Fatores que ameaçam a qualidade do atendimento na hotelaria
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Hotelaria: salários, jornadas e promoções prematuras ameaçam a qualidade 

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Foto: Freepik

Nos últimos dias foi divulgado estudo nacional englobando os salários médios de 428 profissões no Brasil após levantamento realizado pela Consultoria LCA 4Intelligence utilizando dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE. No relatório foi incluída a remuneração média de gerentes de hotéis. A média salarial para função gerente de hotel apurada foi de R$ 6.900,00. Outras funções correlatas com a hotelaria indicaram R$ 5.900,00 para gerentes de restaurantes e R$ 4.300,00 para chefs de cozinha embora nestes casos não sendo indicados serem específicos em hotéis. 

Com base na divulgação destes dados, abordo na coluna desta semana a perspectiva do colega Sebastião Nunes da SPN Comunicação Digital que detém abrangente experiência em cargos de alta direção em hotéis em diversos países na Hilton, Marriott e Sheraton entre outras, a respeito de sua visão sobre a questão nos tempos atuais. Sabemos que a composição de salários oferecidos seguem métricas próprias relativas a realidade de cada setor em questão o que muita vezes dificulta um hotel ou rede equacionar este problema sozinho. Cito como contraponto aos debate que historicamente, desde quando entrei na hotelaria e percorrendo diversos países, sempre constatei ser a remuneração salarial na hospitalidade como abaixo de outros segmentos das atividades econômicas nessas respectivas localidades. Temos portanto um problema estrutural e global em debate.             

Hotelaria em Xeque: baixos salários, jornadas exaustivas e promoções prematuras ameaçam a qualidade do atendimento

A hotelaria no Brasil enfrenta desafios estruturais que comprometem a qualidade do serviço e a competitividade do setor. Entre os principais problemas atuais estão os baixos salários, a promoção precoce de profissionais inexperientes e condições de trabalho desgastantes. Está cada vez mais difícil alguém querer seguir carreira hoteleira, e em parte, por aqueles que buscam retorno mais rápido de seus investimentos “flexibilizando” o compromisso com a qualidade.“Talvez antigamente houvessem certos excessos em mimos e similares, mas que os hóspedes adoravam. Isso porém será matéria para outra ocasião” explica Sebastião Nunes.

Os salários iniciais para funções operacionais são pouco atrativos, levando à alta rotatividade e à dificuldade de retenção de talentos. Muitos profissionais deixam o setor em busca de melhores oportunidades em outras áreas o que impacta diretamente a continuidade e a excelência do atendimento ofertado. Além disso, a ascensão acelerada de colaboradores sem experiência suficiente para cargos de gestão resulta em decisões administrativas frágeis, erros fatídicos de avaliações e na condução de situações críticas e na falta de liderança qualificada percebida facilmente por toda a equipe e por colegas mais experientes.

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Isso ocorre, em parte, causado pelo achatamento atual de salários para gerências gerais e departamentais ocorrido de forma muito acelerada ao longos dos últimos anos e comprovada agora pelo estudo PNAD.

Outro fator crítico observado mais recentemente é a carga horária. A maioria dos trabalhadores da hotelaria enfrenta ainda semanas de seis dias, com turnos muitas vezes rotativos e jornadas prolongadas, dificultando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional fortemente mais valorizada após a pandemia. A possibilidade de executar apenas uma escala intermitente, que oferece trabalho somente quando há demanda e sem vínculo empregatício formal gera ainda mais instabilidade, falta de comprometimento afastando talentos genuínos da indústria hoteleira.

Essa precarização do trabalho desmotiva muitos profissionais e compromete a experiência dos hóspedes. “E vejo que a tendência é piorar, o que é uma pena! Para reverter esse cenário, é essencial investir na valorização do capital humano” opina Sebastião.

Melhor remuneração, planos de carreira estruturados e programas de capacitação contínua podem atrair e reter talentos, garantindo um atendimento de excelência. Além disso, políticas. que promovam jornadas mais equilibradas conforme tendência claramente apontada nas discussões recentes sobre flexibilização de jornadas, vínculos mais estáveis e “empowerment” permanente são fundamentais para fortalecer o setor. Mais cooperação com instituições de ensino especializadas mostrando a hotelaria como algo especial.Do contrário será apenas mais um setor à perder seu charme original como já aconteceu com a aviação nas últimas décadas.

