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ESG e turismo – inovação ou caminho natural?

Entenda como o movimento ESG e a atividade turística estão interligados.

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Foto: Adobe Stock

Turismo: O negócio da felicidade é o título de um dos livros de Josep Chias, um dos mais interessantes que já li sobre turismo. Josep Chias, já em 1998, falava da relação entre turismo e felicidade, e como estes temas dialogavam e deveriam ser refletidos no marketing, afinal de contas, um dos motivos que fazem com que as pessoas viagem, é a busca por felicidade. Ele, um dos nomes mais relevantes do marketing turístico internacional e, no Brasil, responsável pela idealização do Plano Aquarela, um divisor de águas para o marketing turístico brasileiro.

De lá pra cá, vimos um crescente debate sobre turismo, e principalmente, sobre os impactos que a atividade pode causar, sendo a mesma por algumas vezes, a meu ver de forma equivocada, nomeada “indústria sem chaminés”. Penso ser um conceito inadequado, por mais que pautado em boas intenções, pois já vimos diversos exemplos em que a atividade turística, mal planejada, pode trazer mazelas tão devastadoras quanto qualquer outra atividade econômica, tais como impactos ambientais, excesso de demandas por serviços locais, questões de cunho social como aumento do risco de exploração infantojuvenil ou até mesmo, encarecimento de serviços como aluguel, especulação imobiliária, entre outros.

E claro, também são muitos os impactos positivos, como as oportunidades de gerar emprego e renda, iniciativas que contribuem para a promoção e valorização dos patrimônios natural e cultural, reconhecimento e ganho de auto estima e envolvimento para comunidades, em especial, grupos como artesãos, agricultores familiares, artistas locais, mestres do saber, povos e comunidades tradicionais, entre outros.

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Sustentabilidade e turismo

Ao longo dos anos, o tema de sustentabilidade, inicialmente pensado apenas sob o viés ambiental, debatido de forma cada vez mais madura, passou a incorporar também questões de ordem econômica e social. Ou seja, de forma simples, além de tratar de questões de respeito e cuidados ambientais, o conceito de sustentabilidade passou a compreender como envolver as comunidades e promover sua qualidade de vida, bem como, tratar da saúde financeira de empreendedores, instituições e trabalhadores.

Debate este que passa então a ter a participação de novos atores, como os próprios turistas, e, seja por consciência, seja por oportunidade, desperta atenção por demandas de políticas públicas específicas e na adoção de uma série de práticas pela iniciativa privada.

Se antes era comum o modelo privado de instalação de conglomerados em locais estratégicos, de forma que a comunidade local mal pudesse se posicionar, e basicamente, ficasse condicionada apenas à ocupação de cargos e postos de trabalho pontuais sem qualquer incentivo à desenvolvimento de carreiras, ou qualquer forma de capacitação local para formação contínua de mão de obra nos níveis operacionais, táticos e estratégicos, hoje, iniciativas como estas são cada vez mais combatidas, denunciadas, são mal vistas pelos potenciais turistas e causam impacto extremamente negativo à imagem dos destinos e sua governança.

O que são as ODS’s?

O debate em torno destes temas ganharam força após a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, e que teve como um de seus legados a elaboração da Agenda 21, proposta de desenvolvimento sustentável pautada em temas além do meio ambiente, trazendo também aspectos sociais e econômicos, que apresentava os Objetivos e Metas de Desenvolvimento do Milênio – ODM’s como o caminho a ser percorrido até 2015. Ações contínuas de acompanhamento foram realizadas, até que os ODM’s foram então substituídos pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS, que são o conteúdo da chamada Agenda 2030, liderada pela ONU.

