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Grupo Aruanda: cor, tradição, alegria e folclore, de Minas Gerais para o mundo

Conheça um pouco do universo da pesquisa, preservação e divulgação da cultura brasileira oferecidas pela Cia de Danças Folclóricas Aruanda.

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Dança Tamboril (Foto: Paula Amaral)

Hoje apresento para vocês, a Cia de Danças Folclóricas Aruanda, um grupo que preserva e propaga o folclore, nascido em Belo Horizonte, na década de 60 e que milita na pesquisa e na divulgação das tradições folclóricas nacionais. O grupo Aruanda, uma verdadeira instituição cultural, contribui fortemente para a compreensão da rica diversidade cultural brasileira.

Mas como gosto de entender bem sobre este nome diferenciado, “Aruanda”, recorri ao Wikipédia e aprendi, que “Aruanda é um conceito presente nas religiões afro-brasileiras, sobretudo na Umbanda, bem como no Espiritismo brasileiro. Descreve um local no mundo espiritual, que varia muito de acordo com a corrente religiosa, mas que de modo geral poderia ser equiparado a uma espécie de paraíso espiritual.”

Por inúmeras questões, pessoais e profissionais, tenho uma admiração e uma proximidade muito grande com a Cia de Danças Folclóricas Aruanda de Belo Horizonte. Na primeira metade da década de 90, quando atuava como Secretário Municipal de Cultura em minha cidade natal, quando da inauguração da Casa de Cultura Maestro Dungas, escolhi o Grupo Aruanda para ilustrar artisticamente, esta passagem especial da cidade.

Na performance do Grupo Aruanda, encontrei, além das Danças Folclóricas, todos os elementos que precisava, para aquele momento importante de entrega de um equipamento cultural para o interior de Minas Gerais.

Como entidade pioneira no gênero no estado, a mostra variada de danças e cantos mineiros, que o grupo mostraria no palco, com tantas cores e ritmos, apresentaria com toda certeza, a riqueza que se pode preservar se criamos ambientes especiais para a formação artística e para o fomento a todas as manifestações da arte.

Sem falar que o Grupo Aruanda interpreta danças típicas de todas as regiões do país, o que nos motiva ainda mais a repetir a dose de apresentações, já que o grupo possui um repertório de pesquisa, indumentárias e movimentos tão amplos.

Um grupo diferenciado

Esse cuidado com a construção de seu repertório musical, com a elaboração do rico figurino e o esmero das coreografias apresentadas, fazem do Aruanda realmente um grupo diferenciado. Não é à toa que a Cia de Danças Folclóricas é amplamente condecorada em todos os níveis e o grupo possui merecidamente, duas solicitações em instâncias, município e estado, para que a entidade consiga seu registro nos livros de tombamento como patrimônio cultural imaterial.

Dança dos caboclos (Foto: Paula Amaral)

Como músico, preciso destacar de forma especial, o acervo musical pesquisado, coletado e cuidadosamente disponibilizado pelo grupo em seu site. São mais de 50 composições da música popular tradicional do Brasil. Naturalmente, que se trata de uma pesquisa requintada, iniciada ainda na década de 60 no nascedouro da entidade cultural.

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Remexi bastante o site do Grupo Aruanda, antes de escrever este conteúdo e conversei também com alguns amigos, hoje membros da diretoria da Cia de Danças Folclóricas. No site, vi que “´por muito tempo, vários dos musicistas do Aruanda aprenderam a tocar e a cantar no próprio Coletivo, ou seja, predominava entre os músicos a transmissão de conhecimento baseada na oralidade, assim como acontece nos grupos tradicionais da cultura popular brasileira. Entretanto, apesar da importância da oralidade no saber fazer do Grupo Aruanda, como forma de registro e consequente preservação de seu acervo, transcrevemos 50 músicas, disponibilizadas em partituras e cifras.”

Particularmente, achei isso fantástico. Uma grande iniciativa de Educação Patrimonial. Já fiquei curioso para parar um dia e escutar os variados áudios disponibilizados no site.

Por lá vi também, que o acervo efetivo do grupo ultrapassa uma centena de músicas da cultura popular brasileira. Muito bom poder conhecer o modo de tocar cada um dos instrumentos musicais, o modo adequado de cantar e interpretar as canções. Verdadeiro aprendizado.

