Opinião
Morte de turista no Cristo Redentor escancara necessidade de estruturação no turismo
Um ambiente turístico estruturado deve estar preparado para lidar com incidentes
No último domingo (16), o turista gaúcho Jorge Alex Duarte sofreu um infarto enquanto subia a escadaria do Cristo Redentor. Jorge passou mal às 07h39min da manhã, quando o posto médico do monumento ainda estava fechado. Melissa Schiwe, nora de Jorge e enfermeira especialista em atenção cardiovascular, iniciou os primeiros socorros enquanto aguardava a chegada de ajuda. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegou às 08h13 e, infelizmente, decretou a morte do turista.
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Melissa utilizou as redes sociais para criticar a falta de serviço de atendimento de urgência, uma vez que o posto médico existente no complexo turístico estava fechado. A concessionária Trem do Corcovado, responsável pelo posto médico, afirmou, em nota, que o posto estava funcionando e a equipe do local agiu prontamente, contando ainda com uso de desfibrilador. A nora rebateu questionando essa afirmação na legenda de outra foto: “Como alegar que ele teve um infarto fulminante e que nem uma UTI teria salvo a vida dele se não havia nem uma ambulância no parque nem atendimento de urgência, que deveria estar aberto?”.
Após o falecimento, na segunda-feira (17), o Cristo Redentor foi parcialmente interditado pelo Procon-RJ e Secon, após constatação de falha na prestação de serviço. Entretanto, na terça-feira (18) o ponto turístico foi reaberto, após uma vistoria da Sedcon, que constatou adoção de medidas para garantir a segurança dos visitantes, como funcionamento de um posto médico em período integral de abertura do atrativo e a permanência de uma ambulância no local.
“É natural que ainda tenha uma coisinha ou outra [a se fazer], como a troca de extintores, mas que já está sendo providenciada. Nossa preocupação é com a vida daqueles que aqui frequentam, do turista, do consumidor, e que eles tenham total segurança e que o que é deles de direito será cumprido”, afirmou o secretário estadual de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca à Agência Brasil.
Na terça-feira (18), uma vida foi poupada graças à instalação da unidade móvel no local. Um visitante dinamarquês passou mal enquanto fazia a trilha na Estrada do Corcovado e foi socorrido por uma das duas ambulâncias instaladas no Cristo Redentor.
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Turismo não é um setor isolado
Os casos reforçam a necessidade de entender que o turismo não é um setor isolado. Para que aconteça a atividade turística, é preciso que todas as outras áreas estejam alinhadas. O turista precisa de estrutura para realizar a sua viagem em segurança, apenas a existência do atrativo turístico não é suficiente para que um local receba visitantes.
O turismo é um setor sério, é preciso levar em conta a sua complexidade na hora de estruturar e planejar uma localidade. Não dá para fazer as coisas pela metade, esperando que seja tudo sempre mil maravilhas. Imprevistos e acidentes acontecem, por isso é preciso que exista um sistema preparado para minimizar ao máximo esses impactos.
Não há como garantir que fatalidades, como a que aconteceu no último domingo, não irão acontecer. Mas é possível criar um ambiente que seja feito o possível para que isso não ocorra. Diante de uma equipe médica disponível e preparada, a história de uma família poderia ter um final diferente.
Ações como as aulas de técnicas de ressuscitação cardiopulmonar para os funcionários do Cristo Redentor, ministradas pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC) na quarta-feira (19), são fundamentais para evitar novas tragédias, principalmente por negligência. É fundamental que o caso não caia no esquecimento e que se torne um alerta para gestores de cidades e atrativos turísticos, para que comecem a planejar um turismo mais preparado e seguro.
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Além de experiências, atrativos, meios de hospedagem e alimentação, há uma série de medidas que precisam ser tomadas antes de começar a receber turistas em uma determinada localidade:
- Boas vias para se locomover, com sinalização adequada, que torne fácil a movimentação pela cidade;
- Segurança para poder sair sem medo;
- Sistema de saúde que esteja sempre preparado para lidar com emergências;
- Equipes capacitadas para lidar com o público;
- Posto de informações de fácil acesso para poder recorrer sempre que necessário.
O destino turístico precisa ser, antes de tudo, uma boa cidade para seu próprio morador. Tudo que o turista precisa durante uma viagem, o cidadão local precisa no seu dia a dia.
É urgente a necessidade de começar a olhar o turismo com um olhar mais sério, buscando fiscalizar se a atividade turística está acontecendo dentro das medidas que a tornem segura para o praticante, não buscando apenas o lazer sendo levado de “qualquer jeito”.
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