Cultura
A força das mulheres empreendedoras, que cultivam sonhos no coração do Pará
Conheça como a união, o empreendedorismo e a cultura transformam a realidade de mulheres rurais da região amazônica.

Confesso, que já estava saudoso em trazer para vocês leitores, novos relatos sobre minhas atividades de campo no estado do Pará. Atuando como consultor social na região de Carajás, chegamos ao município de Água Azul do Norte, no sudoeste do estado e foi lá que tive a oportunidade de me aproximar e conhecer bem de perto a realidade das comunidades instaladas nos PA’s, os Projetos de Assentamento.
Conheci tantas pessoas interessantes, tantas famílias produtivas, entendi o senso corajoso e desbravador das pessoas em buscar e lutar por mais oportunidades, mais qualidade de vida, mais conforto e em troca disso, oferecerem força de trabalho, união social e produtos em geral de muita qualidade, saídos do suor, do esforço e do manejo correto das terras ocupadas.
Poderia dar vários exemplos daquela região, mas hoje, levo vocês direto para o PA Dina Teixeira, um assentamento na zona rural do município de Água Azul do Norte!
Chegamos lá, por força do trabalho que desenvolvemos em Água Azul do Norte, desde 2020, atuando com ações de fortalecimento de vínculos de uma empresa com as comunidades inseridas em sua área de influência. Um trabalho simples, de muita energia, completamente voltado para as comunidades e que vem sendo desenvolvido com calma, o que nos tem permitido conhecer e vivenciar situações tão interessantes, tão ricas e tão distantes de nossa realidade quotidiana!
Um prazer, fazer parte desta equipe e ter a oportunidade de tantas experiências.
UMEDINA do PA Dina Teixeira
No PA Dina Teixeira, encontramos um grupo de mulheres fortes, decididas e muito produtivas. Logo percebemos, que elas queriam o protagonismo e novas oportunidades para mostrarem a força das mulheres produtivas que vivem ali.
Com bastante participação e um belo trabalho de construção conjunta, incentivamos, capacitamos e vimos surgir a UMEDINA – União das Mulheres Empreendedoras do Dina Teixeira. Uma associação, que nasce para dar certo e se Deus quiser, dará!
A Umedina, é presidida pela jovem produtora rural Juliana Sales de Araújo. Bem formada, com sua família constituída e devidamente assentada no Dina Teixeira, Juliana divide seu tempo em cuidar da família, produzir, liderar a Associação de Mulheres Empreendedoras e ainda seguir com seu Mestrado, que entra em sua reta final.
Ouso aqui, por meio de Juliana, nomeá-la representante de todas as minhas queridas mulheres produtoras, das quais não vou nomear para não correr o risco da injustiça de algum esquecimento, mas posso assegurar que todas já fazem parte da minha caminhada profissional e já fazem parte também das minhas memórias afetivas com o estado do Pará.
A Presidente Juliana, relata um pouco como foi o processo de nascimento deste movimento. “A Umedina teve início a partir do encontro das mulheres do assentamento Dina Teixeira, por meio de um curso oferecido pelo SENAR e Prefeitura de Água Azul do Norte. Com o encerramento do curso, o grupo decidiu que continuariam juntas, reunidas para criarmos uma Associação de Mulheres, por conta dos bons resultados colhidos até então.
Da oportunidade da convivência, percebemos a necessidade de darmos continuidade juntas, em busca do alcance dos objetivos de todas as mulheres, e famílias do assentamento.”
Naquele momento, o grupo de mulheres empreendedoras, já sabia, que a ação individual, dificultaria muito a busca por direitos e o reconhecimento do trabalho, principalmente o trabalho rural e da agricultura familiar.
Aproveitando uma oportunidade
A partir da vontade do grupo de mulheres, bons resultados começaram a surgir e entre eles, a oportunidade de participarem do Edital lançado pela Prefeitura Municipal de Água Azul do Norte, para aplicação dos recursos da Política Nacional Aldir Blanc, por meio da elaboração de um projeto cultural.
