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Flor de Maio Teatro, a vida contada nos palcos!

A emocionante trajetória de transformação social por meio das artes cênicas no interior das Minas Gerais. Flor de Maio Teatro, transformando vidas pela arte!

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Componentes do Flor de Maio Teatro (Foto: Larissa Pedrosa)

As artes se manifestam de diversas formas, ora populares, ora mais eruditas, acessíveis e mais seletivas às vezes, mas o fato é que a arte, enquanto objeto de formação e complemento intelectual, serve para que o ser humano consiga expressar seus pensamentos e crenças, sentimentos e intenções.

Naturalmente que como dito no parágrafo anterior, o contexto em que determinada manifestação artística é apresentada, costumeiramente define também o seu público consumidor, mas em todos os casos a expressão humana sobressai e na maioria das vezes de forma muito sensível e isto é encantador.

Apesar de me dedicar profissionalmente ao planejamento e gestão das práticas culturais e turísticas como fator de desenvolvimento econômico e social de comunidades, não posso omitir minha longeva militância artística pela música, que já me deu oportunidade de pisar nos mais renomados palcos do Brasil e em alguns países mundo afora.

Mas na coluna de hoje, quero homenagear um segmento dos mais vibrantes no que diz respeito à produção cultural no Brasil. Recorto a temática de cara para as artes cênicas.

Artes cênicas no Brasil

Recorrendo à internet, entendi, que as artes cênicas, historicamente no Brasil, ganham espaço ainda no período colonial. Naquela época os religiosos jesuítas, utilizavam da arte para catequizar os povos indígenas e os primeiros colonizadores.

A cultura dos povos indígenas, e os elementos da fé católica eram utilizados para os primeiros textos, que normalmente eram encenados de maneira muito singela pelos indígenas. Desde sempre, as artes cênicas cumpriam um papel importante no desenvolvimento cultural, já que exigia o contexto da diversidade para a elaboração de todo um imaginário apresentado em cenas, que retratavam fatos, muitas vezes verídicos e sobretudo as diferenças. Fico imaginando, quantos recados foram passados nestes momentos!

Mas, como quero ressaltar a modernidade das artes cênicas, para não cair no lugar comum dos grandes astros do teatro nacional e nem das inúmeras e vitoriosas companhias que abrilhantam os palcos brasileiros, fui buscar no interior de Minas Gerais, em minha cidade natal, Itabirito, a trajetória de um grupo muito especial para mim, já que tive a oportunidade e o privilégio de acompanhar esta caminhada, desde os primeiros encontros nas aulas iniciais do Atelier de Artes Integradas, uma escola de artes, financiada pelo poder público municipal, que tive o prazer de implantar em minha terra natal.

Flor de Maio Teatro

Apresento a vocês, o “Flor de Maio Teatro”, um grupo hoje formado por quatro jovens atrizes, que nasceu em meados de 2015, quando suas componentes concluíam o Curso Técnico de Teatro no Atelier de Artes Integradas (Itabirito – MG).

As componentes do Flor de Maio Teatro (Foto: Larissa Pedrosa)

Segundo “as flores”, já que é assim que elas se nominam, o curso técnico foi um momento muito especial em suas vidas. “Era o momento em que estávamos nos profissionalizando e buscávamos possibilidades para continuar trabalhando na área”.

Neste contexto, Bárbara Sill, Larissa Ribeiro e Marcos Diniz fundaram o Grupo Teatral Flor de Maio, hoje a “Flor de Maio Teatro”.

Em 2017, novas flores, Júlia Castro e Millena Muniz, que também fizeram a mesma escola, se juntaram ao grupo, que hoje é formado por quatro mulheres, como dito acima.

O mais bacana disso tudo, é que todas as componentes são formadas em Artes Cênicas, Millena e Júlia pela Universidade Federal de Minas Gerais (mestra na área) e Larissa e Bárbara pela Universidade Federal de Ouro Preto. Com o ímpeto da juventude e o amor pelas artes, cada uma das flores, foi encontrando o que tinha mais afinidade dentro das inúmeras possibilidades que o teatro e as artes oferecem, fortalecendo a equipe e diversificando os trabalhos propostos pelo grupo.

