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Inovação

Natalia Bayona, Diretora Executiva da Organização Mundial do Turismo fala sobre inovação em turismo

Marina Simião realiza entrevista exclusiva com a primeira mulher jovem e latina a ocupar o cargo de Diretora Executiva da OMT. Ela fala sobre inovação no turismo, os desafios da sustentabilidade e sobre o novo escritório da agência da ONU no Brasil.

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Natalia Bayona é Diretora Executiva da Organização Mundial do Turismo. (Foto: divulgação)

Quando comecei a tratar o tema de Inovação e Turismo aqui no Portal Uai Turismo, comentei que não seria nada inovador trazer apenas a minha análise ou reflexão sobre inovação e outros tantos temas transversais. Por isso, é com muita alegria que apresento a primeira entrevista da sessão e não poderíamos começar melhor!

Tive a oportunidade de conhecer brevemente a Natalia Bayona durante uma passagem rápida pelo Brasil, e por Belo Horizonte, em 2019. Além de muito atenciosa e atenta a cada detalhe, Natalia se mostrou uma profissional de extrema qualidade e generosidades sem iguais, assim, sua prontidão em aceitar o convite e compartilhar de sua experiência não foi uma surpresa.

Natália é colombiana, formada em relações internacionais pela Universidade Externado da Colômbia com passagem pela ProColombia, onde atuou em projetos chave de promoção internacional do país. Foi vice-presidente da Spain Startup-South Summit, liderou o Departamento de Inovação, Educação e Investimento da OMT. Também atuou diretamente na captação de recursos e promoção da inovação pela educação, criando a primeira Academia Online de Turismo da entidade. Ministra regularmente palestras e masterclasses em universidades renomadas em todo o mundo, incluindo Harvard, Cornell e MIT, e é a primeira mulher jovem e latina a ocupar o cargo de Diretora Executiva da OMT, com sede em Madri, na Espanha.

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  1. Como você descreve inovação, em especial, inovação em turismo?

    A inovação é um elemento intrínseco ao setor do turismo. Pela sua natureza global e dinâmica, é um dos setores pioneiros na implementação de soluções tecnológicas e fórmulas inovadoras que procuram implementar a gestão de recursos, qualidade e inclusão da oferta turística. Esta transformação acelerou em consequência da pandemia, que impulsionou o consumo digital devido às barreiras de mobilidade.

    A OMT está consciente do grande potencial que a digitalização tem no desenvolvimento sustentável de um setor estratégico para a criação de riqueza local, e por isso defende a adoção destas ferramentas, especialmente entre as pequenas e médias empresas, que representam até 80% do tecido empresarial das indústrias do turismo.

    Para contribuir para esta transformação, desde 2018 a OMT lançou 15 concursos para startups, 8 desafios de inovação e 27 Tourism Tech Adventures com o objetivo de identificar novas soluções de ponta para o setor com uma abordagem sustentável que ofereça visibilidade, acesso e recursos que lhes permitam expandir suas operações. Em números, estamos falando de mais de 2 milhões de dólares obtidos em financiamento para as 300 maiores startups, mais de 20 programas de formação, centenas de sessões de mentoria e consultoria e da candidatura de mais de 18.000 participantes de mais de 150 países.

    Especificamente na América Latina celebramos o Desafio de Inovação Turística no Brasil, que aconteceu em 2020, os desafios de Novas Experiências Turísticas na Colômbia e no Panamá, e atualmente temos a chamada aberta para o Desafio de Inovação Turística Comunitária Colombiana. Da mesma forma, também organizamos fóruns de inovação para startups, nossas Tourism Tech Adventures, no Brasil, Panamá, Colômbia, Chile e Argentina.

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    Vale ressaltar também que 4% das startups da nossa rede de inovação são brasileiras e a maioria tem foco em impacto social e plataformas de viagens. Uma delas, vencedora do desafio Inovação Turística Brasileira, é a Worldpackers de São Paulo, plataforma online lançada em 2015 que conecta viajantes a anfitriões para facilitar experiências de imersão cultural. A comunidade tem mais de 2 milhões de usuários em mais de 140 países. Outro finalista foi a Vivakey, também de São Paulo, que oferece ferramentas de digitalização para hotéis para facilitar o acesso aos quartos por meio do fácil reconhecimento ou uso de senhas após a formalização da reserva.

