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Cultura e Turismo

Cultura, a matéria prima do turismo

Entenda como a sinergia entre cultura e turismo são capazes de impactar, influenciar e contribuir para a economia do Brasil.

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A sinergia entre cultura e turismo (Foto: Ubiraney Figueiredo)

No início dos anos 2000, finalmente aconteceu a implantação da Secretaria de Estado de Turismo em Minas Gerais, dando ao estado, a oportunidade de se organizar neste segmento, com mais força, mais lógica e com rumos definidos para um processo de desenvolvimento e diversificação da economia por força de uma enorme cadeia produtiva, que não se percebia claramente, como parte do processo de fomento econômico.

Na sequência, com o novo órgão já mais estruturado, o governo de Minas, apoiou vigorosamente a permanência da estruturação do Destino Estrada Real, um marco do fomento turístico para Minas Gerais, que naquela época pensava em mobilizar no mínimo 162 municípios, com vocações turísticas definidas ou não, para que se organizassem administrativamente ao longo do traçado de aproximadamente 1600 km, nos caminhos que ligavam o município mineiro de Diamantina aos municípios de Paraty e a capital do Estado do Rio de Janeiro.

É fato que, o que embalou o desenvolvimento do novo destino, foram os aparatos técnicos que foram empregados à época, a brilhante mobilização que foi feita por um órgão gestor, criado em 1999 especialmente para esta finalidade e principalmente, os atributos históricos e culturais contidos em todo este território mapeado.

Desde os ofícios dos mais rudimentares até as mais ricas e tradicionais manifestações culturais conhecidas em Minas Gerais, que dão voz à cultura popular, enchem os olhos de quem consome e geram oportunidades de trabalho e geração de renda ainda que informalmente, constituiu-se um cardápio vigoroso da produção cultural mineira e carioca e naquele momento, foi exatamente isso, que embalou a compreensão e a rápida ascensão da Estrada Real como o grande destino do Brasil naquele momento.

O papel fundamental da produção cultural no turismo

Trago este exemplo, porque naquela época já atuava no planejamento e gestão da atividade turística regionalizada, como Presidente da Associação do Circuito do Ouro, antes mesmo do Programa de Regionalização do Turismo ser implantado no país, pelo Ministério do Turismo, fato que aconteceu em abril de 2004.

Para mim, naquela época já era evidente, que a produção cultural, em qualquer nível, tinha um papel fundamental no processo de fortalecimento e desenvolvimento do turismo como atividade econômica em qualquer parte do mundo. Isto sem menosprezar os grandes atributos naturais e os belíssimos equipamentos já instalados e que já eram também responsáveis por uma fatia importante do fluxo turístico em toda parte.

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No entanto, mesmo com toda minha compreensão simplória naquela época sobre tudo isso, ficava muito irritado, quando a teimosia de muitos gestores, com visão retrograda e com ares de coronelismo, insistiam em desprezar a produção cultural, afirmando que “cultura não tinha nada a ver com turismo” e que por isso, não merecia investimentos diretos.

E olha, que ouvi isso, muitas vezes, em mesas de avaliação de projetos culturais da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, cheia de intelectuais, quando representava a Associação dos Músicos de Minas Gerais, como analista da Comissão Técnica. Muitas vezes, quando ingenuamente, sugeria investimentos em projetos que citavam destinos turísticos como palco e que utilizavam da produção cultural, enriquecendo os calendários de eventos regionais, como instrumento para aumento de fluxo de visitantes, ouvia das lideranças da época que “quem quisesse fazer turismo, que buscasse recursos naquela Secretaria”, como se o orçamento do estado não fosse um só!

Foto: Ubiraney Silva

Aquilo me deixava furioso e ao longo de minha carreira na gestão pública, sempre me dediquei a instrumentalizar todos os órgãos onde atuei, criando amparo legal, administrativo e garantindo investimentos, para que a produção cultural, por mais simples que fosse a manifestação trabalhada, pudesse figurar nos calendários de eventos, como oferta para atração e aumento de fluxo de visitantes.

Pois vocês acreditam, que 20 anos depois, ainda ouço por aí falas descompassadas, afirmando que “turismo é turismo e cultura é cultura, uma coisa não tem nada a ver com a outra”!

Definição de turismo pela OMT

Cansado de ouvir estas sandices, recorri ao órgão máximo do turismo a OMT – Organização Mundial do Turismo e lá vi claramente que, “o turismo é um fenômeno que compreende três dimensões: social, cultural e econômica. Sua prática está associada ainda com todas as atividades que os visitantes, chamados de turistas, realizam na localidade de destino, o que inclui a movimentação financeira.

Fiquei mais calmo e sosseguei já que podíamos tranquilamente classificar uma forma de prática como o turismo cultural, uma vez que bastaria o desejo de se conhecer a arte, o povo ou até mesmo a história de um lugar, simples assim.

