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Vai dar certo: turismo, gastronomia e a reconstrução do Rio Grande do Sul

Restaurantes, hotéis, atrações turísticas enfrentaram a pandemia, buscaram a retomada do turismo e agora enfrentam novos desafios.

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Modelos e adaptações no turismo durante a pandemia (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

É pauta do turismo falarmos sobre meio ambiente, economia, justiça social. O turismo é o caminho para concretizar esses valores, base da sustentabilidade. Ver e entender o que é a natureza e seu poder, o impacto das viagens para os empregos, para a diversidade culinária, é uma forma de sensibilizar quem viaja, quem procura conhecer um lugar novo, uma comida nova, uma outra cultura. Viajar é sobre conhecer, viver é sobre conhecimento. É, portanto, preciso conhecermos para sermos, para reconstruirmos.

A última vez (a mais recente) que estive no Rio Grande do Sul foi quando o mundo atravessava outra crise, ainda em 2021. Juntamente com o Movimento Supera Turismo e nossos parceiros: hotéis Intercity, Bavária Sport Hotel, Gol Linhas Aéreas e Movida Aluguel de Carros, fui escolhido para ir às cidades que recém haviam reaberto aos turistas. Estive em Caxias do Sul, Farroupilha, Pinto Bandeira, Bento Gonçalves, Canela, Gramado, Porto Alegre. Era uma homenagem ao turismo do estado, uma forma de dizer “estamos juntos”. E agora, estamos juntos mais uma vez.

Durante a pandemia, novas formas de servir café da manhã surgiram. Bavária Hotel (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Papo sério

É preciso falarmos de questões como sustentabilidade e crise climática com seriedade e não apenas como um tema oportuno, ou algo distante e afeito a cientistas, intelectuais, estudiosos. A sustentabilidade está na natureza, na vazão das Cataratas, nos corais de Alagoas, na bacia Amazônica, no Cerrado, na cultura culinária da macaxeira, no pequi, no aratu, nas catadoras de mangaba de Sergipe, no cacau do Pará, do Espírito Santo, da Bahia, no arroz e nas uvas do Rio Grande do Sul. Mas também está na crise climática, na falta de oportunidades, na injustiça social (aquela que afeta a toda a sociedade que busca por equidade e igualdade para todos).

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Em meio a uma crise climática já exaustivamente divulgada, a confirmação que ninguém gostaria de lembrar. O Rio Grande do Sul foi profundamente atingido, afundado. O governo do estado fala em 19 bilhões para uma breve reconstrução. Colocar em pé e a seco o que foi destruído. E a reconstrução continuará após a água baixar.

Entrada do Vale dos Vinhedos (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Momento ambíguo

A tragédia climática televisionada foi para as redes sociais que vive seu momento mais ambíguo. Ao mesmo tempo que é local para influenciadores mobilizarem milhares e arrecadar milhões de reais, além de purificadores de água, inclusive em mochilas com tecnologia brasileira, é também local para muitas notícias falsas, oportunismos e vaidades. Muitas informações desnecessárias, difundidas por leigos que se dirigiram aos locais atingidos no que se passou a chamar de “turismo da desgraça”; muitas informações falsas, difundidas por criminosos. Mais uma vez o apelo é para que nós consumidores de tudo isso vejamos quem estamos seguindo, como estamos nos informando e até mesmo o que estamos compartilhando. 

É difícil imaginar como um lugar conhecido por suas lutas, pela força de imigrantes austríacos, alemães, italianos, esteja mais uma vez imerso numa grande batalha, agora de responsabilidade mundial: a climática. É preciso entendermos que sem preservar a natureza, não há quem nos preserve. É preciso que países desenvolvidos, os que mais poluíram e poluem segundo dados da ONU ajam para que o restante do mundo possa preservar o que nos resta no “mundo periférico”. É preciso entendermos que o turismo é uma grande força motora de desenvolvimento capaz de conscientizar sobre desmatamentos, poluição; de incluir pequenos produtores; de diminuir as desigualdades.

Coelho Café Colonial traz a tradição da comida dos colonos imigrantes do sul (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Rio Grande do Sul, vai dar certo!

Em Caxias do Sul, terra de índios caingangues, que no século XIX foi colonizada por austríacos e italianos, principalmente da região de Vêneto, pude conhecer vinícolas como a Tonet e o Sr. Ivo que me contou a história de imigração da família. Fomos também a restaurantes típicos, as famosas galeterias gaúchas e sua tradição de servir à mesa uma sequência de massas e saladas, capeletes, com sagu de sobremesa, completando o dia de sabores, de histórias e tudo na melhor forma do receber.

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Em Farroupilha fui conhecer o moscatel premiado como o 5º melhor do mundo na Casa Perini. Fui ainda, e pela primeira vez, a Garibaldi com a turma da Torrontés Turismo que nos levou para conhecer essa que é a cidade do espumante do Brasil. A única que possui uma marca de espumantes que pode ser chamada de champanhe, pois surgiu antes da denoninação de Origem francesa.

Na Casa Perini provando o Moscatel premiado o 5º melhor do mundo. (Foto: Bruno Raphael)

Em Pinto Bandeira, fomos conhecer o Champenoise Bistrô, do chef Isarel Dedea e sua arte de preservar o trabalho de pequenos produtores. Outro restaurante que nos chamou atenção nessa passagem-homenagem ao Rio Grande do Sul foi o Wood Lounge Bar, em Gramado. O menu desenvolvido pelo Chef Rodrigo Belora com “pancs” e vegetais orgânicos me levou a uma viagem de imersão culinária que tinha recém feito à Índia, onde pude vivenciar a experiência de colher e cozinhar numa pequena fazenda de orgânicos cultivados em sistema de permacultura. A permacultura é um método de agricultura sustentável que busca criar sistemas agrícolas que imitam os padrões e as relações encontradas na natureza.

A natureza no prato, o cuidado com pequenos produtores locais, a trajetória das pessoas. Um processo que precisa ser cada vez mais valorizado, enaltecido, cultivado, reconhecido, apreciado. A natureza delicada nas folhas verdes e crocantes é a mesma que destrói, com prejuízos incalculáveis.

Salada com pancs no Wood Restaurante em Gramado (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Países em desenvolvimento vivem o dilema de pautarem seu crescimento em produção de riquezas ao mesmo tempo que devem preservar a natureza. Ao olhar para trás veem que países hoje desenvolvidos devastaram suas paisagens e recursos ambientais para serem o que são. Por isso é preciso muita conscientização de quem ainda tem o que preservar para não cair no erro de querer fazer o mesmo caminho de devastação em prol do “desenvolvimento”. Ao mesmo tempo é preciso que países desenvolvidos reconheçam sua responsabilidade ambiental com o mundo, financiando projetos de atividades econômicas sustentáveis. Não há desenvolvimento sem sustentabilidade.

Colheita de produtos orgânicos em sistema de permacultura na Índia (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

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O Rio Grande do Sul é maior que tudo isso que está acontecendo. E o estado reconhecido por sua receptividade, por sua gastronomia peculiar, pelo sotaque que arrasta cantigas típicas, pelas histórias de imigração, vai voltar a nos receber. Vai voltar a ser o palco de feiras, eventos, encontros, das degustações de vinhos, da Maria Fumaça, das vinícolas, dos chocolates, e principalmente da natureza que ascenderá bela e forte para nos dar mais uma chance de reconhecer o seu valor. Do norte ao sul, somos todos gaúchos. Por isso, como diria um amigo cearense, lá de Camocim: Vai dar certo! Eu também acredito.

Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia, apresentador no canal Travel Box Brazil e esta no instagram como @paespelomundo

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