Por que Flor de Maio?

Elas contam que, “em uma aula do curso técnico, um professor comentou sobre uma tradição típica do município de Itabirito: de colocar no dia 30 de abril para 1º de maio, nas janelas da cidade florzinhas amarelas.  Então descobrimos que as pessoas fazem isso acreditando que Maria irá visitar, durante a madrugada, as casas que realizaram o ritual e abençoará o lar”.

Essa flor muito delicada, popularmente chamada de “flor de maio”, deu nome ao grupo.

Posteriormente, a mesma tradição foi tema do primeiro espetáculo produzido pelo coletivo, que desde já mostrou interesse em produzir uma arte regional, que tinha por intuito contar as histórias locais com originalidade e afeto. Então, o grupo floresceu não apenas pela paixão ao teatro, mas também “por uma conexão muito especial com a comunidade local e suas tradições”, contam as flores.

Hoje, Larissa, Bárbara, Millena e Júlia, entendem que a formação no segmento cultural foi crucial!

Para elas, “a arte desempenha um papel fundamental em nossa formação intelectual. Acreditamos na arte como ferramenta de transformação.  Foi ela que contribuiu para o nosso desenvolvimento criativo, expressivo, empático e crítico”. 

Importância das escolas públicas no acesso às artes

As jovens atrizes ressaltam também, a importância das escolas públicas para possibilitar o acesso de todos às artes. Todas elas estudaram no Atelier de Artes Integradas, gratuitamente em sua cidade natal e tiveram vivências artísticas dentro de uma instituição pública de cultura. Por ali, ficava fácil entender que os investimentos nas Políticas Públicas de Cultura, visavam expandir o acesso e formação artística, vistas como de extrema importância para uma formação intelectual e social da população de modo geral.

As quatro flores, atrizes e produtoras, contam que iniciaram sua trajetória como grupo, por meio de um espetáculo autoral, nomeado de “Flor de Maio”. No espetáculo era contada por meio de personagens típicos do interior, a história da tradição mencionada, da colocação das flores de maio, amarelinhas, nas janelas das casas, nas noites do dia 30 de abril pra o 1º de maio, na expectativa de que Nossa Senhora, marcasse aquele lar e o cobrisse com a proteção de seu manto celestial.

Os espetáculos

O espetáculo “Flor de Maio”, que eu tive a oportunidade de assistir mais de uma vez, era itinerante e envolvia toda a comunidade onde era apresentado. O elenco usava algumas casas e histórias dos espectadores, em uma espécie de via sacra cênica, muito romântica e acolhedora.

Espetáculo Entre Letras e estrelas (Foto: Larissa Pedrosa)

Elas contam ainda, que gostam de criar os textos pensando no que querem falar e no que elas entendem que precisa ser ouvido. No “Entre Letras e Estrelas”, segundo espetáculo do grupo, também com dramaturgia autoral, foi o momento de unirem o amor pela literatura, a contação de história, a musicalidade e o teatro, criando um espetáculo infantil sensível, emocionante e que interessa não só as crianças, mas a toda família.

Um outro espetáculo do repertório do Flor de Maio Teatro, o “Luz do Túnel”, é um trabalho mais recente e é um espetáculo que passa pela saúde mental, amor, espiritualidade e opressão feminina. Assim como os outros espetáculos, esse foi criado coletivamente, porém a dramaturgia e direção são assinadas por Dhu Rocha, outra grande expressão das artes cênicas em Minas Gerais.

Como dito no começo do texto de hoje, poderia mostrar a contribuição das artes cênicas, retratando os grandes nomes ou os grupos mais expressivos ou “famosos” do Brasil, mas a proposta é mostrar como a arte como elemento transformador de vidas, precisa ser cultivada e precisa ser levada a sério.

Desafios do Flor de Maio pelo interior do Brasil

Segundo relato da “Flor de Maio Teatro”, “fazer teatro no interior do Brasil é um grande desafio, visto que as oportunidades, o reconhecimento e o investimento são muito diferentes dos grandes centros urbanos. Trabalhar no setor cultural, no geral, não é uma tarefa fácil”.