Discutiram em grupo e decidiram pleitear a possibilidade da realização de uma mostra cultural dos produtos da União das Mulheres Empreendedoras do Dina Teixeira.
Vale ressaltar, que as produtoras rurais locais, possuem uma produção bastante diversificada no assentamento, como acerola, laranja, maracujá, limão, manga, ovos, galinhas caipiras, porcos, macaxeira, hortifrutigranjeiros, além do cheiro verde, pimentas, iogurtes, dentre outros insumos.
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Foi por esta diversidade, que perceberam, que unidas seria mais fácil buscarem a vasão para a valorização e comercialização de tudo que se produz por ali, além do artesanato e da produção associada em geral.
Segundo Juliana, “a ideia é promover a comercialização e partirmos para a busca de incentivos e fomento para a produção, vislumbrando os resultados”.
Juliana, ainda comenta, que “com o curso inicial, em parceria com o SENAR, despertamos para a importância das parcerias e por isso acionamos uma das empresas de mineração instaladas no município de Água Azul do Norte onde solicitamos o apoio para uma consultoria que orientasse a formalização de uma entidade, no formato que viabilizasse o associativismo”.
Assim foi feito! Uma capacitação gerencial, orientando para elaboração de toda a documentação necessária, rumou para elaboração de um bom estatuto social, promoveu a mobilização para formação de uma chapa feminina, que concorresse à eleição em uma assembleia geral, que foi efetivada e em pouco mais de um ano de trabalho, nasceu a Umedina – União das Mulheres Empreendedoras do Dina Teixeira, que já segue para a fase de registros cartoriais da referida documentação.
Com a entidade organizada, os horizontes aumentaram e chegou finalmente, a oportunidade de concorrerem ao financiamento de uma boa ideia, por força dos recursos disponíveis no Edital do Município, pela Política Nacional Aldir Blanc.
O que é a PNAB
A PNAB – Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, é uma política de Estado, agora de longo prazo e que visa fomentar iniciativas culturais em todo o território nacional, para tanto, os municípios brasileiros, carecem de se estruturar administrativamente para poderem lançar mão dos benefícios e recursos, que são anualmente distribuídos para esta finalidade de fomento cultural.
“A PNAB substitui as ações, inicialmente emergenciais da Lei Aldir Blanc e da Lei Paulo Gustavo, estabelecendo um fluxo contínuo de recursos para os estados e municípios, com o objetivo de apoiar a cultura de forma permanente”, segundo o produtor cultural e consultor social José Carlos Oliveira.
A política, bem aceita, foi implementada em todos os estados, no Distrito Federal e na boa maioria dos municípios brasileiros. Os recursos investidos é que tem garantido o financiamento e a manutenção de agentes, espaços e ações artísticos-culturais em inúmeros territórios pelo país.
Como resultados mais expressivos, diversos segmentos receberam destaque a partir dos primeiros levantamentos feitos por órgãos oficiais e as principais frentes de destaque tem sido o financiamento de projetos culturais, a possibilidade de manutenção de espaços para estas práticas, o fundamental apoio para os trabalhadores do setor cultural e o desenvolvimento do setor local e regionalmente.
Outros segmentos de destaque foram, o estímulo à produção cultural em cidades de pequeno, médio e grande porte, o fortalecimento da economia criativa, uma valorização primordial para a diversidade cultural e talvez, o melhor de todos os resultados, a descentralização do acesso à cultura.
Ainda vimos, neste Brasil, gestores tratando os importantíssimos recursos, com certo desdém, mas de fato, a PNAB tem se destacado com bastante eficiência, promovendo realmente o fomento cultural e à cada mostra de resultados que assistimos, acreditamos mais e mais na produção cultural brasileira, rica e potente.
1ª Mostra de Produtos Artesanais da UMEDINA
Voltando ao PA Dina Teixeira, sobre o projeto protocolado no Edital do PNAB em Água Azul, trata – se da estruturação da 1ª Mostra de Produtos Artesanais da UMEDINA. O projeto, é uma iniciativa do Coletivo de Mulheres Empreendedoras do Projeto de Assentamento Dina Teixeira, voltada à valorização, divulgação e comercialização de produtos artesanais alimentícios e de artesanato decorativo e utilitário produzidos por mulheres moradoras do assentamento.