    Os nossos esforços conseguiram obter o reconhecimento do sistema das Nações Unidas em termos de inovação, com especial distinção em 2020 e 2022, e acabamos de receber o Prémio Catalyst 2030 na categoria de organizações multilaterais.

    2. Quando se fala em inovação, é comum se pensar em inovação tecnológica, como você vê o impacto das novas tecnologias do turismo, em especial, no futuro do trabalho em turismo?

    As novas tecnologias representam uma excelente oportunidade para explorar novas áreas de negócio e expandir a oferta e a qualidade turística. É verdade que alguns deles, como a inteligência artificial, poderão substituir trabalhadores em empregos específicos, mas, ao mesmo tempo, serão gerados muitos novos empregos.

    O financiamento de startups focadas em tecnologia turística tem registado um crescimento sustentável desde 2010, com exceção de 2020 devido ao impacto inicial da pandemia, e registrou um ano recorde em 2021, em que 27% dos 48 milhões de dólares foram direcionados a capital de risco dos valores investidos entre 2018 e 2022. Se dividirmos os investimentos em categorias, 40% foram para startups de viagens, 25% para iniciativas de hotelaria e 10% para soluções de transporte aéreo. Em 2023, 2,9% dos unicórnios pertencem ao setor de tecnologia turística.

    Em relação às tecnologias mais utilizadas, destacam-se inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, blockchain e web3, e tecnologias verdes e sustentáveis, bem como modelos B2B de softwares para análise de dados, gestão de negócios, conectividade e pagamentos.

    Para garantir a transferência de conhecimentos necessários à adaptação do mercado de trabalho a estas novas tecnologias, é fundamental investirmos numa educação de qualidade que inclua também conteúdos nas áreas de machine learning e análise preditiva, bem como a utilização de plataformas de dados como Tableau ou Power BI. Isto implica também a revisão dos programas e conteúdos acadêmicos, bem como a formação dos próprios professores, para que o conhecimento transmitido às novas gerações esteja alinhado com as necessidades atuais e futuras do setor

    Em nossa academia online, UNWTO Tourism Online Academy, apoiamos esses esforços oferecendo cursos que tratam de temas tecnológicos, como o curso “Inteligência Artificial (IA) em Hospitalidade: Desafios e Oportunidades de Negócios” desenvolvido pelo Swiss Education Group, o curso “Gestão de Inovação e Tecnologia em Turismo e Hotelaria” da Universidade Politécnica de Hong Kong, ou o MOOC sobre “Inovação em Turismo” oferecido pela Universidade Externado da Colômbia.

    Esta plataforma de formação online já conta com 22 mil alunos de 150 países, e é uma das várias iniciativas que temos em curso para promover o conhecimento e a formação de ponta de jovens e profissionais do setor.

    3. A Organização Mundial do Turismo atua em dezenas de países com perfis muito distintos, com demandas variadas e formas diversas de pensar e gerir a atividade turística. Como a inovação pode contribuir para ampliar a troca de experiências e aproximar realidades tão distintas?

    O desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas vive um momento exponencial de mudanças, por isso observamos continuamente novas propostas entrando no mercado.

    Tecnologias como a realidade virtual e aumentada ou o metaverso permitem a criação de experiências imersivas e digitais que podem facilitar a acessibilidade a conteúdos e destinos em qualquer parte do mundo ou mesmo em tempos históricos. Estamos a falar de uma nova modalidade de turismo, o virtual, que irá ampliar a oferta turística e ultrapassar os problemas de mobilidade.

    Através do metaverso também podem ser criados gêmeos digitais, que são réplicas virtuais que podem contribuir no estudo de dados para o planejamento e gestão eficiente de recursos em destinos turísticos. A OMT lidera o grupo de trabalho sobre a implementação do metaverso para o setor do turismo que a agência das Nações Unidas, ITU – União Internacional de Telecomunicações, criou para estudar a aplicação desta ferramenta para fins de desenvolvimento sustentável.

