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Quando o turismo, ou o turista, passa da conta?

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O turismo não deve, e não pode, comprometer a vida local (Foto: Adobe Stock)

Existe uma máxima no turismo que diz: “para ser bom para o turista, precisa ser bom para o morador”. Nos últimos meses tive acesso à uma série de matérias, artigos e relatos de experiências a respeito do excesso de turistas em determinados destinos, em alguns casos, acrescidos ainda do mau comportamento de muitos deles.

É curioso pensar que, enquanto existem destinos ainda a serem descobertos, desenvolvendo estratégias para ampliar sua fatia neste mercado, em muitos outros, existe uma ação contrária, que remete à um pedido, às vezes de socorro, por desaceleração do volume de visitantes. Como definir os limites entre a experiência do turista e a vida cotidiana? Qual a linha entre investimentos em turismo, geração de riqueza, preservação dos destinos, culturas, espaços naturais? E claro, qual o papel de cada um dos atores envolvidos nesta equação?

As inúmeras possibilidades de viagem, o acesso à informação e dados de destinos diversos, o advento da flexibilização das normas de trabalho, com o trabalho remoto ou mesmo o nomadismo digital, vem criando distintos nichos de mercado e influenciando a experiência turística, trazendo novas variáveis para reflexão e claro, novos modelos de negócios.

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A criação de ferramentas e plataformas de aluguel temporários, por exemplo, ampliaram as oportunidades de longa permanência, ao passo que, implicam em maior concorrência, pela população local, a moradias de qualidade e com preços acessíveis em cidades turísticas.

A facilidade em catalogar serviços diversos em aplicativos, sites e outras ferramentas digitais, dão luz a lojas, restaurantes, bares, e indicativos de serviços, fora dos eixos tradicionais, incluindo outros atores e regiões na atividade turística.

A inclusão dos setores criativos, e toda a possibilidade de interação entre seus profissionais e a atividade turística, faz com que novos produtos sejam formatados, ampliando a oferta e contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da atividade.

Porém, o que se inicia como oportunidade, inovação e renovação de produtos e serviços, por consequência, de destinos, também pode acarretar em aumento descontrolado de turistas. O que impacta diretamente no uso de serviços locais, iniciando pelas atividades turísticas, mas chegando às questões de transporte público, serviços de saúde, entre outros.

O impacto em trânsito, a dificuldade em conseguir moradia economicamente viável, aumento dos preços de itens básicos, dificuldade em realizar atividades cotidianas, reflexos na cultura local, mau comportamento de turistas em cerimônias e manifestações religiosas, sujeira e lixo em excesso, fazem com que muitos residentes comecem a desenvolver repulsa à atividade turística.

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Para solucionar, ou minimizar tais questões, é importante o envolvimento de todos os atores locais. Proposição e desenvolvimento de políticas públicas para incentivar ações de turismo consciente; participação dos empreendedores com compartilhamento de dados, informações sobre comercialização e promoção; apoio de organizações do terceiro setor para acompanhamento, proposições e realização conjunta de atividades.

Compreendo que não é uma equação simples, porém, é preciso tratar o tema sem receios e sem melindres. Equilibrar ações de promoção, desenvolver iniciativas de distribuição da demanda ao longo do ano, acompanhar a demanda e concretização de vendas, estabelecer políticas públicas e legislação específicas, são estratégias relevantes. De toda forma, é importante destacar que, no meu entendimento, ainda há um gargalo imenso a ser preenchido e que pode ser uma oportunidade para inovação.

Com tantas ferramentas de promoção digital, que ofertam acesso aos mais distintos serviços e produtos turísticos, desde compra de voos, reserva em restaurantes, passeios, acompanhamento de filas, ingressos antecipados, será que ainda não temos como estabelecer ferramentas que, agregadas à inteligência de mercado, cooperação institucional, tratamento de dados, possam dar indícios, tanto aos potenciais turistas, como aos gestores e empreendedores, de fluxos, demandas e antecipação de problemas como superlotação?

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Será que a cooperação entre destinos, por vezes concorrentes, não seria uma opção para distribuir turistas ao redor do globo, descentralizando demandas, fomentando trocas de experiências e ocasionando benefícios para mais pessoas, instituições e empresas?

Se a discussão sobre turismo responsável é crescente, incluindo as contribuições do setor para o alcance dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU, é urgente, trazer à tona este debate de forma que o turismo realmente seja um agente transformador, porém, assim como qualquer outro setor econômico, entenda que também deve lidar com pontos de atenção e de mensuração de impactos, sejam ambientais, sociais ou econômicos.

A temática não é simples, porém, é alarmante, demanda ação de destinos, empreendedores, instituições e liderança de agentes globais, tais como a própria ONU-Turismo, a Rede do Pacto Global,  Unctad, OCDE, entre outros. Afinal, para fechar o texto, e despertar a reflexão, entendo que uma terceira máxima que precisamos trazer ao debate é: pensar global e agir local.

E você? Como tem percebido a atividade turística em sua cidade e, como vem se comportando quando é o turista?

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.