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Feliz Ano Todo: as tendências do turismo em 2024 de acordo com mulheres que são referência no setor

Mariana Aldrigui e Marta Poggi são referências com o assunto é gestão do turismo. Confira o que elas percebem do setor no Brasil e no mundo e quais as tendências e expectativas para 2024.

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Profissionais que são referência no setor conversam com Marina Simião sobre as tendências para 2024 (Foto: divulgação Mariana Aldrigui/ Marta Poggi)

Entre fogos de artifício, contagens regressivas, drones brincalhões pelos céus, garrafas de espumante, telas que compartilham em tempo real as diferentes chegadas de 2024, simpatias e desejos, um novo ano acaba de começar e com ele, aquela sensação de transformação, renovação, ânimo, um novo fôlego também. Particularmente, gosto muito desse tipo de sentimento, de uma espécie de otimismo e entusiasmo compartilhados que parecem contagiar a tudo e todos. Não sei quanto a vocês, mas, estamos na segunda semana do ano e eu sigo com esta emoção!

Algo que sempre faço nestes períodos, em que há uma renovação de ciclos, é refletir um pouco sobre o que passou, fazer uma espécie de balanço em relação ao aprendizado acumulado e, me preparar para o novo ciclo que se inicia, tanto nas questões particulares, como em temas profissionais.

No turismo, em geral, acontece o mesmo. Chegamos ao final do ano fazendo balanços, análises, comparativos, para em seguida, fazer também prospecções e estimativas sobre o futuro. São quando pesquisas diversas de comportamento de consumo, desenvolvimento do setor, destinos de destaque são apresentadas, trazendo insumos variados e matéria-prima para o planejamento de quem atua no setor, e ajudam a dar aquela incrementada na lista de desejos dos turistas.

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Apesar de meio clichê, um pouco contraditório para um espaço que busca trazer debates e reflexões sobre turismo e inovação, porém, necessário, trago a proposta de pensar as tendências para o turismo 2024 também por aqui. Para contribuir neste processo, convidei duas profissionais de excelência do turismo, Mariana Aldrigui e Marta Poggi, para que pudessem compartilhar conosco suas “apostas” para o futuro do turismo no ano que se inicia.

Mariana Aldrigui

(Foto: divulgação Mariana Aldrigui)

Mariana Aldrigui é professora doutora e pesquisadora vinculada à Universidade de São Paulo. Ocupou a Gerência de Informação e Inteligência de Dados da Embratur e presidiu, de Dez/17 a Mar/23, o Conselho de Turismo da Fecomércio SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo). Coordena as ações da ONG Global Travel & Tourism Partnership no Brasil e nas ações de expansão para a América Latina (www.gttp.org). É professora na área de Turismo na Universidade de São Paulo, desde 2006, onde também obteve seus títulos de Bacharel em Turismo (1998), Mestre em Ciências da Comunicação (2003) e Doutora em Geografia Humana (2011), e pesquisadora nos temas de políticas públicas de turismo, turismo em cidades globais e educação para o turismo.

Marta Poggi

(Foto: divulgação Marta Poggi)

Marta Poggi é palestrante internacional e consultora especializada em tendências, inovação e marketing digital para turismo. Fundadora do Blog Agente no Turismo, sócia da Strategia Consultoria e mentora de startups em Portugal, atua como curadora de tendências e estrategista digital para destinos e empresas turísticas no Brasil e outros 11 países. Já realizou mais de 340 de palestras e 80 treinamentos, foi pesquisadora e professora universitária, autora de diversos artigos científicos, 27 ebooks e coautora do livro E-turismo: internet e negócios do turismo.

Tendências do turismo em 2024 e as principais diferenças entre o Brasil e outros países

Mariana e Marta são categóricas quando identificam que o uso intensivo de tecnologia, tanto para coleta de dados, informações do destino, antes e durante a viagem, e compartilhamento das experiências, é uma das principais tendências para o ano e implica diretamente na forma como se consome e se oferta produtos e serviços turísticos. Cenário que impacta diretamente na gestão dos destinos, desdobra em atenção aos temas de inclusão digital, performance e marketing digital além da necessidade em se consolidar as práticas para alcançar o status, e reconhecimento, enquanto destino turístico inteligente. Ambas citam também a busca por experiências e temas voltados para o bem-estar, saúde mental e descanso, e reforçam a importância crescente da atenção quanto à sustentabilidade de destinos, empreendimentos e serviços turísticos como fator determinante na escolha da viagem.

Em relação à variação quanto ao Brasil, Mariana faz um destaque importante “O que eu entendo como diferente no Brasil é que somos um país de turismo doméstico rodoviário, e gestores públicos se fixam em informações do turismo internacional aéreo. Precisamos de mais dados sobre o turismo de proximidade, e trabalhar forte para a fidelização destes clientes pois há mais e melhores resultados com esta abordagem, que naturalmente vai escalar para os outros segmentos.