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    Em relação à inteligência artificial, diversos usos já começaram a ser implementados no setor. Entre eles destaca-se a criação de modelos de previsão do comportamento da procura turística, que facilitarão o planejamento e coordenação de recursos nas diferentes temporadas turísticas. Este conhecimento permite-nos também personalizar e oferecer recomendações aos turistas, o que otimiza a eficácia das estratégias comerciais. Os chatbots também estão sendo implementados com sucesso, pois melhoram a experiência do consumidor.

    4. Metodologias de desenvolvimento de Destinos Turísticos Inteligentes estão em curso em diversos países, inclusive, no Brasil está em curso um projeto entre o BID e o Sebrae Nacional, para atuação em 12 destinos brasileiros. Como a OMT observa estas iniciativas e como elas podem ser ainda mais descentralizadas?

    Estes tipos de iniciativas que procuram otimizar a gestão dos destinos turísticos com a ajuda da tecnologia estão a revelar-se muito bem sucedidas devido ao uso eficiente dos dados. Através do planejamento inteligente é possível gerir recursos públicos e privados com base nos volumes de visitas, criando experiências de maior qualidade, promovendo a acessibilidade, garantindo a qualidade de vida da comunidade local e ajudando a resolver problemas derivados da sobrelotação

    A Espanha é sem dúvidas o país líder mundial no desenvolvimento e implementação de destinos turísticos inteligentes (DTIs). Esta iniciativa, que começou em 2012 sob a liderança da SEGITTUR, a empresa estatal pertencente à Secretaria de Estado do Turismo de Espanha, já conta com uma importante rede de destinos inteligentes com mais de 600 membros no mesmo país, e alguns internacionais na Colômbia, Uruguai, Paraguai e México.

    Para obter a distinção Destino Turístico Inteligente os destinos que obtenham uma pontuação igual ou superior a 80% no grau de cumprimento dos requisitos definidos pela metodologia DTI. Alguns dos destinos que obtiveram este reconhecimento são Benidorm, Santander, Málaga ou a Ilha de Tenerife.

    Para conseguir uma correta implementação destes modelos, é essencial garantir a qualidade e transparência dos dados partilhados, muitas vezes nas mãos de diferentes entidades públicas e privadas. É por isso que é necessária uma estreita colaboração entre os diferentes intervenientes que operam nos destinos e uma importante liderança e compromisso por parte das autoridades governamentais responsáveis ​​pelo estabelecimento de quadros legais, regulamentos e incentivos que promovam a inovação e o investimento estratégico e sustentável.

    5. Quais são os projetos, ou iniciativas, em curso e/ou apoiados pela OMT que tem a inovação como ponto principal para o fomento à atividade turística? Destacaria algum destino em especial?

    Como indicado anteriormente, a OMT tem uma estratégia ambiciosa para promover a inovação no setor do turismo que é composta por uma série de iniciativas, entre as quais se destacam os nossos concursos e desafios de investimento para startups e pequenas e médias empresas. 

    Graças a este esforço, conseguimos identificar empresas disruptivas em todo o mundo que utilizam diferentes tecnologias e abordagens criativas para resolver problemas e desafios atuais. Algumas destas competições têm temas gerais, como as relacionadas com todos os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS da ONU), enquanto outras giram em torno de verticais mais específicas, como é o caso da competição que temos agora em curso para a gastronomia, 4th Global Gastronomy Tourism Startup Awards, que comemora sua quarta edição.

    Nos próximos dias lançaremos também um novo concurso internacional para identificar as melhores soluções inovadoras e sustentáveis ​​para a hotelaria e novos modelos de negócio.

    6. As tendências de consumo e comportamento do turista mostram cada vez mais a busca por destinos mais sustentáveis, com práticas responsáveis, realmente mais conectadas com a realidade e a comunidade local, em contraponto a uma atividade massificada. Podemos dizer que o turista hoje também se vê como parte da atividade e por isso, se comporta de forma mais responsável?

