Cultura
Criatividade e reciclagem são destaques em feira de artesanato de Olinda
A Curadoria de Leopoldo Nóbrega dando espaço ao artesanato brasileiro, promovendo sustentabilidade, engajamento e impactos financeiros, por meio da economia criativa e da economia circular.
Na edição 2024 da Fenearte, a Feira Nacional de Negócios do Artesanato, que acontece por estes dias em Olinda no estado de Pernambuco, o artista plástico, cenógrafo e designer premiado, com ênfase em sustentabilidade e economia criativa, Diretor Criativo da escola do futuro Edufuturo, CEO do Arte Plenna e responsável pela escultura do Galo da Madrugada no Carnaval de Recife e também, um grande colaborador de minhas pautas Leopoldo Nóbrega, assumiu a curadoria de um dos mais esperados espaços desta feira de artesanato de Olinda, a Galeria de Reciclados Fenearte!
Segundo Leopoldo Nóbrega, a Galeria de Reciclados já existe a 17 anos e segue valorizando o talento de artistas e artesãos, que agregam valor às suas obras, lançando mão dos princípios da sustentabilidade e da economia circular, apresentando claramente a disposição para o uso de materiais recicláveis nas obras apresentadas.
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Como é sempre um prazer explorar a visão contemporânea de Leopoldo Nóbrega, quis saber dele a quantas anda o movimento artístico e a sustentabilidade em Pernambuco, onde ele vive. Com maestria, ele nos conta que aos poucos, o tema vem conquistando o movimento artístico por lá e comenta “Tendo em vista a urgência planetária em mudar o comportamento de consumo e descarte, bem como a necessidade de engajamento com propósito (em todas as áreas da sociedade), eu considero a classe artística muito dispersa em relação à sustentabilidade e redução dos impactos globais. Principalmente os artistas que transitam nas linguagens “contemporâneas”. Estes, ainda se atém à temas egocêntricos, que buscam mais a autoafirmação existencial do que as relações de responsabilidade coletiva frente ao capitalismo, transformando a arte em moeda de especulação monetária de galerias e curadores”.
Como uma pauta atual, Leopoldo Nóbrega vê o desenvolvimento e o grau de importância da Economia Criativa e da Economia Circular, enfatizando que a importância de rever modelos econômicos também é de extrema urgência. “Somos um país colonizado por interesses ocidentais, fortemente influenciados pelo efêmero. Ao passo em que a Economia Criativa dá seus primeiros passos há décadas e ainda não foi compreendida, pelos próprios criativos, a Economia Circular atropela em sintonia com o ritmo do hiper modernismo e convida para possibilidades de conexões até mais “criativas” ou, pelo menos, mais comprometida com o “capitalismo consciente“.
Na visão do Curador da Galeria de Reciclados Fenearte, a criatividade maior, consiste em entender como aproximar potências e estabelecer oportunidades de inclusão com mais igualdade e oportunidade de desenvolvimento com sustentabilidade. “O sistema de rastreamento dos processos produtivos ESG é uma tentativa de mudança global que pode acelerar a virada de chave”.
De fato e como especialista, em ESG, afirmo, que um dos maiores riscos deste novo comportamento, em todos os âmbitos é o discurso ir pra um lado e as práticas quotidianas para outro bem distante do esperado.
O ESG vem dos termos em inglês: Environmental, Social and Governance – (Ambiental, Social e Governança)
Resumindo, o ESG se apresenta como um conjunto de boas práticas e ações, com vistas a preservação do meio ambiente, ampliando a consciência social e induzindo uma gestão correta e transparente. Daqui pra frente, além das empresas, que já estão se adaptando a estes comportamentos, todo os setores produtivos, inevitavelmente trombarão com esta sigla em algum momento.
Mas para uma melhor compreensão dos nossos leitores, quero trazer uma maior clareza sobre a Fenearte. A Feira Nacional de Negócios do Artesanato – FENEARTE, realiza a sua 24ª edição em Pernambuco, no período de 03 a 14 de julho de 2024.
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A iniciativa é considerada como uma das mais expressivas feiras de artesanato da América Latina e está instalada no Centro de Convenções de Pernambuco, localizado em Olinda e agrega este ano, um número significativo de artesãos.
Essa edição chega com o tema “Sons do Criar — Artesanato que Toca a Gente“, enfatizando a capacidade da produção artesanal sensibilizar o público, por meio de trabalhos criativos e amplamente acessíveis.
De acordo com informações obtidas junto à organização, a Fenearte na edição 2024 receberá investimentos na ordem de R$15 milhões e já com grande expectativa para a geração de um impacto econômico também considerável.
É sabido, que a produção artesanal no Brasil, tem uma força imperativa. Para tanto, a feira contará com aproximadamente 700 espaços de comercialização de produtos e um bom número de estandes individuais.