Um pouco da história do Grupo Aruanda

Na visão do Grupo Aruanda, “o folclore é a alma de um povo, é sua identidade, a expressão da cultura, dos saberes, da visão de mundo desse povo. Patrimônio tão nobre, tão essencial à compreensão da vida, deve ser conhecido, vivenciado e defendido.”

Carimbó (Foto Luiz Rocha)

Com essa missão de pesquisar, preservar e divulgar as manifestações do folclore brasileiro nasce o Grupo Aruanda em 1960, por meio da sensibilidade de uma figura bastante especial, o Professor Paulo César Valle, sociólogo e folclorista, que reunindo jovens estudantes, em uma ação pioneira, mostrou os caminhos do folclore brasileiro, revelando as danças e os cantos desse nosso povo miscigenado. Os primeiros passos foram pesquisando e apresentando as danças folclóricas mineiras, mas em pouco tempo, o Aruanda passou a ser no primeiro grupo do país a pesquisar e apresentar danças de todo o Brasil. Já são 64 anos de atividades!

Hoje, o Grupo Aruanda conta com um acervo de mais de 100 danças pesquisadas e catalogadas e é visto como um dos mais importantes grupos de projeção folclóricas do mundo.

Sempre celebrando a cultura brasileira, já se apresentou diversos países como Portugal, Espanha, França, Portugal, Canadá, Peru, Grécia, Holanda, Bélgica, Itália, Polônia e Japão, garantindo ao Brasil essa representação mais que especial, com cores, alegria, qualidade e arte.

Para completar o rol de funções, o Grupo Aruanda pratica também, ações sociais, incentivando ações de solidariedade e projetos que contribuem com o desenvolvimento da educação.

O grupo realiza oficinas de danças folclóricas, de percussão e de confecção de adereços, incentivando a economia criativa, contribuindo para o aprimoramento do conhecimento de educadores, bailarinos, coreógrafos e muitos outros. 

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O Aruanda é um Ponto de Cultura, que é uma política pública, ação do Ministério de Cultura, e está associado a instituições internacionais como o CIOFF – Confederação Internacional de festivais de Folclore e Artes Tradicionais, e CID UNESCO – Conselho Internacional de Dança.

Em 2022, o Aruanda formalizou uma parceria com a SMED – Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, que viabilizou a participação de Componentes Grupo trabalhando dentro das escolas, divulgando e perenizando as manifestações populares com as crianças. A ação, proporciona um maior conhecimento e empoderamento da população em desenvolvimento, atuando como pilar fundamental na construção da sua identidade cultural, fator importantíssimo para uma vida cidadã.

As pesquisas sobre ritmos, hábitos, indumentárias e trilha sonora

O Brasil é um país mestiço, de dimensões continentais, formado pela contribuição de nativos indígenas, colonizadores europeus e escravos africanos, por isso é esse paraíso, mais que especial.

Festa N.S. do Rosário (Luiz Rocha)

As expressões mais diversas de tantas origens foram traduzidas nos cantos, nas danças, nos rituais, nos mitos, nas lendas, nas festas, nos modos de celebrar a vida. Cada região do país, com suas características próprias delineadas pelas circunstâncias históricas, geográficas, econômicas e culturais, criou manifestações singulares. Importantíssimo preservar as raízes formadoras da nacionalidade, fortalecendo a consciência coletiva de um destino comum que integrasse passado e presente na construção de um futuro bem posicionado.  

Preocupado com esse tema e convicto de que o folclore é o maior depositário dos valores culturais que criam a identidade de uma nação, o Aruanda lançou-se, como moderno bandeirante, a desbravar as imensidões do país, dedicando-se à pesquisa, preservação e divulgação das danças e cantos tradicionais brasileiros.

Nesta empreitada, a fonte primeira de suas pesquisas foram os grupos folclóricos nascidos espontaneamente nas comunidades, para quem as manifestações são uma herança ancestral, vivenciadas no dia a dia e que dão sentido às suas vidas.