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Eu acredito que teremos, no Brasil, um ano de viagens mais caras, o que pode refletir em aumento da oferta de experiências para o público que reside em raios de 100 a 400km e que pode chegar de carro. O fato de haver menos feriados pode ser ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade para quem opera serviços “empacotáveis”, pois há mais espaço para promoções enquanto haverá alta demanda nos feriados.”

Ao passo que Marta destaca “Acredito que há diferença entre o Brasil e outros países em relação às tendências porque existem diferenças socioeconômicas, geográficas, culturais etc. Por exemplo, os europeus, sobretudo os escandinavos e alemães, são mais conscientes em relação à sustentabilidade e, portanto, mais exigentes em relação aos fornecedores de serviços turísticos. Então, as tendências são globais, mas os impactos de cada uma delas pode variar de acordo com as características de cada povo. Mas, de forma geral, os viajantes querem experiências autênticas, se reconectar com amigos e parentes e criar boas memórias de viagens.”

O que os gestores do turismo precisam fazer em 2024?

Considerando que o turismo acontece no território, acontece no destino turístico, ao pensar em tendências, é importante instrumentalizar ações e iniciativas que consigam concretizar nos destinos as melhorias e resultados que tais prospecções possam trazer, sendo elas traduzidas então para a gestão local e seu posicionamento. Este foi o tema da segunda pergunta: quais seriam 3 pontos de atenção de alta relevância para garantir o desenvolvimento de um bom trabalho por parte dos gestores em 2024?

Marta comenta “Penso que o maior desafio é pensar o posicionamento do destino: “como queremos ser vistos e reconhecidos no mercado?”, “o que nos diferencia de fato?”. Com a definição do posicionamento e das estratégias de marketing, tudo fica mais claro, a execução das ações, o acompanhamento etc. Então, destacaria: 1. invista tempo para definir o posicionamento e as estratégias de marketing; 2. Siga o seu “GPS”, ou seja, o plano precisa ser implementado. É melhor ter uma folha de papel com as diretrizes claras e exequíveis do que um super plano de marketing que não sai do papel. 3. Todo o time precisa estar ciente e envolvido, para falar a mesma língua e seguir na direção desejada.”

Ao passo que Mariana reforça “O grande desafio, a meu ver, é criar uma cultura de decisões baseadas em informações atualizadas, e não mais em experiências do século passado. Isso depende da criação de uma dinâmica de pesquisas mais inteligente, dispensando achismos, e aproveitando os aportes que a tecnologia pode oferecer. Montar equipes que equilibrem experiências junto ao poder público, pesquisa e iniciativa privada, e entender que no turismo há muita necessidade de conhecimento do local e dos contextos, das forças locais. Não faz mais sentido remunerar consultorias que apenas repetem ideias e não apresentam nem medidas de mensuração de resultados ou como construir indicadores de sucesso. Investir em promoção inteligente, equilibrando on e offline, para otimizar os resultados. As ações online dão alcance, as offline dão profundidade e fidelidade. Importante trabalhar para definir o melhor equilíbrio.”

Interessante destacar que ambas reforçam a necessidade de promoção e marketing pautados pelo conhecimento, pela inteligência de dados. Destacam a necessidade e diferencial de envolvimento da força local, seja ela formada pelas respectivas equipes de trabalho, seja pelos atores da cadeia produtiva local.

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Um caminho diverso ao tradicionalmente realizado pelo turismo brasileiro que sempre buscou se inspirar e se espelhar em exemplos externos, o que acho extremamente válido como troca de experiências e conhecimento. Porém, no relato de ambas é possível identificar a indicação de que, um olhar cuidadoso e generoso para dentro do destino, se apresenta como uma estratégia com melhores chances de galgar resultados mais longevos do que buscar soluções puramente exteriores ao mesmo.

Entenda como o profissional do turismo deve atuar no mercado

Quando falamos de gestão de destinos, falamos de gestores, ou seja, falamos de pessoas, de profissionais tão diversos e heterogêneos como encontramos no setor de turismo. A pergunta tratou deste ponto, afinal, neste cenário de mudanças constantes, quais habilidades, técnicas ou comportamentos são demandados para uma boa atuação profissional no mercado?

Para Mariana: “Atualmente, diria que profissionais com boa habilidade de leitura, compreensão de informações e atenção ao cliente (paciência, disposição, criatividade) são os que tem o melhor desempenho. Trazer pessoas que tenham bagagem com uso de dados, elaboração de relatórios e definição de estratégias ligadas a custos é também muito necessário. O que infelizmente não dá mais é para achar que a formação pensada nos anos 1970/80 e repetida sem atualização até hoje oferecerá bons profissionais ao mercado.”

Marta ainda destaca “Assim como em outros setores da economia, o turismo tem mudado bastante a partir da incorporação das novas tecnologias, novos modelos de negócios e, principalmente, novas demandas dos clientes. Saber trabalhar em equipe, ter pensamento analítico, estar aberto aos novos aprendizados e buscar aprender todos os dias são algumas habilidades e comportamentos desejados para ter boa atuação no mercado turístico. Vemos o crescimento da tecnologia, especialmente da inteligência artificial, diariamente. Porém, o turismo é um setor que depende diretamente das pessoas, da forma como elas acolhem e recebem os visitantes. Portanto, investir na qualificação dos profissionais deve ser uma prioridade para todas as organizações do setor turístico.”

