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Turismo e Inovação

Quem quer ser um turismólogo? – parte II

Conheça as individualidades e semelhanças entre os profissionais que escolheram o turismo como profissão.

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Foto: freepic.diller/ freepik

No último texto, falamos um pouco sobre a complexidade e desafios para a formação profissional em turismo e como este ponto é crucial para o desenvolvimento e qualificação dos destinos turísticos, experiências ofertadas e claro, geração de negócios e oportunidade de trabalho.

Ao refletir sobre os temas e compartilhar por aqui, tive alguns retornos sobre a questão, e, como acordado anteriormente, este espaço é também de colaboração e troca. Por esta razão, trago um pouco do que outros colegas de profissão, dos mais diferentes perfis, dividiram comigo após a leitura do texto.

Depoimentos de turismólogos

“Estudar turismo foi algo natural, desde criança eu já me interessava por conhecer novos costumes, culturas e lugares e saber o que motivava as pessoas a viajar. Durante a formação (concluí o bacharelado em 2002), sentia falta de trazer esses questionamentos à sala de aula, uma abordagem mais ampla da atividade e suas interfaces com outros setores da economia e da sociedade. Coisas que até hoje busco, mas que o tempo de atuação na área tem me ajudado a compreender melhor”. Rodrigo Ramos – 25 anos de profissão – Gestor de Projetos em Turismo

“A atuação do profissional de turismo – turismólogo ainda é pouco reconhecida no Brasil. Acredito que o grande desafio é o país entender a economia do turismo, o quanto a atividade pode contribuir no desenvolvimento local e nacional. Como professora atuante em áreas relacionadas ao turismo, compreendo que o profissional desse setor deve estar preparado para trabalhar com um olhar diferenciado captando o potencial dos ativos locais e induzindo a atividade turística.” Ana Cristina Costa – 20 anos de profissão – Professora

“Escolhi a área de Turismo para me especializar já que, desde aquela época, o Turismo é a saída para um país com riquezas naturais, culturais e arquitetônicas. A famosa indústria sem chaminé! Essa visão me levou a começar o bacharelado que tinha duração de quatro anos e era voltado para administração e gestão em agências de viagens, hotelaria e órgãos oficiais. Logo no início do curso me apaixonei e desde então trabalhei em agências de viagens, central de reservas de hotéis e finalmente, entrei para BELOTUR, em 88, onde pude desenvolver minha carreira chegando à diretora de Promoção e Informação Turística. Com muita tristeza assisti durante esses anos os cursos tendo sua grade curricular diminuída e passando para tecnólogo. Sinto no meu dia a dia de trabalho a necessidade de um curso superior com grade robusta com disciplinas como: inovação, tecnologia, iniciação à pesquisa, estatística, projetos, administração, gestão, história da arte, direito entre outras, o que faz falta para o maior desenvolvimento do turismo. A cadeia produtiva é enorme e ávida de mão de obra qualificada. Amo minha profissão e sinto o quanto mais desenvolvido estaríamos hoje com profissionais bem qualificados.” Ana Paula Azevedo – 35 anos de profissão – Assessora de Promoção Turística da Belotur – Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte

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“Na verdade entre as profissões que pensei em ter a de Turismo de fato foi a mais gostosa e desafiadora, pois no momento em que prestei vestibular somente existia em Minas a formação da antiga escola de Turismo que tinha se tornado o curso de Turismo das Faculdades Newton Paiva e um outro curso na PUC Minas de Poços de Caldas. O meu processo de formação foi super intenso e maravilhoso, pois na época tínhamos uma grande oferta de estágios e pude participar de grande parte deles voltados a diferentes tipos de atuação. O fantástico de ter tido uma formação nessa área, foi a possibilidade de estudar desde Antropologia até as disciplinas de exatas como Matemática Financeira e Economia. Porém os pontos a serem melhorados em minha opinião estão relacionados ao aprofundamento dos temas como também ter mais professores Turismólogos. Além de ser Produtora Cultural, sempre estive envolvida com planejamento e desenvolvimento de territórios a partir das paisagens, suas comunidades, impactos, conservação e etc. Retornei para o estado do Maranhão há seis anos onde estou como líder de uma política pública de Inovação que visa o destaque para a Inovação Social e além disso sou idealizadora e coordenadora de dois programas de Educação Patrimonial para o Centro Histórico de São Luís – Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Adoro ser, pensar e agir como uma Turismóloga bem mineira. Gabriela Barros Rodrigues – 20 anos de profissão – Produtora Cultural e Gestora Pública

