível que haja um preparo maior de equipes focadas em realizar resgates em caso de incidentes. Afinal, fatalidades acontecem em todas as práticas, mas muitas situações podem ser evitadas com o devido preparo. No Brasil, a ABETA, em conjunto com o Ministério do Turismo e com o Sebrae Nacional, realizou o programa Aventura Segura, como forma de garantir a segurança dos praticantes de turismo de aventura no país. 

LEIA TAMBÉM: Acidente de balão: turismo em alta exige profissionalização para garantir sustentabilidade no setor

Os diversos acidentes envolvendo a prática de turismo de aventura nos últimos dias não são reflexos de pessoas que estão “procurando razões” para se acidentar, são reflexos de uma visão alineada sobre o turismo, que não compreende a prática com a seriedade que deveria. Tanto do vendedor, que se aproveita da ingenuidade do turista que quer vivenciar uma experiência, quanto do turista, que precisa aprender a fiscalizar muito bem a agência e o guia escolhido, além de compreender se realmente está apto para realizar a atividade. 

O caso de Juliana Marins escancara diversas questões levantadas há anos por profissionais do turismo, mas que são negligenciadas em prol de um “dinheiro fácil”. O turismo precisa ser estruturado, regulamentado e alinhado. Se a prática turística acontece em um lugar de difícil acesso, as autoridades locais precisam garantir que seja feita de uma forma segura e, principalmente, que o resgate seja possível. 

É sempre importante reforçar: nem tudo precisa ser turismo.

Siga o @portaluaiturismo no Instagram e no TikTok @uai.turismo

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.