Esta é sem dúvida, uma das grandes oportunidades para os artesãos pernambucanos e de outros estados brasileiros mostrarem o seu trabalho. Toda esta produção, ocupa os espaços Janete Costa, os Salões de Arte Popular Ana de Holanda e o de Arte Popular Indígena, além da Galeria de Reciclados.
Por se tratar de uma das maiores mostras do país, o evento apresenta este ano algumas novidades, entre elas a Alameda dos Mestres, a Moda, a Cozinha e o Circuito Fenearte, uma sensível Exposição sobre Mestre Nado, um artesão olindense que se destaca por produzir instrumentos musicais em barro, com o qual eu já tive a oportunidade de participar presencialmente de uma de suas oficinas e a Escola de Economia Criativa, que será lançada durante a feira. É bom destacar também o foco no Programa Pernambuco Artesão, que valoriza e gera oportunidades para este segmento.
Enfim, um grande evento que valoriza e traz foco à produção artesanal, mais uma vez unindo a produção cultural, agregando valor ao calendário turístico em âmbito internacional.
A Galeria de Reciclados na feira de artesanato de Olinda – Feira Nacional de Negócios do Artesanato FENEARTE
Diante da emergência para que se instale um comportamento coletivo em favor da sustentabilidade nas artes, é que queremos nesta matéria, dar foco à Galeria de Reciclados, a meu ver, o espaço que acolhe a temática mais emergente entre todas as pautas porque permeia a Fenearte.
Como Curador convidado para a Galeria de Reciclados, o multiartista Leopoldo Nóbrega, cita o seguinte em seu texto de apresentação da galeria: “É em atenção à natureza, que clama pela urgente mudança dos padrões destrutivos da nossa civilização humana, que dedicamos essa galeria de produtos sustentáveis da Economia Criativa, como estímulo à Economia Circular, na FENEARTE 2024.
Através do edital de participação, curadoria e um time de jurados especialistas, selecionamos Artistas, Designers e Artesã/os para apresentarem seus olhares criativos sobre diferentes formas de REUTILIZAR e RECICLAR materiais descartados, reduzindo de forma original, o consumo de matéria prima virgem, que seria utilizada nos processos e produtos.
As obras em exposição refletem um tempo de atualização comportamental necessário, inovando tradições e conceitos de forma alternativa, aproximando todos nós da mesma responsabilidade de cocriar uma sociedade comprometida com a preservação do meio ambiente global e o futuro saudável das próximas gerações. Do consumo ao descarte, temos várias oportunidades de participar de forma ativa e consciente.”
Como amante das artes, sem muita ousadia diria, que realmente são trabalhos inspiradores e que por algum motivo estético, conceitual e artístico, mereceram estar ali, expostos em um espaço tão nobre e em um evento de tamanha relevância.
Leopoldo, que participou da seleção dos inscritos para a Galeria Fenearte explicou, que além de Curador de Arte e Sustentabilidade da Galeria de Reciclados Fenearte 2024, coube a ele também a responsabilidade da escolha de um time especial composto por 8 jurados especialistas em áreas diversas e que naturalmente, participou atentamente da votação para escolha de 3 vencedores nas categorias Arte, Design e Artesanato! Além destes, mais 4 artistas foram destacados como menção honrosa.
O corpo de jurados, foi composto por Maria do Carmo da Silveira Xavier, Artista Plástica e Professora de Arte do CODAI/ UFRPE e pesquisadora em ECO Arte Educação e Sustentabilidade, Paulo Azul, arquiteto e artista plástico, Thiana Santos, designer e artista plástica, Adalberto Souza, consultor em inovação de negócios, Economia Criativa e ESG, Nestor Mádenes, produtor, artista e empreendedor da Economia Criativa, Márcia Cabral, Curadora especialista em Arte e Design de Interiores, Catharine Torres, artista plástica e Ana Veloso, também artista Plástica e coordenadora do atelier e galeria de arte do COMPAZ Ariano Suassuna. A estes artistas é que coube a responsabilidade do trabalho de avaliação e definição dos agraciados com os prêmios e Menções.
Imaginem, que este exercício aparentemente simples, teve início na pré-seleção de 70 finalistas e vale dizer que esta tarefa também coube à Leopoldo. Após a definição dos pré-selecionados, é que os jurados escolheram os ganhadores dos prêmios e menções.
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Entendo como muito justo e pontual tanto a premiação quanto o reconhecimento da menção de honra ao trabalho artístico. Toda manifestação artística carrega saberes, conhecimentos, esforços e um pedaço de vida daquele que a concebe.