“Eu escolhi fazer a faculdade de turismo porque havia em mim um grande desejo em poder explorar novos lugares e ter mobilidade, utilizando para isso o conhecimento técnico neste setor. Do que absorvi na época da universidade (me formei em 2003 e o curso foi prazeroso de ser feito) considero que muito pouco pude utilizar na profissão. A vida real nesta área era outra. Atualmente então, onde as tecnologias tomaram conta dos processos e serviços turísticos, há uma nova ótica, linguagem e ferramental sendo utilizado. A profissão “turismólogo” ainda é para mim, algo bastante abstrato e desprivilegiado em se tratando de uma profissão e sua demanda no mercado de trabalho, na medida em que outros profissionais, de diversas outras formações, ocupam também esse espaço no mercado de trabalho. Mas não posso me queixar, porque tive e tenho até hoje, experiências muito bacanas trabalhando nesta área com gerenciamento de pousadas, consultorias de gestão hoteleira, dentre outros.” Ernesto Mata Machado – 20 anos de profissão. Consultor em gestão de pousadas.

Semelhanças entre os turismólogos

Cada um dos profissionais acima trilhou o caminho à seu modo, com altos e baixos. Se podemos destacar um ponto em comum, seria a clareza com que enxergam a profissão, compreendendo seus percalços e pontos altos, mas sem se esquecerem da essência da escolha feita: fazer da própria curiosidade, e vontade de conhecer o diferente, oportunidade de trabalho, sustento, satisfação e ainda, ferramenta de transformação. Ou seja, partindo da curiosidade humana em descobrir lugares, cheiros, sabores, paisagens, culturas, modos de vida, pessoas… promover o desenvolvimento territorial a partir das viagens.

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Arrisco dizer que, se abordar qualquer pessoa que busque se qualificar para trabalhar com turismo hoje, provavelmente a essência que desperta a vontade pela profissão será a mesma indicada neste texto. Porém, acredito que, mais do que promover o desenvolvimento territorial a partir das viagens, acrescentará ao tema isso um outro olhar para os resultados do trabalho e novos questionamentos quanto à forma com que se dará este desenvolvimento. Temas como tecnologia e novas ferramentas, novos modelos de negócios e a geração de conteúdo e informação de maneira desenfreada, mas também, sustentabilidade, diversidade, inclusão. Temas estes que nem sempre serão prazerosos, de fácil condução, e sim, polêmicos, conflituosos, mas necessários. Por vezes trarão certa turbulência, debate e reflexão, cenário comum a tudo que envolve também uma certa paixão.

Turismo sempre despertará um certo encantamento, uma perspectiva positiva em geral, já me deparei com alguns textos que indicam a atividade turística como a “indústria da felicidade”, seja para quem está começando ou para quem já vem trilhando este caminho, seja para o próprio turista. Minha compreensão sobre felicidade gira em torno de uma análise em que a felicidade não é um objetivo ou um ponto final em que posteriormente, nada mais existe ou se espera. Felicidade não tem condicionante: “vou ser feliz quando me formar”, “vou ser feliz quando conhecer todos os lugares que desejo”. Entendo felicidade como uma escolha diária e como um olhar mais cuidadoso, e gentil, para lidar com os acontecimentos, e emoções, rotineiras.

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O futuro é agora

Fazendo um breve paralelo à profissão de turismólogo, compreendo que se indicarmos condicionantes como: “serei feliz no turismo quando a profissão for regulamentada”, “serei feliz no turismo quando o setor for compreendido como estratégico”, “serei feliz no turismo quando estiver com o trabalho dos sonhos”, teremos motivos diários para frustração. Nem todos os dias serão felizes, nem todas as atividades e ações em torno da profissão serão recompensadoras, nem todos os destinos turísticos trarão uma experiência excepcional. Sempre haverá desafios, contratempos, necessidades de mudança e evolução, o que sempre causa desconforto, receio, medo. Mas são exatamente estas mudanças e renovação que trazem o sentimento de ser parte de algo para além de nós mesmos. Ou seja, assim como acredito em uma vida feliz, mesmo que não esteja feliz todos os dias, acredito que ser turismóloga é uma escolha diária que me deixa feliz, mesmo que não fique feliz todos os dias. Afinal de contas, tratar felicidade, para além do senso comum, também é uma forma de inovação.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.