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Cultura

Mãos mineiras – tradições preservadas

Conheça a arte da cestaria através das mão de D. Oliveira e encante-se.

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Fotos: Ubiraney Silva

Tenho trabalhado com muitas comunidades em Minas Gerais e em outros estados do Brasil. São andanças muito especiais pelos lugares e suas paisagens fabulosas, mas principalmente pela oportunidade de conhecer a realidade do povo brasileiro, na sua mais genuína expressão.

Recentemente, motivados por um trabalho bastante especial, adentramos a comunidade do Macêdo, na zona rural do município de Itabirito – MG e por lá, como sempre, conhecemos e reencontramos muitos personagens, que nos encantam pela forma pacata e muito objetiva de levar a vida.

Com o tempo, fomos percebendo a dinâmica sensível e culturalmente rica com que convivem entre familiares, amigos, seus animais, afazeres rotineiros do dia a dia, a lida no campo, o trabalho na agricultura familiar e a encantadora produção artesanal, que aos nossos olhos, vem associada ao turismo, mais uma vez comprovando que o maior insumo da atividade turística, é a força secular das tradições, das artes e ofícios, que mapeiam a cultura brasileira.

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Por isso, muito impressionado com a capacidade produtiva das famílias do campo em Minas Gerais, quero falar sobre a arte da cestaria, que de forma muito atrativa e singela, vem ao longo dos anos, proporcionando o sustento e o complemento financeiro para algumas famílias, que ainda mantém a prática desse ofício, que vem sendo repassado de geração em geração.

D. Oliveira, Seu Márcio e a arte da cestaria

No Macêdo, em Itabirito, conheci a D. Oliveira das Graças Silveira e seu esposo e fiel escudeiro, Seu Márcio, que pacatamente em seu cantinho aconchegante, mantêm uma rotina tranquila em sua acolhedora propriedade rural e por lá, com o suporte e incentivo do esposo, D. Oliveira produz um sem-fim de cestos, balaios, abajures dentre outras peças, utilizando a matéria prima mais original, o bambu!

Seu Márcio e D. Oliveira (Fotos: Ubiraney Silva)

Impressionado com a agilidade das mãos artesãs de D. Oliveira, pesquisando sobre o tema, descobri, que a cestaria é uma arte milenar e é uma técnica que tem origem em diversos povos e culturas.

Habitualmente as peças eram produzidas para a acomodação e transporte de objetos e das colheitas nas lavouras. Hoje os cestos e balaios, em diversas formas, acomodam também ovos, roupas sujas, revistas, frutas, enfim, além de muito úteis, são também elementos decorativos dada a precisão e beleza de suas tramas e formas.

Descobri também, que a “cestaria pode ser usada para exemplificar este tipo de produção, no sentido de agrupar um conjunto de objetos, obtidos através da trançagem de fibras”, que podem também oferecer outras formas e utilidades, como esteiras, móveis, painéis decorativos, vasilhas etc.

Tudo que não tenho habilidade para fazer com minhas mãos e o artesanato é uma delas, me encanta!

Apesar de reconhecer a utilidade das peças, dos balaios e cestos, que aliás conviveram comigo a vida inteira, já que nasci e fui criado no interior mineiro, quero dedicar este texto à paixão e a alegria até comoventes, com que D. Oliveira e boa parte de suas primas e tias, dedicam a este ofício, a cestaria!

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Um dom que exige muito trabalho

Chega a ser contagiante o ritmo frenético com que Oliveira manuseia o preparo do bambu, para iniciar a transformação. Impressiona a habilidade mental de imaginar a forma, calcular a quantidade de tiras e amarras, que serão necessários para a obtenção do resultado.

Visivelmente, não é um ofício confortável para o corpo, porque a sua facção carece de espaço normalmente aberto, manuseio de facas afiadas, do apoio de bancadas e do chão, considerando as varas de bambu, que neste caso é a matéria prima principal e que precisam ser cuidadosamente preparadas, de forma muito trabalhosa, para serem transformadas em arte. Vale dizer, que a “taquara” também é muito funcional e utilizada nas peças similares, mas especialmente em peneiras.

Visivelmente, não é um ofício confortável para o corpo. (Fotos: Ubiraney Silva)

Com um humor invejável, assuntos dos mais atuais na ponta da língua e antenada nos principais acontecimentos do mundo, D. Oliveira mostra toda sua destreza no manejo do bambu e rapidamente molda e tece as peças de acordo com as exigências de sua clientela, que é bastante grande, oferecendo uma produção capaz de abastecer o diversificado comércio de Itabirito, Belo Horizonte e toda a região.

Dá gosto ver a animação e a habilidade das mãos calejadas de D. Oliveira pela manutenção deste ofício tradicional, que deixa marcas em seu corpo, tamanha a rusticidade do manuseio do bambu!

Fiquei tão encantado com o que vi, que nem me atreverei a falar sobre técnicas de trançados, formas e afins, quero mesmo é louvar a sabedoria popular, louvar a riqueza dos ofícios tradicionais de nossa cultura, louvar a vida no campo e a capacidade produtiva de quem vive por ali.

Bonito de ver e conviver, com um casal, que tem seus filhos estabelecidos, já com suas famílias, mas que permanece no campo, no seu cantinho natural, produzindo e oferecendo acolhida, simpatia e riqueza cultural.

Uma prosa e um cafezinho

Entre um balaio e outro trançados, D. Oliveira faz uma pausa, um descanso rápido e vai direto para o seu fogão passar um cafezinho dos mais cheirosos e sempre oferece um gole para acompanhar as saborosas rosquinhas caseiras preparadas por ela, naturalmente!

Seu Márcio, a presença permanente, bom de prosa, oferece também uma banana prata bem madura e docinha, colhida ali mesmo, no quintal que tem vida, natureza e muitos passarinhos das mais variadas espécies.

As horas voam, quando estamos com eles. Tantos assuntos, tantas risadas, tanto conhecimento trocado e o melhor que nesse ínterim, um balaio, um cesto, um abajur as muitas peças vão tomando forma e vão se acumulando para posteriormente serem preparadas as encomendas, que serão retiradas ali mesmo.

D. Oliveira é certeira e clara quando diz, que não gosta de sair do seu cantinho. O seu prazer é curtir a sua casa e sua oficina de trabalho a poucos passos de sua cozinha, de sua horta e do seu terreiro, onde vive um cachorrinho simpático, que a cada visita que chega, late bastante cumprindo o seu papel de vigia, mas aproveita o portão aberto, para dar uma voltinha na estrada, retornando faceiro rapidamente para aguardar as próximas buzinas do dia!

Através das mãos de D. Oliveira as tradições da cestaria são preservadas.
Foto: Ubiraney Silva

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Qualidade de vida, preservação dos ofícios, produção cultural resguardada e a tradição brasileira tomando formas, se fazendo tangível à nossas mãos e aos nossos olhos!

Que sorte ter esse trabalho tão prazeroso, que bom ter a oportunidade de conviver com pessoas tão especiais. Você também pode vir conhecê-los. Aí vão as dicas:  D. Oliveira das Graças Silveira – Comunidade do Macêdo – Itabirito – MG. (31) 989163669

Seja bem-vindo ao mundo das artes e ofícios rurais do Brasil, seja bem-vindo à Minas Gerais!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.