Quando teremos um Michelin Brasil?
Conecte-se conosco

Gastronomia

Quando teremos um Michelin Brasil?

Tradicional prêmio mundial desembarca no Rio e em São Paulo, reconhecendo a distinção de restaurantes locais e promovendo o turismo.

Publicado

em

Menu servido no DUQ Gastronomia, restaurante em Curitiba. (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Rio de Janeiro e São Paulo deram uma aula de promoção turística por meio do turismo gastronômico. As desejadas estrelas Michelin fazem parte do imaginário culinário da melhor curadoria que qualquer prêmio poderia indicar. O Guia Michelin é referência em qualidade dos indicados, tradição em manter sob sigilo seus inspetores, mas também em turismo, e pouco se fala sobre isso. Portanto, quando teremos um Michelin que viaje pelo Brasil?

Quando as duas cidades símbolos do turismo brasileiro para o exterior se juntam para promover o turismo por meio de um prêmio gastronômico, percebe-se o quanto a gastronomia como atrativo turístico é importante e reflete o lifestyle do destino. Mais que isso, promover uma cidade por meio de seus restaurantes é atingir o público pela experiência que pode ser reproduzida, que pode ser buscada novamente em outros espaços, lembrando sempre de sua origem.

A gastronomia na promoção do turismo

Justo porque, quando provamos um prato interessante, um produto que não conhecíamos, e isso nos agrada, tendemos a querer reproduzir a receita em casa, a procurar um restaurante que nos lembre aquela comida que, no caso, provamos nos destinos estrelados. Quem sabe uma sobremesa com Bacuri – como no Tuju (2 estrelas Michelin), ou ainda o petit gateau do Jean Georges (1 estrela Michelin), em São Paulo. Nesse ponto o Peru sabe bem a força da culinária como atração turística e investe sempre em apresentação de receitas em qualquer feira de turismo no mundo (e eles têm o Machu Picchu!),

Sobremesa K.sa Restaurante em Curitiba (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Presente no Brasil desde 2015 (apesar do intervalo pandêmico), o Guia é uma distinção que faz muita diferença para o restaurante laureado, mas também para o turismo da cidade. Um admirador da boa gastronomia tende a decidir por um destino também pela originalidade de sua culinária, e por conseguinte, por meio da curadoria de prêmios como este.

O Guia Michelin em novos destinos

Cidades como Boston resistiram a investir no Michelin e ficaram de fora da lista estrelada por algum tempo. Este mês de maio, o Guia anunciou sua chegada às cidades de Boston e Filadélfia. O Meet Boston e o Philadelphia Convention and Visitors Bureau revelaram que as duas cidades serão incluídas na nova edição do Guia MICHELIN, “Cidades do Nordeste”, que inclui os guias já existentes em Nova York, Chicago e Washington, D.C.

LEIA TAMBÉM: Maior produtora de vinhos do mundo, a Itália apresenta vinícolas de 15 regiões e deseja se tornar líder no Brasil

Boston e Filadélfia são os mais recentes de uma série de novos guias norte-americanos que a equipe Michelin vem adicionando em ritmo acelerado. Só nos últimos dois anos, a empresa publicou novos guias abrangendo Texas, Colorado e Atlanta; expandiu suas zonas de cobertura na Flórida, incluindo cidades como St. Pete-Clewater. É bem certo que o norte-americano sabe a força que o investimento no turismo tem e seus retornos para os destinos.

De acordo com a publicação especializada, Eater.com, o Atlanta Convention and Visitors Bureau pagou US$ 1 milhão para garantir a cobertura da Michelin por três anos, enquanto seis conselhos de turismo do Texas contribuíram com um total de US$ 2.700.000 pagos à Michelin ao longo de três anos para obter o guia estadual. O MeetBoston se recusou a revelar quanto pagou para trazer o cobiçado guia de restaurantes para a região. Geralmente, os guias cobrem apenas áreas que estão sob a alçada dos conselhos de turismo pagantes, mas os inspetores levaram em consideração os limites do conselho de turismo, completa a publicação. O que nada influencia na avalição dos inspetores, vez que o investimento é em atividades de marketing e promoção.

Turismo e gastronomia devem andar juntos

Investir em promoção do turismo tem sua importância em qualquer circunstância. E o retorno esperado geralmente é superior por se espalhar por diversos fatores indiretos, atingindo inclusive restaurantes que ainda não foram reconhecidos ou que tem os premiados como inspiração. No Brasil, só a gastronomia movimenta cerca de R$ 250 bilhões por ano, segundo cálculos da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Talvez ainda seja uma tarefa árdua para a maioria dos estados do Brasil investir vultosas quantias no turismo gastronômico por meios de prêmios como o Michelin. Talvez ainda estejamos distantes do Guia Michelin Sul, Norte, Centro-oeste ou Nordeste do Brasil.

Sobremesa no Osli restaurante em Florianópolis (Foto: Thiago Paes @paespelomundo)

Fato é que Rio e São Paulo entendem que turismo e gastronomia devem andar juntos. Que turismo gastronômico não existe apenas em rotas rurais, em vales montanhosos e regiões afastadas do país. A boa gastronomia cria suas próprias rotas, inclusive em grandes centros. Cidades brasileiras como Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Belém (PA) e Paraty (RJ) foram reconhecidas internacionalmente pela inovação na gastronomia, integrando a Rede de Cidades Criativas da UNESCO. Manaus (AM) se candidatou este ano.

Neste mês, foram reconhecidos 149 restaurantes nas cidades do Rio e São Paulo. O Guia Michelin reconhece não somente restaurantes pelo seu fine dining, mas também os ótimos de custo-benefício (Bib Gourmand). E mais: há um movimento crescente em direção à ecorresponsabilidade, com profissionais que trabalham com ingredientes sazonais e de origem local de forma consciente, respeitosa e inovadora — promovendo uma cozinha com propósito, sem abrir mão do sabor.

LEIA TAMBÉM: Chef mineira leva o pão de queijo para rede americana de restaurantes em Curitiba na versão waffle à brasileira

Destinos, gastronomia e sustentabilidade formam a rota de que precisamos para alavancar nosso turismo, atrair recursos, gerar empregos e movimentar a economia do país. Essa é uma conversa que não acaba nem começa no turismo, nem na gastronomia. É uma pauta sobre a nova promoção do Brasil (dentro e fora do país), a fim de que o mundo de fato reconheça nossos potenciais também por meio de nossos insumos, de nossas receitas, de nossos chefs, de nossos restaurantes.

Talvez nunca tenhamos um guia Michelin Brasil (afinal o Brasil é gigante e diverso), talvez tenhamos um guia regional (e teremos surpresas incríveis). Enquanto o Michelin não vem para o Brasil profundo, o mais importante é compreender a gastronomia e seu potencial turístico, e, quem sabe valorizar mais aquele prêmio local, da cidade, do estado. Quem sabe as estrelas mais importantes estejam ali no seu bairro, na sua rua. Reconhecer nossas identidades e a cultura do que comemos é o maior atrativo que podemos mostrar para o mundo.  Pense nisso!

Thiago Paes é colunista de turismo e gastronomia. Apresentador de TV no canal Travel Box Brazil. Está nas redes sociais como @paespelomundo. Press: contato@paespelomundo.com.br

Siga o @portaluaiturismo no Instagram e no TikTok @uai.turismo

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.