É interessante ver que ambas destacam as mudanças em velocidade do setor, e que, por esta razão, atualizações constantes em relação ao uso de tecnologia, análise de dados, pensamento analítico, finanças, são de extrema importância. Ao mesmo tempo, as chamadas “soft skills” são também de grande relevância visto que falamos de um setor que é feito por e para pessoas. Por isso, inteligência emocional, criatividade, resiliência são também habilidades que podem contribuir para o desenvolvimento profissional. Importante observar que são habilidades também reforçadas para o profissional do futuro, conforme pesquisa da Fórum Econômico Mundial, que aponta estas, e outras habilidades, a serem desenvolvidas ou aprimoradas.

As tendências do setor e o empresário do turismo

Visto que turismo é setor econômico de ação tripartite: poder público, terceiro setor e iniciativa privada, como se transformou o comportamento do empresário de turismo, após a pandemia, e o que precisa ser ainda mais “lapidado” para atendimento às novas tendências de consumo, de maneira a ampliar os bons resultados?

Marta reforça temas que são cruciais na atualidade, como tecnologia e sustentabilidade: “Felizmente muitos empresários entenderam a importância de adaptar seus negócios às novas demandas e ao novo momento que vivemos. Vejo que ainda há necessidade de investir mais no aprimoramento dos produtos turísticos, especialmente na formatação de novas experiências, incorporação de novas tecnologias, para melhorar a interação com os clientes, os próprios serviços e a gestão, o que resulta em mais lucratividade. E investir em sustentabilidade, porque este caminho não tem volta.”

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Mariana traz à tona um ponto crítico: remuneração no setor. Por diversos motivos, entre eles o baixo entendimento sobre o que é trabalhar com turismo, é comum vermos uma baixa valorização dos profissionais e suas entregas. Facilmente é observado um alto investimento em infraestrutura e equipamentos, mas baixa valorização do capital humano, em um setor em que as relações humanas são cruciais. Por esta e outras razões, faço coro à reflexão trazida por ela: “Remuneração. Bons profissionais custam caro. Quem se sujeita a salários humilhantes não oferecerá um bom desempenho. Equipes qualificadas podem até ser menores, que ainda assim serão mais eficientes e produtivas. Os investimentos devem ser inteligentes para refletir como pensa o empresário – se a equipe é explorada, o serviço será medíocre. Se tomarmos os exemplos das grandes empresas de tecnologia, o vínculo se dá a partir dos funcionários, e isso chega no consumidor. Valorizar não é dar brinde, é remunerar adequadamente e reconhecer os bons resultados.”

O turismo já foi chamado de indústria da felicidade, particularmente gosto muito desta referência. Em geral, quem lida com turismo, lida com os sonhos do outro. Seja o sonho em conhecer um novo lugar, participar de um evento muito esperado, poder realizar uma viagem em família, e tantas outras possibilidades. Quem lida com felicidade e com sonhos, também quer ser feliz e também sonha, nesta linha, fechei o ciclo de perguntas para Mariana e Marta perguntando qual o sonho ou desejo para o turismo em 2024.

O que elas sonham para o turismo em 2024

Mariana compartilhou “Meu desejo é que as posições de decisão sobre o turismo brasileiro sejam ocupadas por profissionais comprometidos e dedicados. Que não seja uma área menor ou menos relevante, e para isso as pessoas precisam se comportar com a seriedade e compromisso que o setor demanda. E que haja mais espaço para mulheres, especialmente no ambiente de formulação de políticas públicas.”

Já para Marta: “O meu sonho é ver o nosso turismo mais competitivo, no sentido de contar com serviços mais modernos e qualificados, destinos e empresas mais sustentáveis, gerando benefícios para quem vive no local e oferecendo experiências memoráveis aos viajantes.”

Aproveito para agradecer a colaboração e partilha de Mariana Aldrigui e Marta Poggi no primeiro artigo do ano, com certeza vocês contribuem para que eu seja uma profissional melhor e mais feliz!

E, não poderia me furtar a compartilhar o meu sonho para o turismo em 2024, como turista e como turismóloga. A parcela turista quer ver cada vez mais experiências incríveis e o avanço do turismo criativo como uma prática crescente no Brasil e, enquanto mulher, poder viajar com segurança, sozinha ou não. A parcela turismóloga deseja que o turismo seja cada vez mais reconhecido como setor estratégico para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil, com reconhecimento a cada profissional, nos mais diversos níveis e perfis, e que seja de fato uma ferramenta de transformação de territórios e vidas.

E para você? Qual seu sonho ou desejo para o turismo em 2024?

Feliz ano todo! Um beijo pra minha mãe, pro meu pai e pra você!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.