Fonte: Nações Unidas Brasil

Ao observar os 17 ODS’s vemos que a atividade turística pode contribuir no alcance de vários deles, e de forma bastante direta, nos ODS 5, 8, 10, 11, 12, 13, 16 e 17. Um ponto que deve ser destacado é que, para compreender esta contribuição, é necessário mensurar os resultados dos projetos, iniciativas e programas que tratem dos assuntos. E para demonstrar que o setor turístico pode ser um vetor que contribui para a transformação que almeja-se, produção e inteligência de dados é fundamental, conforme relatório do Fórum Econômico Mundial que indica o “pensamento analítico” como uma das 10 habilidades a serem desenvolvidas para o futuro.

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Apenas à título de exemplo, podemos destacar as iniciativas em produção e inteligência de dados em curso no turismo, em especial, duas delas, a Rede Brasileira de Observatórios do Turismo, que integra as diversas iniciativas de pesquisas e troca de experiências entre observatórios de destinos turísticos pelo Brasil e o Portal de Dados da Embratur que consolida dados do turismo internacional brasileiro.

ESG

Assim, é possível constatar que temas que tratam diretamente sobre sustentabilidade, segurança, responsabilidade, mensuração, resultados, ODS, Agenda 2030, ou seja, vinculados a ESG, sempre permearam a atividade turística. ESG é a sigla, incorporada do idioma inglês, para Ambiental (Environment), Social (Social) e Governança (Governance) um movimento provocado pela ONU, por volta de 2004, aos principais presidentes de instituições financeiras em todo mundo, para que estas instituições também pudessem incentivar e contribuir para o desenvolvimento sustentável. Movimento este que foi incorporado especialmente pela iniciativa privada, que passou a incluir em seus relatórios de administração, análises de sucesso, comunicação, etc, os relatos, comprovados em dados, de suas práticas ESG.

ESG e turismo

Este movimento passou a ser incorporado por diversos setores e atividades econômicas, entre elas, a atividade turística. Ou seja, podemos dizer que temos a oportunidade de subir o nível. Um primeiro exemplo, tendo a questão ambiental e meios de hospedagem como referência, para além de ofertar ao hóspede a possibilidade de escolher trocar ou não as toalhas usadas durante a permanência no hotel, buscando redução do uso de água, detergente, energia elétrica utilizados no processo de lavagem, passaram a medir este impacto, comprovar e qualificar suas ações em ESG.

Uma segunda possibilidade, voltada para as questões de gênero no setor turístico em geral, para além de identificar o percentual de mulheres que trabalham nos empreendimentos e instituições turísticas e ampliar o número de vagas e postos de trabalho, qualificar uma prática ESG converge para reconhecer e reparar eventuais diferenças salariais e criar oportunidades de ocupação de postos de lideranças para mulheres em um setor, majoritariamente composto por mulheres, mas que, não encontra esta proporcionalidade em cargos de liderança. Este tem sido um debate capitaneado pelo movimento Mulheres do Turismo em Rede, que vem promovendo encontros, debates e trocas de experiências entre profissionais mulheres do setor turístico em todo o país.

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Os debates são necessários

Como todo tema recente, ainda em desenvolvimento e debate, o movimento ESG recebe também críticas. Em geral pelo fato de ter em seu nascedouro o vínculo com instituições financeiras, e no turismo, pelo fato de ser tema ainda bastante recente onde há a ressalva de ser incorporado sem as devidas reflexões.

Particularmente, entendo que todo debate, troca, conflito, são oportunidades de amadurecimento e avanço para o setor, e por consequência, para a sociedade. Porém, tendo a refletir que, mesmo que em um primeiro momento, o interesse possa estar voltado ao marketing e promoção seja da marca, seja da instituição, a essência do movimento ESG, e seu desdobramento no turismo, se configura como uma espécie de evolução de ações, práticas, conceitos, movimentos que se originaram há décadas. Movimentos que, no final das contas, buscam o que Josep Chias já defendia, turismo é o negócio da felicidade.

Me permito apenas a ousadia de ampliar esta percepção para dizer que sim, o turismo é o negócio da felicidade, não apenas para o turista, mas também para o gestor público, para representantes de instituições do terceiro setor, para o empreendedor para o cidadão.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.