Literatura
A Alice do Central Park, em Nova York, e outras estátuas pelo Brasil
Clássica estátua no Central Park em homenagem a Alice representa bem a própria cidade de Nova York e me fez lembrar outras estátuas em Maceió e no Rio de Janeiro
Talvez o melhor jeito de passear pelo Central Park, o icônico parque de Nova York, seja sem um mapa. Flanar pelos caminhos de pedra e areia, permitir-se andar por entre as tantas árvores, se perder e ser surpreendido. Mais ou menos assim dei de cara com a incrível estátua de Alice, a inigualável protagonista de Alice no País das Maravilhas.
A estátua de bronze com mais de três metros de altura foi esculpida por José de Creeft em 1959 e representa Alice cercada pelo Chapeleiro Maluco, o Coelho Branco, o Gato de Cheshire, entre outros. Os cogumelos formam uma espécie de degraus ou banquinhos, permitindo que as pessoas interajam para olhar os rostos mais de perto ou posar para fotos.
Alice no País das Maravilhas
Vale lembrar que Alice no País das Maravilhas foi publicado no longínquo 4 de julho de 1865 por Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, com ilustrações de John Tenniel – ilustrações estas que são a referência para a estátua, e não os famosos desenhos da animação da Disney, que é de 1951. O livro trata das aventuras de uma menina em num mundo maravilhoso debaixo da terra, onde animais e seres esquisitíssimos, como cartas de baralho, agem e falam como gente. Ou melhor, como loucos, pois nos dirá o Gato de Cheshire: “somos todos loucos aqui, eu sou louco, você é louca. (…) Ou não teria vindo parar aqui”. Qualquer semelhança com a sensação de estarmos neste planeta em geral ou em NY em particular será mera coincidência?
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Responsável pela transição de Alice do mundo real para o País das Maravilhas, o Coelho Branco com seu relógio tornou-se símbolo da pressa da vida moderna, quase sua caricatura. A própria narrativa traz um ritmo alucinante, com alternância de cenas e personagens, capítulos relativamente curtos e pouco espaço para a descrição, constrói uma obra veloz, rápida, alinhada com os valores do século seguinte à sua publicação. Assim como Nova York. Embora o Central Park seja o espaço para desacelerar na cidade, os muitos sons, cores e cheiros da frenética e multicultural metrópole nos transportam a um mundo frenético e acelerado, como o de Alice.
Outras estátuas ligadas a livros
Outro episódio sobre estátuas ligadas a livros que me chamou a atenção foi em Maceió. Na belíssima orla de Ponta Verde há duas esculturas de bronze em homenagem ao escritor Graciliano Ramos e ao dicionarista Aurélio Buarque de Holanda. As obras, inauguradas em 2015 como parte da programação de 200 anos de Maceió, foram feitas pelo mineiro Léo Santana, o mesmo autor da escultura do poeta Carlos Drummond de Andrade instalada no calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Aurélio possivelmente seja mais reconhecido pelos turistas brasileiros, até porque está com o dicionário em suas mãos. Já Graciliano tem o olhar baixo, sereno, discreto, ciente do triste desconhecimento da maior parte da população brasileira a um dos seus maiores escritores – senão o maior, ao lado de Machado. Mais conhecido por Vidas Secas, Graciliano também é autor de dois romances fabulosos, São Bernardo e Angústia, que mostram uma versatilidade de estilos e temáticas impressionante.
Ambas as estátuas, mesmo a do Aurélio com o dicionário em mãos, normalmente estavam vazias, dava pra tirar foto, abraçar o autor, tirar outra foto, fazer selfie. O curioso é que em frente à estátua do Graciliano e não muito longe da estátua do dicionarista havia outra obra com filas e mais filas, dia e noite, sol e chuva: uma cadeira de praia gigante.
Para finalizar, não posso deixar de citar a estátua de Cazuza (sim, compositores também são escritores). O Rio é pródigo em belas estátuas, mas quando vi no Google Maps que havia uma do Cazuza no Leblon, fiz questão de ir atrás. E mesmo com o aplicativo na mão e a setinha indicando o local, demorei a encontrar, porque adivinhem… ele está deitado, não em pé. Isso mesmo, deitado. Irreverência ao invés de altivez, um detalhe que tornou aquele Cazuza de bronze singular a tantas estátuas com as quais já nos deparamos.
Inaugurada em 2017 no Dia Mundial de Combate a AIDS, a estátua traz ainda um trecho da música Codinome Beija-Flor e está em frente a um bar em um dos bairros que Cazuza mais viveu. Também em bronze, foi realizada numa parceria entre a artista plástica Christina Motta, responsável pela obra da atriz francesa Brigitte Bardot em Búzios, e o arquiteto Hélio Pellegrino.
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