Recuperação de destinos: o papel do turismo
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Turismo e seu papel na recuperação de destinos

A atividade turística, é por vezes, uma das iniciativas que de fato contribuíram para a reparação dos destinos que sofreram com catástrofes.

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Foto: gettyimages

A semana passada começou com dois destaques na imprensa. O primeiro deles, foi a reabertura do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, após quase seis meses das maiores enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. O segundo, trata-se do início do julgamento da mineradora anglo-australiana BHP Billiton, uma das empresas responsáveis pela Barragem do Fundão que rompeu há 9 anos e devastou o distrito de Bento Rodrigues e Paracatu de baixo, na região de Mariana em Minas Gerais.

O que as duas situações tem em comum? A ocorrência de ambas impactou diretamente na vida, cotidiano, economia, saúde da população envolvida. Seja um desastre natural, ou uma tragédia causada pelas mãos do homem, fato é que, em ambos os casos, os impactos sociais, econômicos, ambientais são enormes e claro, uma das primeiras atividades a ser praticamente paralisada, é o turismo. Seja pela impossibilidade de sua realização, seja pela indisponibilidade dos prestadores de serviços, seja pela imagem negativa que transmite e que cria receios em potenciais visitantes.

A recuperação de destinos

O Rio Grande do Sul se reorganiza para a recuperação de todo o estado, e tem o turismo como uma atividade de grande impacto em boa parte de seu território, ao passo que, Mariana, e porque não dizer, Minas Gerais, sofreu diretamente com a tragédia, também na atividade turística, principalmente porque, a imagem mineradora do estado, despertou o receio em muitos turistas que, cancelaram seus planos de viagem no período, agravado posteriormente com a tragédia de Brumadinho, causada pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão no município, em 2019.

O planejamento das ações de recuperação de territórios devastados envolve desde ações emergenciais, como acesso à alimento, água, alojamento, remédios, como a organização de recursos financeiros e humanos para realizar limpeza, reconstrução, recuperação de prédios, espaços públicos, infraestrutura em geral, que envolvem também a recuperação de bens particulares e itens da memória de cada um e do próprio território. O processo em questão é deveras doloroso e demanda uma força, esperança, paciência e resiliência que por vezes, pensamos ser impossíveis, que só são alcançados porque é vivido de forma coletiva.

Retomada do turismo

Neste momento, a retomada da atividade turística, vai para o “final da fila”, o que é natural. Porém, ao chegar o momento de retomar, e até mesmo, repensar a mesma, não se trata apenas de recuperar empreendimentos, atrativos, serviços em geral. É um momento que também ajuda a recuperar a memória, os valores, aquilo que é caro para uma comunidade. Retomar o turismo, como sempre destaco por aqui, atividade econômica, porém, feita por e para pessoas, é também retomar parte de si mesmo, parte das memórias, parte daquilo que dá orgulho em ser mostrado, apresentado ao turista.

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São os museus e espaços culturais que precisam voltar a cumprir sua missão, são parques e espaços naturais que demandam cuidado, são profissionais diversos que precisam se reinventar e se reposicionar. Ao passo que o turista, passa também a se ver como parte de algo ainda maior, e entende que o fato de viajar, pode sim, ser uma forma de contribuir para o resgate de territórios, comunidades, histórias, memórias de lugares, pessoas e paisagens.

Iniciativas que precisam ser coordenadas, planejadas, de forma a serem recuperadas gradativamente, em acordo com a disponibilidade do território em recuperação, seguranças de todos os envolvidos, desejo da comunidade local e uma retomada de posicionamento de sua imagem, e claro, da autoestima de todos.

Importância do turismo na recuperação

Podem ser citados diversos casos de recuperação após catástrofes, sejam elas mais recentes ou não. Em alguns casos, a atividade turística, foi uma das iniciativas que de fato contribuíram para a reparação dos destinos, à exemplo do Japão e Tailândia após o tsunami. Em outros casos, o turismo se torna uma ferramenta para manutenção da memória, de maneira a impedir o esquecimento dos fatos e assim, evitar que se repitam, à exemplo de cidades europeias devastadas por duas grandes guerras, onde muitas, destacam os horrores do Holocausto, seja em visitas aos campos de concentração e aos diversos museus com temáticas afins.

Imagem pós Tsunami na Tailândia (Foto: gettyimages)

Território Tailândia pós Tsunami (Foto: gettyimages)

Dentre estes casos, destaco uma iniciativa recente, muito próxima de nós, em tempo e território, que é o Catálogo Céu de Montanhas, resultado do Projeto de Turismo Rural e de Base Comunitária, realizado em Brumadinho, e que veio como uma resposta a todo impacto causado pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão.

Mais do que recuperar empreendimentos e territórios, a iniciativa feita à várias mãos, promove o resgate da autoestima, do envolvimento comunitário, trouxe esperança e vem fazendo com que Brumadinho seja reconhecido como um território de beleza, de oportunidades e de turismo, e não mais, sinônimo de destruição e dor.

Claro que a dor não passou e muito ainda precisa ser feito em torno de reparação, planejamento futuro e da própria relação do território com a atividade minerária, porém, ao se posicionar a partir de sua história, seus conhecimentos, seus valores e transformar os mesmos em oportunidades, Brumadinho resgata não apenas imagem, oportunidades de trabalho e renda, mas resgata o vínculo e sentimento de pertencimento de todos os envolvidos com o destino, e faz com que o turista, também perceba a riqueza para além do minério.

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Os acontecimentos recentes, o constante debate em torno das mudanças climáticas e impactos que vimos causando ao planeta, mudam também a forma como lidamos, praticamos, promovemos e planejamos a atividade turística. Falar de sustentatibilidade já não é suficiente, precisamos ser mais ousados neste sentido. Acredito que estejamos em um momento de transformação, e com ele, chegam, ou se fortalecem, conceitos que precisamos conhecer mais, entre eles, o Turismo Regenerativo, mas esse, é papo para uma próxima coluna.

Por hora, meu desejo é que sejamos cada vez melhores naquilo que fazemos, e que tenhamos na prática turística, seja como empreendedores, gestores, atores do setor, ou turistas, cada vez mais responsabilidade, empatia, resiliência e consciência das nossas decisões e dos impactos positivos e negativos que elas podem causar. E torço para a pronta recuperação do Rio Grande do Sul, um dos principais destinos turísticos brasileiros, que, em breve, recebe a Festuris, uma das principais feiras nacionais, na cidade de Gramado. Um momento de celebração, resiliência e força para todo o setor.

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