Semana Santa nas cidades históricas de Minas Gerais
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Cultura

Semana Santa nas cidades históricas mineiras

Uma viagem entre o sagrado e o mundano, entre igrejas barrocas e ruas de pedra, como a Semana Santa transforma as cidades históricas de Minas Gerais em palcos de fé, cultura e tradição.

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Procissão em Santa Luzia - MG (Foto: Acervo ACHMG)

Para quem nos acompanha semanalmente por aqui, deve estar aguardando mais um conteúdo sobre este tempo especial que chegará sugerindo reflexão, oração e mais espiritualidade.

A Semana Santa é uma época que mistura devoção, tradição e oportunidades. No embalo das procissões e dos rituais religiosos, também surgem sabores, sons e cenários que movimentam cidades inteiras. É aquele momento em que o sagrado e o mundano se encontram, transformando vilarejos e centros históricos em destinos turísticos fervilhantes.

Mas será que, entre o tapete de flores da fé e o calçamento de pedra das estratégias comerciais, ainda há espaço para reflexões? Vamos seguir nessa viagem que vai da espiritualidade ao mercado porque, afinal, a Semana Santa tem muito mais a dizer do que parece à primeira vista.

União da fé e das tradições mineiras

É sempre bom pararmos um pouco para pensarmos sobre como temos praticado nossa fé e sobre como podemos celebrar a vida em comunidade, ouvindo as mensagens tão significativas que nos são passadas nos dias em que se celebra a paixão e morte de Jesus Cristo.

Melhor ainda é se pudermos participar destes momentos de fé, curtindo uma variada programação cultural, aproveitando o melhor da culinária mineira e passeando por entre as emblemáticas ruas centenárias das Cidades Históricas de Minas Gerais.

São nas cidades históricas nas Minas Gerais, onde os turistas poderão conhecer as mais tradicionais e antigas celebrações envolvendo os últimos passos de Jesus. Indumentárias, imagens históricas, estandartes, personagens e encenações, são alguns dos atributos utilizados pela igreja católica para dar ainda mais vida às celebrações sacras.

Aproveitado seus cenários históricos e arquitetura colonial, as cidades históricas mineiras dão vida e forma a uma das mais belas e emocionantes manifestações religiosas brasileiras, a Semana Santa.

Semana Santa em Minas Gerais

Conhecida nacional e internacionalmente, a Semana Santa em Minas Gerais, para além do contexto religioso, conecta a todos, devotos e turistas, em verdadeiras manifestações artísticas, com suas belas encenações bíblicas, muitas delas vividas pelas comunidades há mais de trezentos anos, o que dá ainda mais valor às celebrações.

Prova disso são os muitos eventos religiosos que ocorrem nas cidades históricas inseridas na Região Metropolitana da capital mineira Belo Horizonte, como em Sabará, Santa Luzia, Caeté e Raposos.

Região metropolitana de Belo Horizonte

Em Sabará, a 30km de Belo Horizonte, a Semana Santa é uma das que mais preservaram as manifestações originárias de Portugal. Na Igreja são Francisco, a abertura do Sepulcro na Quinta-feira Santa tem na Cerimônia do Santo Sepulcro, um ritual que remonta ao século XIX e é considerado único no país, pois retrata a morte de Jesus na quinta-feira, na véspera, da Sexta-feira da Paixão, quando os católicos relembram a crucificação e acompanham a Procissão do Enterro.

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Ainda em Sabará, na Igreja Senhor Bom Jesus, outro acontecimento, com a Procissão realizada na madruga, às 4h da manhã, da Sexta-Feira da Paixão, quando é realizada a Via Sacra da Penitência, onde centenas de fiéis pagam promessas subindo as ladeiras íngremes do Morro da Cruz.  

Em Santa Luzia, a Semana Santa está ligada à formação do município, cujo povoamento se deu no século XVIII. As celebrações tornaram-se um dos aspectos mais significativos da vida social e da identidade cultural da cidade, que ocorrem nas ruas Direita, Rua do Serro e Floriano Peixoto.

Dentre as atividades realizadas durante as celebrações, destacam-se a confecção dos tapetes devocionais de serragem. As ruas são tomadas por tapetes coloridos, símbolos da Ressurreição de Cristo, quando os moradores do Centro Histórico enfeitam suas janelas com toalhas bordadas.  

Em Caeté a Semana Santa é marcada por profunda tradição religiosa e cultural, vivida em todo o município. O centro histórico da cidade é ocupado por procissões e encenações da Paixão de Cristo. O Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade está compartilhando uma série de vídeos reunindo meditações da Via-Sacra, uma experiência de fé e devoção.  

Em Raposos, onde se encontra a primeira Matriz de Minas Gerais, as celebrações terão início no Domingo de Ramos. É muito forte a participação da população de Raposos, tomando as ruas do centro histórico com a procissão da Sexta-Feira Santa passando por todo centro da cidade, aos sons das matracas, em uma reunião de milhares de devotos, turistas e fiéis.