    Como você menciona, temos observado uma consciência crescente sobre a importância do respeito pelo ambiente e de práticas turísticas sustentáveis ​​e com impacto social positivo. Da mesma forma, a pandemia aumentou o interesse nos destinos rurais para se conectarem com a natureza e desfrutarem de ambientes mais holísticos e menos movimentados.

    Ao promover destinos novos, menos populares, mas de grande interesse pelo seu patrimônio cultural ou natural, favorecemos a chegada de oportunidades econômicas que apoiam o desenvolvimento sustentável de regiões menos favorecidas. Ao mesmo tempo, também reduzimos o impacto negativo que o turismo de massa tem.

    Paralelamente a estas mudanças nas preferências e práticas responsáveis ​​pela procura turística, é também necessário implementar soluções que correspondam a estas expectativas, caso contrário estaríamos falando de oportunidades perdidas. 

    Prevemos que as emissões de CO₂ causadas pelo turismo crescerão até 25% em 2030 em comparação à 2016. Tendo em conta estes dados, é surpreendente e preocupante que apenas 26,3% dos alojamentos tenham desenvolvido iniciativas de ação climática para contrariar estes efeitos nocivos.

    No entanto, cada desafio representa uma oportunidade e neste caso estamos falando do valor do setor da construção sustentável, que está estimado em 24,7 bilhões de dólares até 2030.

    7. A Agenda 2030, os 17 ODS’s vem sendo debatidos em diversos setores, inclusive no turismo. Vimos que a OMT lançou como tema “Turismo e Investimento Verde” para o  Dia Mundial do Turismo 2023. Na sua avaliação, quais seriam as principais contribuições do turismo no alcance dos ODS’s e da Agenda 2030?

    O setor do turismo é um grande motor de desenvolvimento, pois representa cerca de 9% do PIB global, segundo a Organização Mundial do Trabalho. Antes da pandemia, o setor empregava um em cada dez trabalhadores e estamos perto da recuperação total. Além disso, as expectativas de crescimento para os próximos anos são positivas, tornando-se um momento ideal para executar investimentos estratégicos.

    Considerando, portanto, a dimensão e o impacto direto que o turismo tem na atividade econômica local, podemos concluir que é um mecanismo de transformação eficaz que pode contribuir de forma muito positiva para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

    Os países em desenvolvimento representaram quase 70% do investimento direto estrangeiro global em 2022 e o valor dos projetos verdes anunciados para serviços cresceu 68% entre 2021 e 2022.

    É por isso que, na OMT, defendemos a promoção de investimentos com este objetivo em torno de três pilares: investir nas pessoas através da educação, investir no planeta através de soluções amigas do ambiente e investir na prosperidade, implementando a inovação e a digitalização.

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    Através de mecanismos regulamentares e financeiros e de incentivos ao investimento em projetos sustentáveis ​​e inovadores, seremos capazes de acelerar o progresso no sentido de alcançar os objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável.

    8. A OMT, sob sua liderança, vem atuando fortemente em ações educativas, especialmente, voltada para os jovens. O que despertou seu interesse para esta necessidade e quais são as oportunidades a serem criadas em um futuro breve?

    Um dos principais desafios do setor é a falta de formação profissional, que prejudica as perspectivas salariais e de emprego da população ativa, maioritariamente constituída por jovens e mulheres. Se tivermos também em conta as expectativas de crescimento do setor, estima-se que todos os anos até 2030 será necessário oferecer formação profissional a mais de 880 mil colaboradores. 

    Da mesma forma, a OCDE, composta por 38 países, identificou que até 14% dos jovens que trabalham no turismo em 2022 não concluíram o ensino secundário, e a União Europeia alerta que até 25% da sua força de trabalho tem estudos de baixo nível. A estes dados alarmantes soma-se a complexidade envolvida na incorporação de novas tecnologias e na digitalização do setor, o que exige cada vez mais formação técnica.

