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Exposição no Palácio da Liberdade comemora o trabalho de Yara Tupynambá em diálogo com as afromineiridades

A mostra faz homenagem à tradição do congado em Minas Gerais e conta com mais de dez obras da série “Catopês”, criada pela artista mineira.

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Foto: Leonardo Pontes/ Flickr

O nome Yara Tupynambá se tornou, ao longo de seus 92 anos de idade e oito décadas de carreira, sinônimo da excelência de Minas Gerais nas artes plásticas produzidas no Brasil. Natural de Montes Claros, a pintora, gravadora, desenhista, muralista e professora já expôs em diversas cidades do país e no exterior. Agora, uma parte de seu trabalho poderá ser vista no Palácio da Liberdade, também um símbolo do estado, em diálogo com o programa “Afromineiridades”, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais.

“A valorização e o resgate de nossa cultura”

A exposição “A valorização e o resgate de nossa cultura”, com curadoria da Fundação Clóvis Salgado, de Leônidas Oliveira (Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas) e de David Faria (vice-presidente do Instituto & Memorial Yara Tupynambá), promovem uma homenagem à tradição do congado em Minas Gerais, contando com mais de dez obras da série “Catopês”, feita pela artista com base na tradição de sua cidade-natal.

“Catopês”

Os “catopês” homenageiam os negros na formação do povo brasileiro, recriando e revivendo a memória e o imaginário congadeiro. A mostra “A valorização e o resgate de nossa cultura” abre no dia 17/7 (quarta-feira), às 18h, e poderá ser visitada entre os dias 18/7 (quinta-feira) e 25/8 (domingo), gratuitamente. A classificação é livre, e o Palácio da Liberdade está aberto à visitação de quarta a sexta-feira, das 12h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h.

Yara Tupynambá

Nascida em 1932, Yara Tupynambá iniciou os estudos de arte com o pioneiro Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), em 1950, em Belo Horizonte. A artista é conhecida mundialmente e recebeu inúmeros prêmios, além de contar com mais de 315 painéis e murais espalhados por numerosas cidades brasileiras e trabalhos expostos em capitais internacionais.

Aluna, professora e diretora da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Yara paralelamente se dedicou à gravura, especialmente sobre madeira, preferindo o preto e branco à gama de cores.

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Seus murais retratam eventos históricos de Minas e passagens religiosas. Já nas telas em acrílico e técnica mista, as pinturas trazem congados, cavalhadas e violeiros, temas referentes à sua adolescência e às andanças pelo interior do estado de Minas Gerais.

Congados mineiros

Foto: divulgação

Os congados mineiros surgiram no cenário de escravidão no Brasil como o espaço da festa, onde os escravizados poderiam congregar e revitalizar seus valores culturais, mostrando seu desejo de liberdade. Quanto mais a sociedade mineira crescia, mais perceptível era a miscigenação de crenças e povos em seu meio. Apesar da presença de grupos esparsos no Brasil, é na região Sudeste que se concentra o maior número de congados, especialmente em Minas Gerais.

Identidade e resistência

Na memória dos congadeiros dos mais diversos grupos do estado, a tradição do congado chegou a Minas Gerais através de Chico Rei, um monarca africano que foi trazido para o Brasil no século XVIII. Em Vila Rica (atual Ouro Preto), onde viveu, ele conseguiu comprar sua alforria e, através da exploração de uma mina já desativada, acabou encontrando ouro, enriquecendo e comprando a liberdade dos demais negros mantidos cativos na região.

Em 1747, o rei-escravizado, grande devoto de Nossa Senhora do Rosário, organizou a primeira festa em homenagem à santa que o ajudou a concretizar o seu sonho de liberdade, com riquíssimo cortejo e farta mesa. A forma de agradecimento se disseminou entre os escravizados e acompanha até hoje as comunidades afro-brasileiras.

Uma forte expressão cultural

O congado passou a ser uma das mais fortes expressões das manifestações culturais e religiosas do povo negro. Em muitas localidades, surgiram grupos autônomos, totalmente desvinculados das irmandades leigas, mas vinculados à fé em Nossa Senhora do Rosário e a outros santos do panteão católico-cristão associados aos auxílios recebidos pelos antepassados durante o período de escravidão. Como expressão litúrgica celebrativa travestida de catolicismo, o congado possibilitava a recriação do universo simbólico desses povos, através da expressão corporal, dos cantos e danças acompanhados pelos sons de instrumentos de origem africana como tambores, maracás e caxixis, fabricados por eles mesmos.

Congado, Yara Tupynambá e o Palácio da Liberdade

Em reverência ao congado mineiro, como grupo social relevante na história política, social e cultural de Minas, a exposição no Palácio da Liberdade vem consolidar a valorização da memória artística e cultural e dos saberes populares do estado.

Segundo Uiara Azevedo, Gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, a iniciativa reforça a necessidade de preservação do patrimônio material e imaterial que constitui a identidade cultural e formação da população mineira.

“Desde que o Palácio da Liberdade foi aberto à visitação do público e passou a ser também um espaço expositivo, tem sido uma preocupação da Fundação Clóvis Salgado promover um diálogo desse edifício histórico com as manifestações artístico-culturais do estado, principalmente aquelas oriundas da cultura popular, tanto no que diz respeito aos autores quanto às temáticas. É um modo sobretudo de mostrar para as pessoas que um prédio por muito tempo visto como inacessível pode abrigar e dar visibilidade a fazeres artísticos múltiplos, que dialogam com as vivências e experiências das tradições e crenças locais. Isso, aliado à honra de poder receber as obras de uma grande artista como Yara Tupynambá, um nome incontornável da arte brasileira, faz com que essa exposição seja um feliz encontro que celebra os múltiplos patrimônios culturais de Minas Gerais”, salienta Uiara.

O berço das tradições e dos talentos

 O congado envolve um ritual composto por oito irmãos: Candombe, Moçambique, Congo, Caboclo, marujo, os Catopês, Vilão e os Cavaleiros de Jorge. Cada um desses grupos contém elementos e ritualidades próprias. O Norte de Minas Gerais é palco de um dos mais antigos movimentos socioculturais do estado, com grupos populares do congado manifestando ancestralidade e devotando sua fé, e cujos saberes e fazeres populares, a exemplo da cidade de Montes Claros, remontam ao início do século XIX.

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No caso de Yara Tupynambá, os trabalhos sobre o congado criados pela artista, e que estarão na exposição, são dos anos de 1976 a 1978. São obras em telas e em papel, elaboradas a partir de diversas técnicas. “Ninguém registrou com tanta propriedade e amor estas manifestações do Norte de Minas como Yara Tupynambá, pois ela as vivenciou desde a tenra infância, o que também coloca a artista como patrimônio imaterial da cultura popular nas artes plásticas”, ressalta o presidente do Instituto & Memorial Yara Tupynambá, Geraldo Porfírio da Silva, genro da artista que a acompanha há mais de 50 anos. “Como Yara ilustrou muito bem, nossos Catopês, Marujos e Caboclinhos representam a ancestralidade e o sincretismo religioso no norte de Minas. Yara sempre manifestou o anseio em ressaltar a tradição de nosso povo e a ela devemos importantes registros de resgate de nossa cultura”, acrescenta.

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