Gastronomia
Tem comida normal na Tailândia?
Exótica pra quem? De comida de rua a restaurantes sofisticados, saiba o que tem para comer no país do Sudeste Asiático
O que seria exótico? Um arroz refogado servido no abacaxi? Enroladinhos de verduras na folha de arroz? Ou quem sabe um prato de vagem com camarões? A simplicidade dos ingredientes da culinária tailandesa agrada a paladares dos mais exigentes. As combinações com molhos agridoces, os caldos com macarrão de arroz (lámem) ou ainda os frutos do mar servidos com diversos temperos e ervas frescas são o suprassumo da gastronomia local.
Restaurantes como o The House by Ginger, na cidade de Chiang Mai, surpreendem no paladar (nem tanto no atendimento – que fique claro! Seu pedido pode demorar, ou nem vir, ou ter sido apenas a minha experiência por lá). Mas foi, sem dúvidas, onde provei o melhor da culinária tailandesa entre uma dezena de restaurantes pelo país.
Destaque especial para o crudo de salmão com pimenta e ervas (agridoce, claro!). De sabor envolvente. Talvez a forma de apresentar deixou tudo diferente: o salmão fresco fatiado em tiras médias permite que o molho e as ervas sejam enrolados e se concentre no meio como um sushi de puro salmão. Dessa forma acentuou bastante o sabor e ficou realmente incrível.
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O prato mais pedido pelos turistas que chegam a Tailândia e buscam nos primeiros dias comer algo típico é sem dúvidas o Pad Thai. Um macarrão refogado com molho de ostra e óleo de gergelim, servido com legumes em palitos e frutos do mar. É quase uma obrigatoriedade oferecer um Pad Thai nos cardápios. Até pizzaria italiana oferece o Pad Thai como “outras opções em Thai food”. Apesar da fama, não é o prato mais consumido pelos tailandeses, disse a professora de culinária que nos guiou, e sim o Phan kaphrao, garante.
Na Folha de Chá
Outro destaque, um dos que mais me chamou atenção na culinária tailandesa foi a chamada “Meang Kham” ou simplesmente a entrada de folha de Cha-Pu (uma variante do chá preto), com pedacinhos de gengibre, cebola roxa, pimenta, limão, amendoim e um molho doce feito a base de açúcar de coco, numa combinação interessante e fácil de provar.
Com a folha faz um pequeno cone, coloca todos os ingredientes dentro, cobre com o molho (com textura parecida ao mel de abelha) e fecha. Tudo com as mãos, sem talheres. O gengibre, a acidez da cebola, a ardência da pimenta com o doce do molho vai deixando tudo saborosíssimo. Servida nos melhores restaurantes, foi também a entrada escolhida pela professora de culinária na aula que eu e outros turistas na cidade fizemos na escola de culinária de Chiang Mai.
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A culinária é algo que faz parte da cultura tailandesa, um patrimônio nacional. A influência chinesa, portuguesa e de outros países da região como Laos e Myamar fazem da gastronomia tailandesa algo realmente muito especial. É algo que sim, vive-se nas ruas, nos becos cotidianos ou nas avenidas turísticas. Comer um Lamen, arroz frito, legumes salteados e muitos frutos do mar, faz parte da rotina dos locais que contagia turistas. A comida de rua é algo tão reverenciado que até mesmo os grandes e mais sofisticados shoppings da megalópole Bangkok reproduzem num andar inteiro as bancas de ruas e seus aperitivos típicos.
Esqueça pães como acompanhamentos
A “Thai Food” é um arrasto de panelas wok, brasas que levantam fogo no meio da rua, e a sofisticação de restaurantes que apresentam combinações refrescantes, agridoces e até mesmo inquietantes.
O país que reverencia a comida de rua como um patrimônio nacional é sinônimo também – para nós brasileiros – de uma culinária estranha, chamada de exótica e com temperos que vão muito além dos comumente conhecidos no ocidente. No entanto, a Tailândia tem uma culinária simples, agridoce, surpreendente e até um tanto normal.