Pois bem, para não ficar sozinho na defesa desta tese, onde de fato, a atividade cultural abastece a atividade turística, fui à cata de opiniões de gestores brasileiros dos dois segmentos. Ouvi tanto quem promove cultura, como os gestores de entidades, os fazedores de cultura, quanto de quem utiliza dos atributos culturais, para dar ainda mais movimento e força econômica à atividade turística, os agentes de fomento turístico.

O que gestores que promovem a cultura pensam sobre sua relação com o turismo?

Leandro Leite

Para Leandro Leite, Presidente da Corporação Musical União Itabiritense, uma das vigorosas bandas de música de Itabirito em Minas Gerais, “É interessante refletir e ponderar a importância do trabalho da produção cultural quando estamos envolvidos em um projeto, indiferente do tipo. A expertise que os profissionais da área têm, são diferenciais para que logremos êxito ou não em um projeto e a relevância que a produção cultural tem, pois irá orientar e direcionar os melhores passos a serem executados e a melhor forma de atuação. Devemos sempre levar em conta que tais projetos geram além de vários empregos, renda e outros itens não mensuráveis. Volto a reforçar a necessidade e importância de uma boa produção com amparo dos seus profissionais, para que mais projetos sejam alavancados e que façam mais a diferença para toda uma cadeia que está ligada diretamente a área cultural e diversificando cada vez mais a economia e o turismo de várias regiões do nosso país.”

Filipe Nolasco

Em outra vertente, para o jovem professor e maestro Filipe Nolasco, Doutor em Música pela UFMG e Coordenador Executivo e Gestor Cultural da Associação Cultural Coral Os Canarinhos de Itabirito, um dos mais renomados grupos corais de Minas Gerais, “a produção cultural, entendida como transversal e que contempla diversas linguagens artísticas, em minha opinião é o grande vetor para o impulsionar a cadeia turística no país. Nos tempos atuais, já não se concebe mais um turismo que não seja criativo, participativo e que promova experiências marcantes e significativas para aqueles que circulam entre as regiões do país. Neste aspecto, é fundamental que a produção cultural esteja alinhada com a nova tendência do turismo de base comunitária, com a economia criativa e que promova de fato um encontro entre aquele que visita e a cultura e a comunidade local que o recebe. Aqui, está de fato o encontro que é potente e torna a produção cultural também responsável por um turismo que seja sustentável, dinâmico e ao mesmo tempo rentável e transformador.

Leandro Henrique Dantas

Reforçando as opiniões dos agentes culturais, para Leandro Henrique Dantas, Professor e Maestro, Mestrando em Ciências Fonoaudiológicas pela Faculdade de Medicina da UFMG, com foco em Saúde Funcional em voz e desempenho comunicativo, também pós-graduado em Coaching Vocal pela Formação Integrada em Voz – FIVc3 do CEV e graduado em Licenciatura em Música/Canto pela Universidade Federal de Ouro Preto, a sinergia entre a cultura e o turismo, impacta, influencia e contribui para o fomento econômico de qualquer região.

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Segundo Dantas, “O Brasil, um país de dimensões continentais, é um mosaico de culturas que se manifesta em uma variedade impressionante de formas artísticas, tradições e expressões. Esta riqueza cultural não apenas define a identidade nacional, mas também desempenha um papel crucial no fomento do turismo, um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira.

A produção cultural brasileira, com suas múltiplas facetas, constitui um importante chamariz para turistas nacionais e internacionais. Eventos como o Carnaval do Rio de Janeiro e a Festa de São João no Nordeste atraem milhões de visitantes anualmente, gerando significativa receita econômica e promovendo a imagem do Brasil globalmente. Além de ser um atrativo em si, a cultura influencia profundamente a experiência turística. Ela proporciona aos visitantes uma imersão genuína na vida e nos valores locais, permitindo uma compreensão mais profunda do Brasil. Experiências culturais autênticas, como participar de um ritual indígena na Amazônia, aprender samba em uma escola de samba do Rio ou participar das procissões na semana santa nas famosas cidades mineiras, são inestimáveis e inesquecíveis para os turistas.

A produção cultural é um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável do turismo no país (Foto: Ubiraney Figueiredo)

Ao valorizar as expressões culturais locais, cria-se uma cadeia produtiva que beneficia pequenos empreendedores, artistas e comunidades, garantindo a preservação das tradições e o desenvolvimento econômico regional. Essa abordagem fomenta um turismo mais responsável e consciente. A produção cultural do Brasil, em toda a sua diversidade, é mais do que um mero atrativo turístico; ela é um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável do turismo no país. A interação entre cultura e turismo oferece uma via para o crescimento econômico, a preservação do patrimônio cultural e a promoção da inclusão social. À medida que o Brasil continua a desenvolver seu potencial turístico, a integração da rica tapeçaria cultural na experiência turística não é apenas desejável, mas essencial.”

Que alívio conhecer estas opiniões de quem literalmente está com a batuta cultural nas mãos!

O que gestores que promovem o turismo pensam sobre a cultura e sua relação com o setor?