Conceição do Mato Dentro

Semana Santa em Conceição do Mato Dentro (Foto: Acervo ACHMG)

Nos caminhos da Estrada Real, em Conceição do Mato Dentro, a cidade se prepara para viver um dos momentos mais importantes do calendário cristão, tão marcado pelo Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos, um dos maiores do Brasil. Com ritos tradicionais e encenações que fortalecem a fé e a cultura local, as celebrações começam ainda na Quaresma e se intensificam na Semana Santa, trazendo momentos de reflexões, devoção e arte.  

Congonhas

Em Congonhas, a proposta é a emoção! As celebrações da Semana Santa, uma das mais tradicionais do Brasil, ganham destaque mais uma vez em 2025. Com origens que remontam ao período colonial, a cidade histórica se transforma em um grande palco de fé e devoção, reunindo fiéis, turistas e artistas para uma experiência única.

O evento acontece entre os dias 13 e 20 de abril, período em que Congonhas vivencia uma verdadeira epopeia religiosa e cultural. O cenário das celebrações não poderia ser mais simbólico: o conjunto arquitetônico formado pela Basílica do Senhor Bom Jesus, os profetas de pedra-sabão esculpidos por Aleijadinho e as Capelas dos Passos da Paixão, onde se encontram imagens talhadas em cedro pelo mestre barroco e pintadas por Manoel da Costa Ataíde e Xavier Carneiro.

Esse patrimônio, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, serve de pano de fundo para as encenações que reconstituem a vida pública, paixão, morte e ressurreição de Cristo.

As encenações, realizadas desde a década de 1950 pelos Padres Redentoristas e há 30 anos sob a direção do “Grupo Dez Pra’s Oito”, envolvem muitos atores e figurantes, além do poder público e empresas responsáveis pela infraestrutura de iluminação, sonorização e transmissão. Estima-se que mais de mil pessoas participem diretamente da organização do evento, que ao longo da programação deve atrair cerca de 20 mil visitantes.

Entre os momentos mais aguardados da Semana Santa de Congonhas, destacam-se as apresentações entre os dias 17 e 20 de abril. Na Quinta-feira Santa, acontece a encenação da Santa Ceia, às 19h, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Já na Sexta-feira Santa, às 18h30, o ator Amaury Lorenzo, um dos destaques da TV Globo e natural de Congonhas, assume o papel de Jesus Cristo na encenação da Paixão e Morte, seguida pelo Sermão do Descendimento e a tradicional Procissão do Senhor Morto, que percorre o trajeto da Basílica até a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, reunindo milhares de fiéis.

No Domingo de Páscoa, Lorenzo volta ao papel de Jesus para a encenação da Ressurreição de Cristo, com apresentações às 11h e 16h. O encerramento da programação acontece no final da tarde, às 18h, com a Procissão do Triunfo de Nossa Senhora, que percorre o mesmo trajeto da Basílica à Matriz.

Em 2025, a Semana Santa em Congonhas, será realizada pelas paróquias Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Matriz de São José Operário, Paróquia Mãe da Igreja e Basílica do Senhor Bom Jesus. Mais do que um evento religioso, a celebração reafirma o valor da tradição, da fé e da cultura barroca, que fazem de Congonhas um dos destinos mais procurados do país durante a Páscoa.

Mariana

Em Mariana, no coração do estado, o destaque vai para o resgate da Procissão do Fogaréu, após mais de um século. A cidade se prepara para viver uma Semana Santa histórica. Este ano,  além de celebrar os 280 anos de uma das mais tradicionais Arquidioceses do Brasil, a cidade será palco do resgate de uma tradição que não ocorre há mais de 100 anos, a Procissão do Fogaréu, marcada para a Quinta-feira Santa.

A cerimônia, que remonta aos séculos passados, simboliza a busca e prisão de Jesus no Horto das Oliveiras. À luz de tochas, figuras encapuzadas percorrem as ruas em um cortejo solene, criando um dos momentos mais impactantes da Semana Santa. O retorno da procissão reforça o compromisso do município em preservar e fortalecer seu patrimônio religioso e cultural.

As três paróquias da cidade – Nossa Senhora da Assunção (Catedral), Sagrado Coração de Jesus (Rosário e Colina) e Nossa Senhora Aparecida (Cabanas), organizam uma programação intensa, tendo como ponto central o Tríduo Pascal, que convida fiéis e visitantes à reflexão, reconciliação e renovação espiritual.

Mariana mantém vivas tradições que atravessam séculos. Os cânticos em latim, o Ofício de Trevas, as procissões históricas, o Descendimento da Cruz e a solene Procissão da Ressurreição fazem da cidade um dos destinos mais autênticos do turismo religioso no Brasil.

Neste ano, as celebrações também dialogam com a Campanha da Fraternidade 2025, que reflete sobre a Ecologia Integral. Em meio às orações e ritos, o chamado é para um compromisso mais profundo com a criação e o cuidado com o planeta.  

Ouro Preto

Logo ali, em Ouro Preto, a Semana Santa promete ser vivida com toda a intensidade dos seus rituais tradicionais. As cerimônias mantêm viva a liturgia herdada do Ciclo do Ouro, enquanto as igrejas barrocas brilham sob a luz do fervor e da fé.