    Perante este panorama, é uma prioridade para o nosso Secretário-Geral, Zurab Pololikashvili, e para mim, dedicar especial dedicação ao desenvolvimento de ferramentas e projetos de formação que reforcem os esforços implementados pelos Estados-membros na área da formação.

    Além da academia online da OMT acima mencionada, desenvolvemos um programa de formação superior em colaboração com um centro líder em educação em turismo, a Universidade de Ciências Aplicadas e Artes de Lucerna (HSLU). O grau de Bacharel em Ciências em Turismo Sustentável Internacional. Com duração de três anos, sendo o primeiro ano ministrado em Madrid, seguido de um segundo ano de formação e estágios remotos e um último ano de aulas presenciais em Lucerna. O currículo destaca-se pelo seu conteúdo atualizado, adaptado às necessidades atuais do setor, e com uma componente referente aos objetivos de desenvolvimento sustentável. A primeira turma começará no outono europeu de 2024.

    Mas para criar uma mudança de paradigma no setor, acreditamos que a educação em turismo deve ser introduzida desde as fases iniciais. Desta forma, podemos contribuir para transformar a percepção que os jovens têm sobre o setor, que ainda não consideram uma carreira profissional valiosa.

    Na Assembleia Geral de Samarcanda apresentámos o Kit de Ferramentas Educativas para a incorporação da temática do turismo no ciclo escolar, especificamente no ensino secundário. A iniciativa inclui medidas e recomendações para o desenvolvimento de um currículo adaptado, bem como informações sobre os conteúdos já disponibilizados oferecidos pelos nossos colaboradores acadêmicos, AHLEI e Cambridge. 

    9. A Revista Forbes indicou, em 2023, o Brasil como o Melhor Destino de Turismo de Aventura, mas, no ranking de competitividade dos países em turismo elaborado pelo Forum Econômico Mundial, o país caiu de 21º para 49º posição. Neste cenário, em que temos grande potencial, inúmeros atrativos e, temos problemas em de fato posicionar e promover tudo isso, qual seria sua avaliação frente aos caminhos e principais desafios para o turismo brasileiro de fato avançar?

    Com todas as mudanças que estão ocorrendo no setor, que ainda se recupera do impacto da pandemia, estamos num ponto de virada para todos os países que desejam reposicionar os seus destinos turísticos como opções competitivas de qualidade à escala global.

    No caso do Brasil, em 2022 foram alcançados 86.050 milhões de dólares de investimento direto estrangeiro, o que supera os 65.386 milhões de dólares recebidos em 2019. Pode-se, portanto, afirmar que o país recuperou o ritmo de investimento direto estrangeiro que vivia antes da pandemia.

    Entre 2018 e 2022, foram anunciados 31 projetos de investimento no valor de 1,22 milhões de dólares, ligados às perspectivas de criação de até 8.500 empregos. Acima do Brasil na América Latina e Caribe está apenas o México, com 105 projetos anunciados. 36% desses investimentos concentraram-se em São Paulo e 16% no Rio de Janeiro, o que demonstra um interesse equivalente em destinos alternativos. Quanto à origem dos investimentos, Reino Unido, Espanha, Tailândia, Panamá, EUA e Emirados Árabes Unidos (EAU) lideram a lista.

    Em relação ao comportamento da demanda turística, de acordo com a edição mais recente do barômetro da OMT de setembro de 2023, o tráfego aéreo nacional do Brasil superou os níveis pré-pandemia de 2019 (1%) nos primeiros sete meses de 2023. Os níveis de tráfego aéreo doméstico as capacidades também foram excedidas em 5%. Se analisarmos o turismo internacional, as chegadas de viajantes ao país registraram um crescimento significativo de 386,7% em 2022 face a 2021, e no início do verão estávamos a apenas 8,4% de atingir os valores pré-pandemia.

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    Com essas expectativas de melhoria, além de continuarmos atentos aos esforços de promoção comercial, que podem ser implementados e personalizados com o uso da inteligência artificial, é fundamental continuar investindo na formação de pessoal preparado para gerenciar novas demandas e desafíos das distintos ellos da cadeia produtiva do turismo. Paralelamente, devemos continuar a apoiar infraestruturas e serviços turísticos sustentáveis ​​e de qualidade, bem como apoiar a incorporação de novas tecnologias, a digitalização e propostas inovadoras que tornem as experiências dos viajantes inesquecíveis.

