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Cultura

Caricatura em Paris

A lembrança de uma turnê vitoriosa pela Europa.

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Foto: Acervo pessoal Ubiraney

Apesar de ter me especializado profissionalmente na gestão pública e na gestão sociocultural e turística, devo admitir, que boa parte da minha juventude foi dedicada à música onde pude estudar um pouco de técnicas do canto, piano e violão.

Ainda muito novo e com muita vergonha, fiz um teste vocal e me ingressei no Coral Canarinhos de Itabirito onde atuei por mais de 30 anos como cantor e também como gestor administrativo, considerando que fiz parte de sua diretoria por longos e prazerosos períodos.

 Mas o que vale aqui, é afirmar, que estar vinculado a uma agremiação cultural, além de garantir momentos únicos de muita diversão, mesmo sem a noção tecnológica da potencialidade das “networks” lá nos anos 80, pude construir uma rede colaborativa de amizades, profissionais, saberes, forças, experiências, vivências e mais, que me deram consistência para entender que o mundo ia bem além do meu bairro e da minha cidade natal.

Pela minha rede de amigos, fui convidado a fazer um teste para me ingressar no corpo coral da Fundação de Arte Madrigal Renascentista, naquele período, um dos mais conceituados grupos corais do Brasil e do mundo e mesmo ingênuo e descrente de resultados, me encorajei e fui em frente.

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Àquela altura, já com uma qualidade vocal mais apurada, apesar da insegurança, ao comando do estimado Maestro Afrânio Lacerda fui cumprindo suas orientações e em poucos minutos fui admitido para o naipe dos tenores. Do assento dos candidatos às vagas direto para a bancada de barítonos titulares do Madrigal Renascentista, um sonho realizado.

Enfrentando os medos e as dificuldades normais e financeiras de um estudante do ensino médio, fui de ensaio em ensaio, tomando confiança e me capacitando para que a cada aparição em um palco brasileiro, e foram muitos e dos mais nobres, tivesse entendimento sobre a dimensão daquela experiência cultural em minha vida e em minha formação intelectual e social.

Excursões Artísticas

Entre tantas excursões artísticas Brasil afora, a essa altura atuando junto a diretoria da Fundação de Arte, já sob o comando do talentoso Maestro Marco Antônio Maia Drumond, vislumbramos esboçar mais uma excursão pela Europa para lançarmos o novo CD que preparávamos com a belíssima “Missa de São Sebastião”, de autoria de Heitor Villa Lobos e, como a network dos cantores àquela altura era muito boa, conseguimos organizar um mês de concertos passando por algumas cidades da Áustria, Eslovênia, Itália e França.

Foi um mês culturalmente rico, turisticamente muito divertido e socialmente empolgante já que tivemos a oportunidade de experimentar o melhor e o pior da culinária de cada cidade visitada, encher os olhos com paisagens europeias cinematográficas, cantar em ambientes austeros e lindos como as embaixadas do Brasil em Paris e em Roma, vivenciar um embate cultural com a polícia do Vaticano após um lindo concerto em praça pública, entrarmos emocionados pra cantarmos na Catedral de São Francisco em Assis, logo após um grande terremoto, que quase a derrubou, caminhar alegremente pela Champs-Élysées inteira para conhecer o Arco do triunfo e tomarmos divertidamente, muitas cervejas, na “caliente” noite de Liubliana, capital da Eslovênia.

Em Paris

Pra completar nossa aventura musical, pela tragédia da queda do Concorde da Air France, fomos “castigados” com mais uns dias em Paris, até que o movimento no aeroporto normalizasse e as companhias pudessem acomodar os passageiros dos voos internacionais.

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Já sem compromissos musicais, nossa opção foi turistar por Paris e partimos para uma visita à Catedral de Notre-Dame, uma das mais antigas da França, em um curioso estilo gótico, tendo sua construção iniciada em 1163, situada na Île de la Cité em Paris e rodeada pelas águas do, não menos famoso, rio Sena.

Após a visita à catedral, às margens do Sena e à procura de mais diversão, deparamos com alguns artistas de rua, ganhando a vida por ali e entre eles um talentoso caricaturista, que do nada me puxou e começou a rabiscar meu perfil em um papel apropriado àquela arte.

Eu logo avisei, que não tinha “francos franceses” suficientes para pagá-lo, mas entusiasmados pela caricatura que nascia ali, meus colegas madrigalistas, animados com a súbita abordagem do artista e mantendo o rito corriqueiro de zoar com o colega, naquele momento modelo, animadamente se prontificaram a ratear o custeio da obra e me presentearam com o desenho de rua, depois de rirem muito dos traços estampados naquele papel.

Agradecemos ao artista e seguimos margeando o rio Sena, apreciando minha caricatura e de forma barulhenta continuamos nosso passeio por Paris.

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Hoje, 23 anos depois, esta mesma caricatura, uma verdadeira obra de arte, agora emoldurada, enfeita a parede da sala de meu apartamento onde quase que inevitavelmente, tenho que repetir esta estória, tamanha a curiosidade que a obra desperta.

Por fim, não preciso dizer que com o Madrigal Renascentista tivemos uma turnê vitoriosa pela Europa e que dos fatos acontecidos em um mês, que pareceu um ano, tenho mais tantas e tantas passagens pra relatar por aqui.

Espero que apreciem a minha imagem nos anos 2000!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.