A hotelaria brasileira precisa repensar suas estratégias para garantir um futuro sustentável. Sem mudanças estruturais, o setor continuará perdendo profissionais qualificados, impactando negativamente a experiência dos hóspedes e a reputação do país no mercado internacional. E assim, perdendo o velho charme e glamour tão duramente conquistados ao longo de nossa existência.

Capacitação das lideranças: um diferencial competitivo

Os líderes desempenham um papel crucial no engajamento da equipe. Investir na capacitação dos gestores permite que eles desenvolvam habilidades para motivar, resolver conflitos e alinhar os colaboradores aos objetivos da empresa. Estudos apontam que líderes bem treinados conseguem inspirar suas equipes e promover um clima organizacional positivo, relações interpessoais mais efetivas, organização de processos mais eficazes, impactando diretamente a experiência dos hóspedes.

Rotatividade na hotelaria

O alto turnover (rotatividade) é um dos grandes desafios do setor hoteleiro e isso está intrínsecamente ligado também a questão das remunerações mas não somente a isso. A rotatividade de colaboradores gera desgaste de equipes, custos com novas contratações e pode comprometer a qualidade do serviço. Para minimizar esse problema, é fundamental oferecer oportunidades de crescimento, programas de desenvolvimento profissional e um ambiente de trabalho estruturado.

Estratégias para retenção de talentos

Analisar os procedimentos que fazem parte da operação nos meios de hospedagens, verificar onde há gargalos e erros, atrasos de entrega de um setor para o outro, ineficiência que por vezes está em ações simples de serem implantadas. Atualizar e qualificar a equipe melhora a qualidade dos serviços prestados e aumenta a satisfação dos colaboradores. Implantar uma cultura organizacional saudável e boa gestão das equipes são essenciais para manter os talentos na empresa. Os colaboradores que enxergam possibilidades de crescimento tendem a permanecer mais tempo na empresa. Ainda que tenhamos dentro do setor, modelos diferentes, existem formatos sugestivos.

Tipos de crescimento de carreira no mercado

Oportunidades de crescimento são fundamentais para a retenção de talentos. No mercado de trabalho, existem diferentes tipos de evolução profissional que podem ser oferecidos com critérios bem definidos aos colaboradores:

  • Crescimento vertical (Promoção): Quando o profissional sobe na hierarquia da empresa, assumindo cargos de maior responsabilidade.
  • Crescimento horizontal (Expansão de funções): O profissional adquire novas habilidades dentro do mesmo nível hierárquico, sem mudar de cargo.
  • Carreira em Y: Permite a escolha entre um caminho gerencial (liderança) ou técnico/especialista, sem perda de progressão profissional.
  • Carreira em W: Integra habilidades de gestão, técnica e projetos, permitindo atuação em múltiplas frentes estratégicas.
  • Crescimento empreendedor: Quando o profissional busca crescimento fora da estrutura corporativa tradicional, empreendendo ou atuando como consultor.
  • Crescimento em rede: O desenvolvimento acontece por meio de conexões estratégicas e colaborações intersetoriais.

Colaboradores capacitados e processos alinhados: O segredo do sucesso

Uma equipe bem treinada e um ambiente de trabalho organizado são diferenciais competitivos na hotelaria. Quando os processos são claros e eficientes, os colaboradores trabalham com mais segurança e produtividade, reduzindo erros e aumentando a qualidade da operação, promovendo assim autoconfiança e engajamento da equipe e a satisfação dos hóspedes.

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Pesquisas indicam que empresas que investem em capacitação e no bem-estar dos colaboradores apresentam maior retenção de talentos e melhor desempenho operacional. Por isso, é essencial criar uma cultura organizacional voltada para o aprendizado contínuo e o desenvolvimento de boas práticas.

A boa gestão de pessoas na hotelaria exige planejamento e estratégias para manter a equipe engajada, reduzir o turnover e otimizar as operações.

“A nova NR-1 reforça a importância de ambientes de trabalho seguros e a capacitação das lideranças e colaboradores, fundamentais para garantir serviços de excelência. Ao investir em boas práticas de gestão, os hotéis ampliam suas chances de reter talentos, promovem a satisfação de seus colaboradores e proporcionam experiências memoráveis aos seus hóspedes”. (Lara Perdigão, Relações Públicas especialista em Gestão de Pessoas e Liderança de equipes de alta performance).

Maarten Van Sluys (Consultor Estratégico em Hotelaria – MVS Consultoria)

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