Há mais de três séculos, a organização desses eventos tem sua alternância cuidadosamente preservada: nos anos ímpares, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias assume o comando, enquanto, nos anos pares, a responsabilidade é da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, uma divisão que remonta aos tempos da antiga Vila Rica e reflete a separação histórica entre paulistas e portugueses.

O grandioso cenário da Igreja de São Francisco de Assis, obra-prima do Aleijadinho, é palco para as celebrações do Lava-Pés e do Descendimento da Cruz. Já as procissões mais marcantes — o Fogaréu, na Quarta-Feira de Trevas, o Enterro, na Sexta-Feira da Paixão, e a Ressurreição, no Domingo de Páscoa — mobilizam e emocionam fiéis e visitantes de todos os cantos.

E no Sábado de Aleluia, a tradição ganha vida e cor no tapete florido que se estende por 2 km, ligando as Matriz de Antônio Dias e do Pilar. Essa criação, feita com o entusiasmo de moradores e turistas, transforma a cidade em um verdadeiro espetáculo de arte efêmera e devoção coletiva.

Catas Altas

Na cinematográfica cidade de Catas Altas a Semana Santa ocupa todo o Centro Histórico, com encenações utilizando o conjunto arquitetônico como cenário. Na imponente Matriz de Nossa Senhora da Conceição as passagens bíblicas ganham novas interpretações com a Serra do Caraça ao fundo. As procissões são programadas para serpentear as ladeiras históricas, com seu belo calçamento em “pé de moleque”, passando em frente de Capelas e igrejas centenárias.    

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Bom Jesus do Amparo

Na cidade de Bom Jesus do Amparo a oferta é de uma programação intensa na Semana Santa, que terá seu ápice no final da Semana da Páscoa. A secular Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus do Amparo, construída em 1843, será o palco para as encenações litúrgicas. Este ano terá como marco o retorno da Encenação da Paixão de Cristo.

Vale do Jequitinhonha

A Semana Santa em Couto de Magalhães de Minas, já no Vale do Jequitinhonha e ao lado de Diamantina, é um chamado para a vivenciar espiritual e culturalmente os últimos passos de Jesus. As encenações e rituais tradicionais são ricos em fé e devoção. Lá os turistas também são atores nas celebrações e rituais, como na Procissão de Ramos, Procissões do Encontro, além do tradicional teatro da encenação no Sábado Santo e o Domingo de Páscoa, com a tradicional Queima do Judas, com brincadeiras para crianças e adultos.

Centro-Oeste mineiro

Domingo de Ramos em Itapecerica – MG (Foto: Acervo ACHMG)

Em Itapecerica, no centro-oeste mineiro, a Semana Santa é vivida intensamente desde meados do século XVIII, sempre utilizando a mesma estrutura. Com características muito peculiares, é fácil perceber seu diferencial na ordem e no estilo das procissões, nas músicas sacras, nos toques dos sinos e nos ritos. A Paróquia São Bento esclarece que para este ano foram necessárias algumas alterações, devido à reforma que acontece na Igreja Matriz de São Bento.  

Sul de Minas

Na mística São Thomé das Letras, no Sul de Minas, a cerimônia é secular e seus primeiros registros são do início do século XIX. As cerimônias tradicionalmente têm início no Domingo de Ramos, 13 de abril, com a Procissão de Ramos, finalizando no dia 20 de abril, com as celebrações do Domingo da Páscoa.

Celebração em São Tomé das Letras – MG (Foto: Acervo ACHMG)

Os ritos de São Thomé se destacam pela riqueza cultural dos cantos, motetos e beleza das imagens, como a veneranda imagem de Nosso Senhor dos Passos, vinda de Portugal, doada pelo lendário Barão de Alfenas, em meados do século XIX, por volta do ano de 1850. Ponto de destaque da cidade e atrativo turístico são os Passos da Paixão, construídos em pedra São Tomé, nos primeiros anos do século XIX.  

Ao lado de São Thomé das Letras, Baependi, a terra da Beata Nhá Chica, com seu forte turismo religioso, a Semana Santa é marcada pelos cantos dos belíssimos e históricos motetos, além de uma das mais belas encenações de Minas Gerais e do Brasil, o Quadro Vivo da Semana Santa.  Realizado há mais de 50 anos, o Quadro Vivo é um teatro itinerante, feito a céu aberto, que tem o acompanhamento da tradicional Corporação Musical Carlos Gomes.  

E assim, entre a força das tradições e o dinamismo do turismo, a Semana Santa continua a contar sua história. Uma narrativa onde fé e economia caminham lado a lado.

Seja nos rituais centenários ou na movimentação das ruas, fica claro que esse encontro entre o sagrado e o mundano não apenas preserva nossas raízes, mas também impulsiona nossa cultura.

E para quem vive, visita ou apenas observa, a Semana Santa é mais do que um evento, é um reflexo do que somos, na mistura única de espiritualidade, arte e inovação que só o Brasil consegue traduzir.

Vou seguir pesquisando sobre a Semana Santa nas Minas Gerais. História, devoção, arte e fé nos esperam nas Cidades Históricas em abril. Programe-se e venha aproveitar!

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Até a próxima.

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