    10. Ainda sobre o tema de competitividade, foi recentemente anunciada a candidatura do Brasil para receber um escritório da OMT. Qual a importância desta iniciativa tanto para o Brasil, como para a OMT? E quais são as expectativas mais imediatas com essa presença da OMT no país?

    Como indicado, a candidatura foi anunciada com grande entusiasmo durante a 25ª Reunião da Assembleia Geral que teve lugar em Samarcanda, no Uzbequistão, de 16 a 20 de outubro, pois representa um marco na história da OMT. O Rio de Janeiro sediará um escritório regional que terá como principal objetivo promover investimentos em turismo para toda a região. Da mesma forma, nos permitirá conhecer no terreno os casos de destinos e comunidades da América Latina. 

    Também será incumbido de organizar reuniões e eventos em seu próprio espaço, o que deixará claro que as Américas em geral, e o Brasil em particular, têm muito a dizer em termos de turismo.

    Esperamos poder abrir as portas deste novo escritório durante 2024 e estamos muito satisfeitos por poder materializar a expansão das atividades da OMT em estreita colaboração com os estados membros a partir de uma abordagem cada vez mais regional, pois demonstra o interesse crescente do turismo como um setor econômico estratégico.

    11. Você é a primeira mulher, latina, jovem, a ocupar o cargo de Diretora Executiva, e se torna um exemplo para várias outras profissionais do setor. Como você vê a contribuição das mulheres ao setor de turismo e quais são as oportunidades de ampliar e cada vez mais qualificar esta participação?

    Esta nomeação representa uma grande honra, após cinco anos de compromisso dedicados à expansão da área de Inovação, Educação e Investimentos. Da mesma forma, é uma grande responsabilidade, pois tenho consciência de que é uma oportunidade simbólica de capacitar outras mulheres que queiram desenvolver carreiras longas e de grande impacto no setor.

    As mulheres representam cerca de 54% da força de trabalho e, como empreendedoras, proporcionam valor agregado, uma vez que muitas das suas iniciativas perseguem objetivos de impacto social positivo. Por sua vez, são prejudicadas por um menor nível de formação e, consequentemente, por uma remuneração mais baixa.

    Para enfrentar estes desafios, além de todas as iniciativas educacionais, também incorporamos um foco de gênero nos nossos programas de inovação, identificando startups que têm mulheres cofundadoras ou que fornecem soluções que abordam o objetivo de desenvolvimento sustentável número cinco, sobre a igualdade de género e o empoderamento de mulheres e meninas.

    Este ano lançamos também um concurso para a região do Oriente Médio, Women in Tech Startup Competition for Middle East, dirigido a mulheres empreendedoras com propostas tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do setor na região. Das mais de 140 startups participantes, todas com alto nível de criatividade e qualidade, identificamos quatro vencedoras que estão recebendo suporte em treinamento, mentoria, consultoria e apresentações com  potenciais investidores.

    12. Para você, qual o maior desafio da atividade turística que você gostaria de ver solucionado em até 10 anos e porquê?

    O principal precursor do crescimento robusto e sustentável deste setor tão humano e resiliente é o nosso capital humano. A aposta na formação das gerações que irão integrar o setor nesta década contribuirá positivamente para as suas perspectivas econômicas.

    Formar os jovens, dar-lhes ferramentas para que possam gerir os desafios presentes e futuros que irão enfrentar, apoiando-os na realização dos seus desejos empreendedores e incorporando a inovação ao serviço do desenvolvimento sustentável, deve ser a principal prioridade dos nossos governos.

    Com uma classe trabalhadora bem preparada, consciente dos problemas ambientais, especialista em novas tecnologias, conhecedora dos mecanismos que incorporam e empoderam as comunidades locais como beneficiárias econômicas e socioculturais, garantiremos um futuro positivo para todos.

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    ** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.