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Venda de ingressos na Vesperata de Diamantina é alvo de denúncias
Turistas e consumidores denunciam práticas abusivas, venda casada e falta de informações claras na comercialização dos ingressos da Vesperata de Diamantina, evento símbolo da cultura mineira.
A tradicional Vesperata de Diamantina, reconhecida como Patrimônio Cultural de Minas Gerais e um dos principais eventos musicais do Brasil, virou alvo de duras críticas e denúncias nas redes sociais devido à falta de transparência e possíveis esquemas na venda de ingressos. Turistas e fãs do evento relatam indignação e frustração com um processo de compra confuso, monopolizado por agências e pousadas, e totalmente desfavorável ao público geral.
Desde o final dos anos 90, a Vesperata encanta multidões ao espalhar músicos pelas janelas e sacadas dos casarões históricos da cidade. O público, acomodado em mesas ao ar livre, vivencia uma combinação única de música e arquitetura colonial. No entanto, este cenário encantador tem sido ofuscado pela má gestão na comercialização das mesas, essenciais para assistir ao espetáculo.
Venda de ingressos restrita e confusa
Diversos turistas afirmam que a abertura das vendas foi cercada de informações desencontradas, atraso e, quando finalmente iniciada, já estava completamente esgotada. Muitos reclamam que só conseguiram adquirir ingressos por meio de pacotes combinados com hospedagem e passeios, comercializados por agências e pousadas – retirando do visitante o direito de escolher livremente onde ficar e o que fazer na cidade.
Sobre essa situação, a advogada Luciana Atheniense, especialista em direito do consumidor, afirma: “A vinculação da venda de ingressos da Vesperata à contratação de hospedagem configura venda casada, prática abusiva vedada pelo art. 39, I, do Código de Defesa do Consumidor. Além disso, houve violação ao dever de informação (art. 6º, III), já que as vendas anunciadas estavam esgotadas desde o início, sem transparência sobre os canais de compra. Por fim, a organização impôs vantagem excessiva (art. 39, V), favorecendo agências e onerando o consumidor, que foi forçado a adquirir serviços não desejados para ter acesso ao evento. Tais práticas afrontam a boa-fé e a liberdade de escolha dos consumidores.”
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O caso do chef Reinaldo Mendes ilustra este cenário de descaso: programando sua viagem desde janeiro, ele foi repetidamente orientado a retornar ligações em novas datas, mas na última tentativa, as vendas já haviam acabado. Encaminhado à Associação Comercial, única responsável pelas diretrizes de comercialização, recebeu como alternativa a compra apenas via agências de viagem, que obrigam a contratação de pacotes completos.
Reclamações se multiplicam nas redes sociais
No Instagram oficial do evento, pipocam denúncias. Usuários classificam a organização como “decepcionante” e “uma verdadeira palhaçada”, apontando que pousadas compram todas as mesas em lote, quase não sobrando para o público em geral. Outros relatam que nem presencialmente, na cidade, conseguiram garantir ingressos, desconfiando de um esquema que privilegia intermediários, deixando turistas honestos à deriva.
Ao divulgar que as vendas estariam disponíveis via plataforma Sympla, a organização gerou ainda mais revolta: assim que a suposta venda começou, já constava como esgotada – levantando dúvidas sobre a existência real de ingressos livres para o público. As respostas-padrão recebidas por quem tentou contato com a Secretaria Municipal de Cultura ou a Associação Comercial indicavam somente uma lista de espera, sem qualquer garantia de transparência no processo de seleção.
Turismo prejudicado e denúncias de favorecimento
A exclusividade dos ingressos para agências e pousadas cria um ambiente de favorecimento e possível cambismo, onde até turistas menos informados acabam comprando entradas de intermediários na própria estrada para Diamantina. Isso prejudica a imagem do destino, reforçando a percepção de que há um esquema que beneficia poucos e afasta visitantes, impactando negativamente o turismo local e os demais comerciantes da cidade.
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A falta de informações claras sobre as políticas públicas e a ausência de fiscalização agravam a insatisfação. Quem deveria ser privilegiado – o público, que movimenta a cidade e mantém viva a tradição – sente-se enganado e desrespeitado.
A Vesperata de Diamantina, que deveria ser motivo de orgulho e celebração da cultura mineira, se vê ameaçada por denúncias de irregularidades e má gestão. Se nada for feito, corre-se o risco de transformar um patrimônio de Minas Gerais em sinônimo de frustração e exclusão. É preciso transparência imediata nas vendas, investigação das práticas denunciadas e respeito aos milhares de turistas que desejam vivenciar este espetáculo único da forma justa e democrática a que têm direito.
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