A explicação vem bem clara, “O roteiro básico das pesquisas inicia-se com o pedido de permissão, ao “chefe” da comunidade, para a realização do trabalho. As demais etapas eram divididas entre o aprendizado da coreografia, a gravação da melodia, a reprodução dos trajes e adereços – Décio Noviello, principal figurinista do Aruanda, coordenava esta atividade –, a contextualização histórica da manifestação e a tradução de seus códigos e simbolismos. Um clima de respeito e valorização da manifestação pesquisada envolvia todo o trabalho. Estabelecida a confiança, os grupos folclóricos ofereciam o apoio e os conhecimentos indispensáveis ao meticuloso trabalho de projeção fiel da manifestação pesquisada para a estética do espetáculo, preservando sua essência e significados. Esta interação amistosa aproximava o Aruanda das comunidades pesquisadas, gerando um sentimento de mútua admiração entre as partes”.

Caiapó (Foto Paula Amaral)

Uma informação curiosa é que, por não vivenciar as manifestações folclóricas, limitando-se a interpretá-las artisticamente a partir do estudo formal e regular, o Aruanda é considerado um grupo parafolclórico, segundo a Carta do Folclore Brasileiro, publicada em 1993 pela Comissão Nacional de Folclore. Nessa condição, tem objetivos distintos dos grupos folclóricos tradicionais, que não realizam espetáculos e, portanto, não se preocupam com estética, tempo, sincronia ou qualquer outro elemento erudito desenvolvido ao gosto das plateias.

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Os grupos parafolclóricos, como o Aruanda, são representativos da arte e não da vivência cotidiana do folclore, por isso, respeitam os códigos ditados pela estética do palco, buscando a harmonia, o tempo adequado, evitando repetições coreográficas e zelando pela beleza e padronização de figurinos e adereços, uma verdadeira beleza cênica que enche nossos olhos. Tudo isso, constitui, portanto, uma alternativa para a divulgação das tradições folclóricas, podendo representá-las, em qualquer época do ano, para fins tanto educativos quanto artísticos ou turísticos.

O guarda-roupa do Grupo Aruanda

Para levar todas essas danças aos palcos do Brasil e do mundo, em mais de três mil apresentações realizadas desde sua fundação, o Grupo Aruanda conta com um exuberante guarda-roupa composto por milhares de figurinos e adereços, identificados e catalogados, ultrapassando cinco toneladas. O guarda-roupa do Aruanda é primoroso por sua beleza, diversidade e organização.

Eu diria, que só o guarda-roupa folclórico do grupo, constitui um atrativo turístico fabuloso. Imaginem, analisando a origem e o significado histórico dos trajes de cada dança, divididos em armários específicos, é possível fazer uma viagem pela cultura brasileira. Não é à toa, que o grupo recebe tantas visitas de estudantes, professores, pesquisadores, coreógrafos e figurinistas, fica a dica para receberem também, turistas curiosos pelo folclore brasileiro.

Segundo Sérgio Cosse, hoje presidente do Grupo Aruanda, “A mais recente pesquisa do Grupo Aruanda, que resultou na criação de um novo quadro coreográfico e musical, foi feita com o grupo Molekes de Mestre Bebé, expressão cultural do sertão do Rio Grande do Norte denominada “Dança dos Caboclos – Malhação de Judas de Major Sales/RN”. Essa pesquisa etnográfica, marcada pela imersão da pesquisadora na comunidade de Major Sales, foi realizada entre os anos de 2017 e 2019. Entre 2020 e 2022, em meio à pandemia de Covid-19,a pesquisadora realizou a devolução de sua pesquisa ao grupo: momento em que compartilhou suas vivências e aprendizados com o grupo potiguar e, além disso, ensinou os movimentos para os dançarinos do grupo, elaborou uma coreografia e repassou a música cedida pelo grupo pesquisado ao grupo musical do Aruanda. Em2023, no espetáculo “A festa é de Aruanda”, no Palácio das Artes, o quadro da Dançados Caboclos – Malhação de Judas foi lançado e, formalmente, passou a fazer parte do nosso repertório”.