No contraponto, fui buscar também, as impressões de gestores públicos do turismo, que se esforçam para fazer valer a importância deste segmento para a economia nacional. O Brasil, pós pandemia, vem gradativamente retomando o seu espaço como uma oferta diferenciada para o mercado turístico nacional e internacional.

Yrwana Albuquerque

Na Região Nordeste, a Secretária de Estado do Turismo do Ceará, Yrwana Albuquerque, como turismóloga, afirma, “Como gestora, considero que a produção cultural no Ceará exerce um impacto significativo no setor turístico. A riqueza artística, os eventos e as manifestações culturais contribuem para atrair visitantes, proporcionando uma experiência única. A influência da cultura local se reflete na promoção da identidade regional, enriquecendo a oferta do destino e fortalecendo a economia através do turismo cultural. Essa interseção entre produção artística e turismo é vital para a promoção do setor, consolidando o estado como um destino enriquecedor e autêntico.”

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Que alento, observar no setor público esta compreensão tão simples de ser observada!

Gustavo Tutuca

Na Região Sudeste, o Secretário de Estado de Turismo do Rio de Janeiro, Gustavo Tutuca afirma, “Eu costumo dizer que o turismo está conectado com todos os setores da sociedade. No caso da cultura, especificamente, eles caminham lado a lado. Não podemos pensar em turismo sem pensar em produção cultural e eventos. Quantos shows de artistas nacionais e internacionais tivemos no Rio de Janeiro em 2023 que lotaram os hotéis e fomentaram toda a cadeia produtiva do setor? Consigo citar rapidamente uns cinco, sem pensar muito: Alok, Taylor Swift, Roger Waters, Ivete Sangalo, Tardezinha. Se você parar pra pensar, tudo é cultura. O jogo de futebol que atrai turistas ao Maracanã é esporte, mas também é cultura. Visitar um ponto turístico é cultura. Não vejo como dissociar o turismo da atividade cultural”.

Isabella Ricci

Pensando em uma leitura bem ampla do tema, recorri ainda a Turismóloga, sócia da Contentur e editora do Portal Uai Turismo Isabella Ricci, que comenta, “Sempre digo que a cultura é o insumo do turismo. Ou seja, o turismo é a atividade econômica que precisa de “matérias primas” para que se torne um produto viável. E a cultura, quando bem trabalhada e embalada, chega como um dos principais produtos para girar a roda econômica do turismo. O turismo, por sua vez, é a atividade que pode tornar a cultura sustentável, tanto social como economicamente. Então não vejo como separar cultura de turismo, afinal eles se complementam de maneira harmônica.”

Marcelo Freixo

E por fim, fui procurar também a opinião de Marcelo Freixo, o atual presidente da Embratur, a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, que é um serviço social autônomo com o objetivo de planejar a formulação e a implementação das ações de promoção comercial dos produtos, serviços e destinos brasileiros no exterior.

Para Freixo, “a cultura é elemento central no turismo, e todos os países que conseguiram ampliar o número de visitantes estrangeiros de forma expressiva na última década tiveram a cultura no centro da estratégia de promoção internacional. Da culinária peruana ao audiovisual na Espanha e à música da Coréia do Sul, foi a exportação de diferentes elementos culturais que gerou aumento de interesse em visitar esses países.

Cultura emociona, sensibiliza, gera empatia e inspira. O Brasil é um país diverso, multicultural, e parte central da nossa estratégia de promoção internacional é divulgar nossa cultura nossa gastronomia, nossa produção audiovisual, nossa música e nossas festas populares.

Não é por acaso que o afroturismo tornou-se um dos segmentos prioritários em nossa gestão.

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Quando esse turista chega, invariavelmente parte expressiva de sua experiência é conhecer a arte, o artesanato, a arquitetura, a música, a dança, a história, a gastronomia, elementos de nossa cultura. O turista é um consumidor privilegiado da produção cultural brasileira, e boa parte dos cerca de R$ 34 bilhões que ficam no nosso país com o turismo internacional fica na cadeia produtiva da cultura.

E você, o que pensa sobre a cultura e sua relação com o turismo?

Foto: Ubiraney Figueiredo)

E para você que está lendo, é isso mesmo, eu não gosto de pensar sozinho, gosto de opiniões diversas, portanto minha gente, vamos dar um basta a este pensamento tacanho, que muitas vezes é propagado por aí.

Cultura tem valor, produção cultural preserva memórias, tradições, costumes e ofícios, que geram qualificação, novas frentes de trabalho e aquecem sobremaneira a economia de cidades, distritos e localidades por todo o Brasil, com a mais genuína simplicidade, em forma de produtos turísticos.

Aos agentes e promotores da atividade turística, cabe apenas continuar nesta caminhada valiosa e ascendente de terem em seus cardápios de oferta turística, cada vez mais, a cultura brasileira estampada como elemento forte de atração e fomento a este segmento econômico tão necessário para tantos brasileiros.

A economia brasileira, agradece a coragem empreendedora de todos vocês! Viva o Brasil!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.