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Turismo e Gastronomia

O Borogodó da Nova Cozinha Alagoana

Conheça a variada cozinha alagoana em uma gastronomia enriquecida de história.

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Foto: Thiago Paes

Que Alagoas tem um dos litorais mais lindo do mundo, isso você já sabia. É no litoral norte do estado que fica a segunda maior barreira de corais do mundo, além disso, as diversas praias que vão de Penedo a Maragogi coroam o estado com águas cristalinas, mergulhos, uma vida litorânea para todos os gostos. Mas também os sabores. As tradicionais peixadas ao molho do leite de coco, os sururus em pratos ou em copos como caldinhos continuam nos cardápios mais turísticos de Maceió, a capital. Aliás, o caldinho é um patrimônio local. Uma entrada literalmente suculenta e temperada com ingredientes regionais, o que deixa mais interessante ainda.

Entretanto, a novidade são os menus em lugares descolados e sofisticados que agora levam a assinatura de chefes que cultivam cozinhas criativas, afetivas, repletas de referências europeias e bem brasileiras. De polvo com presunto de parma a pétit gateau de queijo com goiabada, ou ainda as sobremesas com frutas, molhos e outros sabores da terra.

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História alagoana

Não dá para falar em gastronomia alagoana sem ao menos citar as referências históricas de um estado que foi berço do maior quilombo brasileiro, terra de muitos coqueirais, de lagoas que cruzam cidades, de um lugar que já esteve ligado à Pernambuco e com ele ainda guarda identidade cultural. E por fim, um dos maiores produtores de açúcar do país, sem esquecer dos engenhos que aqui deixaram como legado os bolos açucarados, as cocadas, o melaço da cana assim como patrimônio gastronômico perpetuado, principalmente, por mulheres.

O gostinho alagoano

Da história, Alagoas traz os traços afetivos de quem ama cozinhar e hoje vive um novo momento gastronômico. Restaurantes como o Toscana e a chef Letícia Melro, trazem para o cardápio referências da Itália ao servir berinjela cremosa gratinada – uma das mais incríveis que eu já provei – porém, sem esquecer dos gostos que estão no imaginário local. Daí vem o camarão com mel de engenho bem como a cocada com sorvete de tapioca ou capim santo. Quem poderia imaginar num restaurante com nome e jeito italiano provar derivados da mandioca? É literalmente uma viagem da Duomo em Firenze para os coqueirais verdes e os mirantes ensolarados de Alagoas. Mas o Toscana ainda ousa estar fora da badalação turística das praias, provando que a cidade é muito mais que o paraíso das águas.

Foto: Thiago Paes

No multicultural bairro da Ponta Verde, poderíamos fazer um roteiro gastronômico de dias por ruas, galerias e adegas. Uma das novidades é o Terruá, um restô e wine bar com uma variedade de vinhos que harmonizam com um cardápio de entradinhas e pratos como o polvo com Parma, assim também, uma deliciosa tábua de queijos, embutidos e chocolate. Menu que tem a curadoria da chefe Mariana Bernardes, consultora dos melhores empreendimentos gastronômicos da cidade.

Do mesmo modo, ainda na Ponta Verde, o Grand Cru, rede conhecida pela curadoria de boas safras de vinhos pelo mundo, em Maceió, apresenta também uma adega exclusiva para os vinhos de guarda, e no menu, entradas como o bombom de queijo brie – massa crocante envolta no queijo francês que ao partir derrete-se para a alegria dos vídeos instagramáveis. Além do brie, rosbife em generosas fatias com queijo e alho tostado, ou ainda o camarão na manteiga com ervas. Tudo num ambiente elegante entre vinhos e espumantes. Destaque especial para o prato do mês: um Entrecôte com fritas. E como esse clássico francês pede um molho secreto, o chef Farias preparou um especialíssimo, que aprendeu com outro alagoano que faz sucesso nas cozinhas estreladas, Jonatan Moreira, à base de fígado de galinha. Inacreditavelmente espetacular.

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Contudo, adorei conhecer uma padaria local que serve café em xícaras de vidro e pires de barro. Talheres com cabo de madeira e um ambiente sofisticado. A Grano padaria prova que a essência regional está inserida no bom gosto dos clientes mais exigentes da cidade. Destaque para o brioche feito com macaxeira, recheado com carne do sol e requeijão. Macio, cremoso, impecável. Foi na Grano também que provei o petit gateau de queijo com goiabada, pena que saiu do cardápio. Espero que o chef Francisco após esse meu apelo hoje retorne com essa sobremesa que fala por si só um pouco sobre as raízes culinárias de Alagoas.

Foto: Thiago Paes

Ainda em Maceió, mais uma vez no lindo e histórico bairro do Jaraguá. O charme dos casarões, que em sua maioria armazenavam sacas de açúcar, atualmente renascem com restaurantes descolados como o Brotto. Um casarão de 1907, em frente ao icônico prédio da associação comercial. No primeiro andar da casa, um terraço em frente a toda essa história. No menu, uma diversidade de pratos com múltiplas referências. De lascas e coco verde marinadas no limão e levemente apimentada – como um ceviche, assim como o capeletti artesanal recheado com gorgonzola e espuma de parmesão.

O toque ítalo-brasileiro, DNA do chef Thiago Brandão, que já possuiu outro restaurante exclusivamente italiano, agora atrai outras referências culinárias como a árabe-brasileira coxinha de babaganuche (berinjela) empanada com carvão ativado e ervas. Impecável! Cozinha que divide com a chef Denise Xavier. A novidade gastronômica é um presente para Maceió, e claro, um brilho constante no Jaraguá, lugar mais que especial da cidade.

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De sobremesa, provei os sabores afetivos da Le Brulé. O que esperar de um sensacional bolo de ameixa, ou de um muffin de canjica, ou ainda de um mini bolo vulcão de creme Brûlée? Ao mesmo tempo que é gostoso de provar, é simples e realmente cheio de afetos. Sempre falo por aqui que na gastronomia o simples é fundamental. A delicadeza das escolhas da chef Sandy fazem da Le Brulé uma referência em sobremesas na cidade. E sem dúvida um dos momentos mais acolhedores do dia. Sem falar na seleção de cafés, biscoitos à base de batata doce, croissants e por ai vai.

Influência das mulheres na gastronomia

As chefs mulheres fazem um trabalho incrível na gastronomia brasileira e consequentemente, na alagoana. Tenho pensado nisso, o quanto boleiras, doceiras, banqueteiras movimentam cozinhas das mais caseiras as mais sofisticadas, além disso, assinam eventos importantes.

Não sei se a culinária brasileira nasceu de um tacho com um doce de leite mineiro, de um bolo açucarado do Nordeste, de um brigadeiro paulista, duma cocada baiana, ou de uma tapioca quilombola, ou se ainda vai nascer na Amazônia… mas tenho certeza que essa gastronomia vem das mãos de mulheres cheias de afeto.

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Portanto, talvez esse seja o borogodó da nova cozinha alagoana: os toques regionais e cheios de afeto de chefes incríveis. Gosto assim!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.