O Aruanda e o mercado de eventos

O Grupo Aruanda, por ser reconhecido como uma referência para a cultura popular, sempre foi e é lembrado para abrilhantar eventos nas suas diversas áreas. O Aruanda realiza apresentações, cortejos e oficinas. No momento o grupo está em atividade com 08 projetos de lei de incentivo, aprovados e patrocinados, editais dos governos municipal e federal e emendas parlamentares.

Folia do Divino (Luiz Rocha)

O trabalho desenvolvido pelo Grupo Aruanda está comprometido com a cultura, a educação, o lazer, a saúde e a qualidade de vida.

No caso das oficinas por exemplo, o grupo têm a preocupação em promover ações de inclusão através dos elementos que são alicerces da cultura popular. Usam a alegria como forma de resistência, a coletividade, a força, a fé, a união, o diálogo entre ritmos, danças, o fazer manual e as lições de trabalho em equipe, abordando na prática temas interdisciplinares, recheados de diversidade e riqueza cultural.

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Uma prática bastante rica, é a realização de Oficinas de confecção de instrumentos de percussão, Abê e Caixa (tambor),  oficinas de Percussão e oficinas de danças folclóricas. Nestess momentos, o participante aprende a construir seu instrumento e depois a tocá-lo. É um contato com a dança folclórica.

O bom, é que as oficinas são gratuitas e a pessoa, leva o instrumento, que ela constrói.

Projetos

No âmbito dos grandes eventos, o Grupo Aruanda, mantém como projeto permanente o Bloco da Fofoca-Carimbó, criado em 2014 por dançarinas do Aruanda que atua, desde então no Carnaval de rua de Belo Horizonte.

O Bloco homenageia a cultura tradicional nortista por meio do ritmo e da dança do Carimbó e é aberto a toda e qualquer pessoa que queira fazer parte de sua ala de dança ou de sua bateria, sem custos. Em 2024, o Bloco desfilou com o tema “Os guarás daqui e os guarás de lá” aproximando as culturas paraense e mineira e chamando a atenção para as questões ambientais que tanto afligem os biomas do cerrado e amazônico.

Além disso, o grupo mantém os projetos “Casa Cheia”, “Aruanda para Crianças”, “O Aruanda no Quadrilátero Ferrífero” e em processo ainda em iniciação o projeto “Tá Caindo Flor – O Aruanda Mostra o Folclore Brasileiro”, que propõe a realização de uma Mostra do Folclore Brasileiro em teatros da capital mineira, equipamentos públicos de diferentes pontos da cidade, com entrada gratuita ao público. Vale a pena conhecer!

O elenco

Atualmente o Grupo Aruanda conta com 60 integrantes, entre musicistas e dançarinos e é bom destacar, todos voluntários.

O Aruanda atrai uma boa quantidade de interessados em participar do seu quadro, mas a entidade segue o que dita o seu estatuto, ou seja, a cada semestre o grupo abre inscrições para novos integrantes, que passam por uma audição onde a coordenadora de ensaios apresenta alguns passos e movimentos coreográficos de diversas manifestações do repertório da instituição e os participantes reproduzem o mais próximo possível. Uma banca formada por profissionais da dança, internos e externos ao Grupo, ficam responsáveis por avaliar e pontuar os candidatos através das suas habilidades como ritmo, postura, expressão, memória coreográfica, percepção espacial, coordenação motora.

Se o candidato alcançar uma porcentagem mínima, normalmente 70%, ele passa a integrar uma turma de iniciantes, carinhosamente chamados de “Juninhos”!

E na condição de “Juninhos”, estes bailarinos ficam no mínimo por 1 ano de dedicação e aprendizado. Só aí é que os juniores, começam a ensaiar com a Cia veterana.

É muita coisa bonita e interessante. Assistir uma apresentação do Grupo Aruanda, realmente é uma experiência cultural e turística fabulosa, que merece ser vivenciada. Hoje nossa intenção foi dar uma mostra da potência cultural e turística desta vitoriosa Cia. folclórica de Minas Gerais.

Recebi tantas informações, dados estatísticos, curiosidades, causos, dentre outras questões, que fico pensando fortemente em voltar com o tema Aruanda em uma nova oportunidade por aqui no portal.

Para hoje, me contento com o conteúdo acima e te convido a conhecer um pouco mais deste grande legado cultural mineiro, visitando o site do Grupo Aruanda.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.