Apesar disso, as flores contam, que existem algumas preciosidades de se fazer teatro no interior, como os vínculos que vão sendo criados com a comunidade através das produções, as histórias e costumes que muitas vezes tem uma teatralidade que colocamos em cena, ou seja, um ambiente recheado de inspiração e de força coletiva.

Cena: “Tem gosto de liberdade” (Foto: Larissa Pedrosa)

Fica mais tranquilo perceber, que além do teatro é fundamental trabalhar com a formação de público, que muitas vezes se dá pela educação. Neste caso, ponto positivo para o Flor de Maio Teatro, já que todas as componentes são arte-educadoras, “buscamos através da contação de histórias, das oficinas e aulas se apoiar nas técnicas teatrais, nos jogos e brincadeiras, aproximando nosso público e explorando a acessibilidade teatral”.

Esse pensamento me força a ressaltar, que minha terra natal, Itabirito, em Minas Gerais e onde também nasce o “Flor de Maio Teatro”, é uma cidade que tem um diálogo cultural muito interessante e que a própria rede artística se apoia. A cidade já foi destaque nacional, quando o seu “Capital Social” foi tema de discussão em uma revista de circulação nacional.

As atrizes lembram outro atributo da cidade, “estamos localizados próximo à capital, Belo Horizonte, o que nos permite um contato direto com outros grupos teatrais que nos servem de referências. Portanto, o diálogo entre os artistas e o apoio mútuo fazem toda a diferença”.

Leis de incentivo

Instigando a visão das jovens produtoras culturais, pedi que falassem um pouco sobre como elas veem o fomento às artes atualmente no Brasil, no que diz respeito às Leis de incentivo (Federal, estadual e municipal), além dos recursos alternativos como a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc, já que no interior do Brasil os artistas precisam conhecer, entender e se aprofundar nas políticas públicas setoriais e de fomento às artes. Realmente, não dá pra ficar apenas nos palcos, debaixo dos holofotes, há um caminho árduo e trabalhoso antes do glamour surgir.

E elas me atenderam dizendo que, “as políticas públicas de fomento às artes desempenham um papel crucial no apoio e no desenvolvimento da cena artística. O teatro, por exemplo, é uma arte que envolve uma série de profissionais: Atores, diretores, iluminadores, sonoplastas, técnicos, cenógrafos, figurinistas, dramaturgos, produtores, gestores, dentre tantos outros que participam de um projeto. É muito difícil produzir um espetáculo ou qualquer produto artístico sem nenhum apoio público. É preciso ressaltar também que a maior parte da classe artística trabalha na informalidade, sem estabilidade ou garantia de qualquer direito trabalhista, o que dificulta ainda mais a permanência e dedicação à profissão.

E eu concordo viu, de fato, as políticas públicas culturais são de extrema importância não só para fomentar a produção artística, mas também para viabilizar o acesso a essas produções indistintamente.

As Flores ressaltam que “ARTE É UM DIREITO BÁSICO”. Atualmente, principalmente com o retorno do Ministério da Cultura, tem havido um aumento no investimento às Políticas Culturais, mas ainda temos um longo caminho a ser vivenciado, para que a Cultura tenha a importância social e política necessária.

O Flor de Maio Teatro lembra que “a maioria das apresentações teatrais do nosso grupo, só foram possíveis porque fomos contempladas por Leis de Incentivo”.  

Infelizmente, preciso me conter para não ficar enfadonho, mas espero que o conteúdo de hoje, tenha servido para contribuir um pouco mais, com o pensamento de que a arte em todas as suas manifestações corrobora com a estruturação dos calendários culturais em nosso país e toda esta produção cultural é colocada à disposição das comunidades e isto é muito positivo e necessário.

Encerro por aqui, mas convido a todos vocês para conhecerem um pouco mais do trabalho do Flor de Maio Teatro, acompanhando as flores em suas redes sociais, @flordemaioteatro e pelo site.

Fiquem bem e até a próxima semana!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.