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Gastronomia

INHAC: da periferia de Belo Horizonte para o futuro da gastronomia do Brasil

Projeto une aulas de culinária e transformação social de olho no futuro da gastronomia brasileira.

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Fred, aluno INHAC que vendia sobremesa nas ruas, hoje cozinheiro profissional (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Qual o retrato do presente e do futuro da gastronomia do Brasil? Onde estão os talentos que transformarão insumos nativos em receitas premiadas? Tem um Brasil que está de olho no futuro, que vem encontrando na cozinha a oportunidade de mudar de vida, de fazer acontecer! E pude conhecer um pedacinho desse futuro por meio de um projeto que une inspiração, vontades, lacunas e que vê na cozinha a esperança para jovens da periferia de Belo Horizonte.

Localizado na região oeste da capital mineira, o INHAC (Instituto de Hospitalidade e Artes Culinárias) nasce com a missão de formar novos cozinheiros oriundos das periferias, abrindo as portas da gastronomia profissional para jovens. A primeira turma do curso técnico em gastronomia acaba de se formar, marcando um passo decisivo na construção de uma culinária mais diversa, democrática e representativa do Brasil.

O INHAC nasceu de um sonho

Cerimonia de formatura com a presença de autoridades e empresas apoiadoras do projeto. (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Com a curadoria técnica do chef Léo Paixão, o sonho de transformar a vida das pessoas por meio da gastronomia de Sarah Rocha e sua mãe, a professora Carmem Rocha, começa a se tornar realidade. Quem tem a oportunidade de conhecer Sarah, diretora executiva do INHAC, sente em seu sorriso e seus olhos a generosidade de quem deseja o melhor para cada um daqueles alunos, na nada melhor do que desejar “futuros”, principalmente a meninas e a população LGBTQIA+. Não se pode deixar à margem quem já tem uma vida às margens.

A periferia ainda dói em muitos lugares, mas, talvez, o principal deles é a falta de oportunidades. É esta lacuna que o INHAC tenta vencer, com o apoio de grandes empresas que reverenciam a sustentabilidade social, com o carinho e acolhimento de um chef consagrado, reconhecido, admirado, além do trabalho de tantos apoiadores nominados e anônimos. É preciso reverenciar cada uma dessas empresas.

Uma nova chance de futuro

Convidados cozinhando com alunos no último dia de aula da turma de formandos 2025 (Foto: Thiago Paes @paespleomundo)

Chegar ao INHAC e se formar num cozinheiro é uma pequena trajetória de muitos desafios, de resiliências, de quebra de barreiras e paradigmas para muitos alunos. A história do Fred é exemplo disso. O menino empreendedor que viu na falta de oportunidades a oportunidade de ser independente foi vender “palha italiana” nas ruas de BH. “Eu queria me reencontrar”, disse, na realidade irônica da vida de alguém que nem começou a vida aos 20 e poucos anos de idade.

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Mas o Fred venceu todos os dias. A “palha italiana” se transformou em sanduiche natural, que se tornou um tal de “coffee braek” – “Eu nem sabia o que era isso”, sorri. A comunidade do Morro das Pedras, na região oeste de Belo Horizonte passou a conhecer o menino empreendedor, o “Fred do pão de queijo”. Que esta semana eu tive a oportunidade de conhecer e cozinhar com ele em seu último dia como aluno do INHAC. Ele agora, profissional, com a melhor receita do pão de queijo, entre técnicas e aulas com chefs famosos, processos industriais e diante da oportunidade de cozinhar todos os dias – em todas as aulas – dentro de um instituto que a todo momento reverencia seu talento e que abraça o seu trabalho.

Foto: @paespelomundo

Eu te confesso que saí daquela formatura muito emocionado, não só pela história do Fred, mas pela janela de oportunidades que o INHAC está abrindo para a nova gastronomia brasileira, por meio da capacidade de tanta gente talentosa e às vezes sem visibilidade, sem oportunidade. O vencer também é um despertar. Por isso é preciso o olhar de quem desperte.

O retrato da gastronomia brasileira de hoje é o de um país que precisa reencontrar sua própria identidade, valorizando seus insumos, seus saberes e seus cozinheiros. O INHAC é uma semente viva dessa nova culinária brasileira —  autêntica, plural, periférica. Afinal a periferia só é periferia porque em algum momento determinamos o que é centro. Portanto, mudemos as rotas, reconheçamos que já somos o país do futuro. E que no futuro do presente, portas e janelas estejam abertas para que reconheçamos o amanhã que queremos. Bravo, INHAC, Bravo!

Thiago Paes é colunista de turismo e gastronomia. Apresentador de TV em Travel Box Brazil. Está nas redes sociais como @paespelomundo. Press: contato@paespelomundo.com.br

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