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Cultura e Turismo

A instigante visita a um templo da cutelaria no Caminhos de Pedra

Conheça a Ferraria Ferri, antes, oficina de trabalho árduo, atualmente, um dos atrativos turísticos mais interessantes do roteiro.

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Utensílios e ferramentas da Ferraria Ferri no Caminhos de Pedras em Bento Gonçalves/ RS (Foto: Acervo Uai Turismo)

O convite era para passarmos um dia inesquecível em meio a natureza. Estávamos em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, em uma imersão em turismo e claro, conhecendo algumas das inúmeras atrações do Caminhos de Pedra.

O Caminhos de Pedra é um roteiro com 12 km de extensão e é “considerado pioneiro no seu segmento. É referência nacional, tendo sido tema de muitos estudos e teses nas áreas de turismo cultural e rural, arquitetura, patrimônio histórico, empreendedorismo, e administração, entre outros. É a história de um povo contada em forma de arquitetura, paisagens e costumes.” Segundo a SEMTUR – Secretaria de Turismo de Bento Gonçalves

O Roteiro é Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul desde 2009 e este reconhecimento e proteção se deu, pelo fato de o roteiro concentrar o maior acervo arquitetônico da imigração italiana em meio rural do país e claro, pelo esforço de um sem-fim de empreendedores que compactuavam com a preocupação para a preservação do patrimônio histórico material edificado e o imaterial também. Foi isso que sugestionou o sinônimo de “Museu Vivo” ao roteiro.

Ferraria Ferri

Ferraria Ferri no Caminhos de Pedras em Bento Gonçalves/ RS (Foto: Acervo Uai Turismo)

Por ali, chegamos à um dos equipamentos do Caminhos de Pedra, a Ferraria Ferri, aparentemente, um ponto comercial organizado, com gente simpática como de costume na região, que oferecia produtos artesanais, com características de exclusividade e garantindo a qualidade, que só o povo italiano sabe dar aos seus produtos! Aí, confesso, vai um pouco de bairrismo de quem conquistou recentemente a cidadania italiana por força do sangue dos ancestrais, que correm em minhas veias!

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O bom da conversa, foi conhecermos o anfitrião e guia naquele empreendimento, Expedito Fachinelli. Um ser de uma simpatia impecável, com um sotaque italiano instigante e acolhedor e por meio de seu discurso eloquente, conhecemos e vivenciamos um pouco daquele espaço, que nos fez voltar no tempo e sentir um pouco as dificuldades vividas à época, mas também perceber o sabor das conquistas e do trabalho bem-feito, que era desenvolvido naquele lugar.

Expedito Fachinelli, anfitrião e guia da Ferraria Ferri no Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves/ RS (Foto: Ubiraney Silva)

Pelas falas de Seu Expedito, entendemos que ao chegarem por ali em 1923, o casal Adolpho e Ophélia Ferri, corajosamente fundaram a ferraria e a batizaram com o nome da família, nasceu então a Ferraria Ferri.

O que Adolpho e Ophélia, com “PH” e tudo não sabiam, era que a Ferraria Ferri, se tornaria o grande exemplo preservado do período industrial na Serra Gaúcha, na região de Bento Gonçalves e agora, garanto, uma das mais singelas experiências em turismo que já vivenciei em todos estes anos atuando nos segmentos cultural e turístico.

Uma visita ao passado

Expedito nos conduz ao interior das oficinas e nos leva a uma visita ao passado. Ouvindo a história do lugar e o som embargado de sua voz, facilmente imaginamos os anos 1920, época áurea da Ferraria Ferri, que seguiu cumprindo sua finalidade até meados de 1968 e sempre no mesmo cenário, a sinuosa estrada que liga Bento Gonçalves a Farroupilha, no Rio Grande do Sul.

Com muitos elementos criteriosamente “amontoados” pelo tempo, ficou fácil perceber como era produtiva aquela oficina e como eram corajosos os seus proprietários. Por lá vimos empilhados e displicentemente empilhados desde pequenos utensílios diários do cotidiano dos agricultores, até ferramentas maiores e arados usados na agricultura local. Certamente, tudo feito pelas mãos de seus fundadores.

Ferraria Ferri no Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves/ RS (Foto: Ubiraney Silva)

As marcas do tempo e a rusticidade do local, encantaram meus olhos e meus sentidos, aguçando a cada palavra de Seu Expedito, a minha curiosidade de querer saber um pouco mais dessa dificultada produção!

Segundo consta, na época a comunidade procurava facas, facões, serrotes, correntes, todos os utensílios que lhes fossem favoráveis na lida diária no campo.

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O impressionante é entender como o fogo é um elemento importante na cutelaria! Com ele, as mãos corajosas dos Ferri, moldavam tudo que fosse necessário para a sobrevivência. Um local provavelmente barulhento, ao som do tradicional “malho”, que levou sua trajetória comercial no final dos anos 60 para a produção artesanal.

Um novo caminho para a Ferraria Ferri

Contudo e ainda na beira da estrada, em 1992 as velhas portas de madeira da Ferraria Ferri encontraram um novo uso, um novo e promissor caminho, o turismo de originalidade.

Essa corajosa requalificação do uso para o equipamento, fez bem para o lugar, enriqueceu o roteiro Caminho de Pedras e revigorou mais uma das inúmeras e belas histórias familiares do povo italiano que desbravou, viveu, sobreviveu e edificou um valor cultural e turístico incomensurável para a Serra Gaúcha.

Roda d’água da Ferraria Ferri no Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves/ RS (Foto: Acervo Uai Turismo)

Hoje em dia, na mesma estrada sinuosa, bem ao lado da Roda d’água, que gera a energia para o bom funcionamento da Ferraria, podemos experimentar de fato, a realidade e o contexto do trabalho pesado que os desbravadores italianos mantinham para sua sobrevivência.

Em um dos materiais promocionais do local, li a seguinte frase, “Imperdível, conhecer a mágica que a água faz!” e não é que o resultado é mágico mesmo! Mágico e emocionante!

Claro, que estando ali e como turista, não me furtei a experimentar, literalmente com as ferramentas em punho, conhecer e contribuir no processo de transformação de uma velha ferradura, em uma faca de corte, com a marca “Ferri”. É claro que assistir ao processo, é muito mais fácil que participar dele, mas garanto, que foi uma experiência satisfatória, divertida e recheada de cultura e tradição.

Assistir ao processo, é muito mais fácil que participar dele (Foto: Ubiraney Silva)

Uma ação, aparentemente bobinha, mas que nos encheu de orgulho, quando vimos o ferro quente sendo transformado para cumprir outra finalidade.

E o passeio na Ferraria Ferri, foi um dos tantos momentos especiais que vivenciamos nestes dias de férias e diversão, com uma imersão na gestão do turismo pela Serra Gaúcha.

Ainda tenho muita coisa pra contar desse passeio especial, mas vou guardando o conteúdo para garantirmos boas lembranças nas próximas postagens.

Até breve!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.