Para minha surpresa, a pergunta que mais me faziam no Instagram @paespelomundo quando alguém via nas ruas de Bangkok eu mostrar bandejas de escorpião, aranhas, bancas vendendo carne de jacaré ao lado de frutas tropicais como manga, jaca, coco, era se na Tailândia tinha comida normal. Seria muito simples responder isso se considerássemos que qualquer que fosse a comida, para os nativos seria normal.
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Aprendi que considerar algo como exótico vai depender da ótica. Exótico para quem? Talvez para quem venha de fora, comer um feijão preto com orelha de porco seja bem exótico. Nos sábados do Brasil não, é uma tradição.
Mas há algo que precisa ser considerado. Nas ruas de Bangkok – sejamos mais claros – nas ruas turísticas de Bangkok vendedores ambulantes atraem (e vendem para) turistas a ideia de que escorpião faz parte da culinária local. No entendo, não vi um tailandês sequer provando escorpião nas ruas, não vi um restaurante sequer oferecendo em seu cardápio a iguaria. E que bom, pois o escorpião servido nas ruas turísticas da cidade é uma carcaça torrada do aracnídeo, tão torrada que nem parece de verdade (e talvez nem seja), até mesmo porque todos tem a mesma textura, a mesma cor, o mesmo formato em qualquer lugar que seja.
excentricidade do país do Sudeste Asiático é a carne de jacaré servida nas bancas de comida de rua a noite, nas mais movimentadas, como na Khaosan Road. Simplesmente o Jacaré é exposto inteiro e lascas do animal é servido como um sashimi. Não me pergunte o gosto, porque simplesmente virada o rosto quando eu passava por aquelas bancas. Não pela carne de jacaré que faz parte do cardápio de muitas cidades do norte e centro oeste brasileiro, mas pela exposição um tanto desnecessária (a meu ver) do animal assim, aberto como um troféu na rua.
Turismo e gastronomia são temas que se fundem, que acolhem, que abraçam, como um grande “Bem-Vindos”. É preciso entendermos que em grande parte das cidades é possível criar rotas gastronômicas, resgatar valores, história, tradições por meio da culinária e atrair turistas. Uma viagem à Tailândia deixa um rastro de é possível, dá pra fazer. Os smoothies de frutas nas bancas de ruas, a água de coco servida com a carne do coco dentro, as esquinas cheias de sabor, temperos e chás. Tudo leve, simples, e distante do marketing exótico da comida estranha, e bem encantador. Se eu fosse fazer uma lista do que eu adorei provar na Tailândia sairia: os peixes com molhos agridoces, os rolinhos com verduras, os dumplings (mais um de influência chinesa), os smoothies, o arroz frito no abacaxi com camarões, a entrada de gengibre e cebola na folha de chá, o sorvete no coco. Tudo tão normal, tudo feito de uma forma tão exótica.
Comida normal é aquela que faz parte da nossa cultura, dos nossos espaços, da nossa trajetória, da história. Escorpião, aranhas, minhocas e jacarés têm feito um “bom marketing” por lá! E parece que está dando certo. Podemos aprender e fazer algo melhor e mais sustentável por aqui. Que tal conhecermos o Aratu de Sergipe, as cocadas de Alagoas, a Lagosta cearense, o tambaqui do norte, o churrasco do sul. Quem sabe estejamos falando mais sobre turismo e gastronomia pelo Brasil. Talvez estejamos conhecendo mais sobre nós mesmos, cultura e culinária que contam histórias, capazes de nos projetar pelo mundo. Pense nisso.
Thiago Paes viaja o mundo em busca de experiências em viagem&gastronomia. É apresentador do programa PaesPeloMundo no canal Travel Box Brazil, colunista do Portal Uai Turismo e está nas redes sociais como @paespelomundo
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.