A proposta é que a mostra seja realizada de forma presencial, em espaço comunitário do próprio PA Dina Teixeira e na Vila Canadá, no mesmo município, com estrutura montada para exposição, venda, apresentação musical e rodas de conversa sobre empreendedorismo, economia solidária e valorização da cultura local.
O projeto surgiu quando o grupo de mulheres identificou a necessidade de dar visibilidade à sua produção e fortalecer redes de apoio mútuo e geração de renda no campo. O contexto é de um assentamento rural com potencial produtivo, mas com pouca inserção no mercado formal e escassez de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico de mulheres.
“A mostra será muito importante para a sociedade, por promover a inclusão produtiva de mulheres rurais, incentivar a economia local, fomentar práticas sustentáveis e fortalecer a autonomia feminina no campo. Além disso, contribui para a preservação de saberes tradicionais e o reconhecimento da diversidade cultural dos territórios rurais”, comenta José Carlos Oliveira, consultor social e orientador do grupo.
Valorizar e divulgar a produção artesanal das mulheres do PA Dina Teixeira, fortalecer o protagonismo feminino no meio rural, incentivar a geração de renda por meio da economia solidária, estimular o consumo consciente e o apoio a produtos locais, criar um canal de diálogo com a comunidade e potenciais parceiros, são os principais objetivos desse projeto.
O Grupo pretende também, realizar a 1ª edição da Mostra com a participação de, no mínimo, 20 expositoras, atrair um público de 300 visitantes durante o evento, realizar rodas de conversa temáticas durante a mostra, por meio de parcerias com profissionais e instituições, realizar uma apresentação musical durante a mostra, produzir e distribuir um catálogo digital com os produtos e contatos das expositoras e estimular a continuidade da mostra como ação anual.
Novos desafios
A líder do grupo, Juliana Sales, ainda destaca os objetivos e desafios daqui pra frente, afirmando que “com o apoio institucional e gerencial por parte da empresa parceira, as Mulheres Empreendedoras, seguem adiante, dispostas a alcançarem grandes feitos e projetos, que fortaleçam a agricultura na comunidade e principalmente o reconhecimento do trabalho feminino, como uma energia produtiva e próspera, que apresentam qualidade no que é produzido e amparados pela união das produtoras, agora envolvidas com uma associação.
A proposta de trabalho deste grupo, vai além e as mulheres empreendedoras pensam em outras parcerias que viabilizem a melhora dos processos de educação dos seus filhos e capacitação para a produção para novos grupos de mulheres, além do apoio e mecanização dos processos de plantio e bons resultados”.
Juliana, não se cansa de enfatizar, “louvo a importância do apoio da iniciativa privada para o alcance da estruturação da nossa Associação de Mulheres, mas também o acesso à editais, que sempre valorizam iniciativas desta natureza na região amazônica, sem falar que a produção de alimentos saudáveis, bons produtos gerados pela agricultura familiar, uma produção artesanal diversificada, garantirão novas capacitações, maquinários, técnicas, insumos e mais caminhos para novas conquistas.
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Para ir finalizando, já deixo a notícia de que o projeto da Umedina foi bem acolhido na Secretaria de Turismo e Cultura de Água Azul do Norte e já está aprovado. Apesar dos recursos não serem tão volumosos, a primeira edição da Mostra de Produtos, está prevista para o mês de outubro, ainda em 2025 e agora as mulheres empreendedoras já iniciaram o exercício da distribuição de tarefas, do trato administrativo, prospecção de novas parcerias para a execução da ideia e por fim, sua realização.
Eu fico realmente emocionado com iniciativas desta natureza e com a coragem do povo brasileiro. Torço pelos melhores resultados e já estou na área para contribuir com a montagem e com a gestão deste evento, que com toda certeza, movimentará a zona rural de Água Azul do Norte, no Pará.
Mais pra frente, conto como tudo aconteceu. Por hora, agradeço a atenção dispensada e desejo a todos vocês, uma boa leitura.
Até a próxima.
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