Não satisfeito e como bom geógrafo, antenado nos preceitos da sustentabilidade, quis saber da curadoria da Galeria de Reciclados, se a produção artesanal e os trabalhos inscritos, fizeram jus ao critério Reciclagem. Sincero e direto como sempre, Leopoldo foi enfático, “Não posso afirmar que as obras selecionadas se enquadram como “reciclagem”, mas sim, orbitam dentro da política de reutilização de materiais e redução dos impactos ambientais, propósito central da mostra. De fato, o sistema de comunicação em geral, ainda utiliza nomenclaturas incorretas para as produções sustentáveis. Há muito tempo que a palavra reciclagem, precisa ser revisitada pela sociedade, pela economia criativa, pela legislação, pela mídia e vários elos que se apresentam órfãos de informações técnicas que iluminem o assunto. Não vejo como um desafio apenas da Fenearte, mas de toda sociedade interessada no assunto (incluindo os veículos de informação e centros educativos)”.
Sem deixar a língua quieta dentro da boca, cutuquei ainda mais e quis conhecer a opinião de Nóbrega, se diante dos artistas selecionados, a inovação está presente também na produção artesanal e Leopoldo enfatizou: “O artesanato é um território fértil para infinitas inovações, e a criatividade é sem dúvida o ponto de partida para o desejo de revisitar padrões e conceitos que cristalizam as fronteiras entre: Tradição x Inovação. O artesanato tem sofrido com o baixo valor agregado por não saber trabalhar branding. Hoje, todos os produtos precisam saber mostrar os processos de transformação das ideias e despertar memórias afetivas, revelando identidade, mas também relações subjetivas de sentido e propósito. O que o consumidor consciente procura são motivos para adquirir aquela produção. E isso ainda está obscuro nos discursos, nas formas de exposição e embalagens dos produtos, na apresentação em geral das narrativas e principalmente na invisibilidade das mãos que executaram as ideias. A inovação precisa ser ponte entre esses territórios criativos, envolvendo também tecnologias e ancestralidade de forma holística. O fácil acesso a pesquisas visuais online também tem diluído o nível de originalidade e ineditismo, encarcerando muitas vezes, o artesanato em cópias sem valor”.
Como leigo e diante de uma “Galeria de Reciclados”, achei importante ouvir de quem entende das artes plásticas, como, afinal, podemos definir o design sustentável?
E recebi prontamente o ponto de vista do especialista: “Design por si, já é um conceito que busca uma visão holística entre ideias e aprimoramentos técnicos e tecnológicos capazes de serem “desejáveis” e escaláveis produtivamente. Algo bem diferente do artesanato, que muitas vezes está relacionado muito mais a sua tradição cultural ou a limitações operacionais de certos arranjos produtivos. O design sustentável é uma expressão que incorpora o compromisso de redução dos impactos ambientais, utilizando a inovação como desafio de convivência global”.
Diante destes comentários é que fico mais crente na força transformadora da arte e na caminhada incansável que precisamos percorrer diuturnamente, em busca de informações e mais aprendizados. Se não alfabetizarmos nossa mente e especialmente o nosso olhar, ainda que como entes sensíveis, não reconheceremos a essência contida nas obras de arte que estarão eventualmente em nosso caminho vida afora. É de fato, um bom exercício a se fazer, lapidar nosso olhar e aguçar nossa sensibilidade.
Por fim, sem querer explorar demais a intensa mente de Leopoldo Nóbrega, perguntei qual era a expectativa do “Curador”, no que tange a reação do público da Feira, diante de todo o acervo artístico exposto?
E ouvi, “Sem dúvida, eu acredito que a Galeria de Arte Sustentável da Fenearte é uma grande oportunidade de conexões construtivas e diálogos criativos contemporâneos que contribuem para a formação de público, desenvolvimento econômico e educação ambiental para mudanças de comportamento e sensibilização de diferentes nichos da sociedade, através da arte, do design e do artesanato”.
Como visitar a FENEARTE
E é isso, para quem tiver a sorte de estar neste período em Pernambuco, precisamente nas imediações de Recife e Olinda, fica a dica: a visitação na 24ª edição da Fenearte 2024 estará disponível de segunda a sexta-feira, das 14h às 22h e aos Sábados e domingos, das 10h às 22h, e acontece entre 6 e 13 de julho no Centro de Convenções de Pernambuco.
O preço dos ingressos varia de acordo com os dias da semana, sendo, de segunda a quinta-feira, a entrada a R$ 6,00 – meia e R$ 12,00 -inteira e de sexta-feira a domingo, a entrada a R$ 8,00 – meia e R$ 16,00 – inteira.
Passe por lá e prestigie o artesanato brasileiro, vale muito a pena!
No mais, louvo novamente o talento e a gentileza de Leopoldo Nóbrega e agradeço imensamente sua tão honrosa contribuição a este conteúdo. Até a próxima!
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